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Gonçalo Oliveira

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Celebrar e reflectir.

Nove anos de Rimas e Batidas: a revolução pode voltar a ser uma canção

O dia é de festa, mas os tempos são de reflexão. Há 9 anos, o Rimas e Batidas inaugurava este seu cantinho digital e o quadro social era bem diferente. Há que salientar o salto qualitativo (e também quantitativo) que a música portuguesa deu durante este período, mas não podemos ignorar o quão divididos estamos neste momento — e neste aspecto, Portugal não é caso isolado, mas um reflexo da tensão que se vive um pouco por todo o globo.

Enquanto revista digital de música, o nosso papel nunca será o de escrever com foco na situação política ou dos conflitos que se vão manifestando dentro e fora de portas. Mas podemos — e devemos — sempre procurar tentar entender como estes assuntos se relacionam com a cultura de cada país, em especial o nosso. E é por isso que, neste último ano, esses têm sido temas frequentemente debatidos por cá, tanto via conversas informais entre as diferentes vozes da nossa redacção, como pelas peças que por aqui têm sido publicadas, umas vezes abordados de forma mais leviana, outras indo mais a fundo na matéria. Há exemplos que vão desde uma longa reflexão em torno da polémica situação do STOP e da cultura palestina, que se encontra ameaçada no actual cenário de guerra, à importância de Sara Tavares na emancipação da mulher negra na indústria fonográfica portuguesa, passando pelos discursos politicamente conscientes em entrevistas com gente como La Família Gitana, Slow J, Nástio Mosquito, Angel Bat Dawid, Aline Frazão, Mary Ocher, Jason Moran, Contour, Nihiloxica, Silk Nobre, ou, mais recentemente, Prétu, Bateu Matou e Luiz Caracol.

Esta vertente do nosso trabalho vai sendo feita, também, conforme os discursos que são colocados em prática na praça pelos diferentes agentes da cultura, seja através da letra de uma canção ou da postura adoptada publicamente perante um determinado tema do quotidiano. E olhando mais concretamente para o que se passa no nosso país, especialmente agora que estamos a dias de celebrar o 50º aniversário do 25 de Abril, a verdade é que parece que ainda existe um certo receio — ou desconforto — em fazer intervenção política e social. Analisando a pintura no seu todo, chega a dar a sensação de que estamos todos a remar para o mesmo lado, mas muitas das vezes em “silêncio”, sem pressionar a “ferida” com demasiada força com medo de a abrir e a expor em demasia.

Mais do que nunca, Portugal precisa que a música volte a ser um catalisador para a reflexão. Foi assim em 1974 e é necessário que o seja de novo já hoje. Há uma discrepância muito grande entre aquilo que é o produto artístico criado unicamente com o propósito de entreter e aquele que desafia o consumidor a questionar-se sobre o seu próprio papel na sociedade. É importante voltar a fazer das vozes e instrumentos armas, reunir e informar as massas, pegar nos cravos e sair à rua. Nós estamos deste lado dispostos a dar cobertura à nova revolução sonora que, cremos, pode estar para vir. Venham mais 9!


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