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Texto: ReB Team
Fotografia: Alexander Richter
Publicado a: 29/09/2023

Banhos de música.

Sexta-feira farta: novos trabalhos de Armand Hammer, Nayr Faquirá, Jorja Smith, Kaps ou Sven Wunder

Texto: ReB Team
Fotografia: Alexander Richter
Publicado a: 29/09/2023

Lá fora o Verão teima em não ir embora, mas é dentro do escritório que nos banhamos, não de sol nem mar, mas sim de ondas sonoras. Hoje é um final de semana “daqueles”, em que os lançamentos parecem vir de todos os lados, uns atrás dos outros, não nos permitindo ter mãos a medir para tentar dissecar toda esta catrefada de estímulos auditivos.

Portugal, então, está particularmente activo: se já por aqui tínhamos destacado o mais recente álbum de Filipe Sambado através de uma entrevista, ainda nos propomos a discorrer algumas linhas sobre mais cinco edições nacionais, que neste caso são assinadas por Nayr Faquirá, Kaps, Expresso Transatlântico, Maria e PAUS. Mas não pensem que a coisa fica por aqui: tivessem os dias mais do que 24 horas e provavelmente também teríamos tempo para analisar com mais detalhe o que nos chegou por intermédio de Marianne (Mémoires), SOPHIA (MELANCHOLIA), Navalha (Invencível), Inês Marques Lucas (Horas Mortas), Stereossauro (Tristana Remixed), Brisa (Casulo), Salvador Sobral (TIMBRE), Bia Maria & Jasmim (Campo/Cidade) e The Legendary Tigerman (ZEITGEIST).

No plano internacional, já se sabe, a “fruta” é sempre muita. Armand Hammer, Jorja Smith, Sven Wunder, Lil Wayne e Rome Streetz deram origem às peças de maior calibre que surgem penduradas nesta árvore. Mas, à espera de serem colhidas, estão também obras de Maxo (Debbie’s Son), Saya Gray (ANNIE, PICK A FLOWER.. (MY HOUSE)), Oneohtrix Point Never (Again), Nihiloxica (Source of Denial), Animal Collective (Isn’t It Now?), Tyga & YG (Hit Me When U Leave The Klub: The Playlist), Cleo Sol (Gold), CMG The Label (Gangsta Art 2), MJ Nebreda (Arepa Mixtape), Islet (Soft Fascination), hemlocke springs (going…going…GONE!), Savage Ga$p & KAMAARA (in my restless dreams, i see you), Blonde Redhead (Sit Down for Dinner) e Jlin (Perspective).


[Armand Hammer] We Buy Diabetic Test Strips

À luz dos dias que correm, billy woods e E L U C I D já devem ser dois dos nomes na ponta da língua de qualquer hip hop head que se diga preocupado com vanguardismo sónico e forte componente lírica. E para deleite geral da comunidade, ambos têm não apenas uma vasta obra a solo, como ainda vão coincidindo com frequência no universo Armand Hammer, um dos projectos que mais tem feito por dobrar os limites daquilo que é tipo como música rap. Desta vez sob a alçada da Fat Possum Records, a dupla volta a causar estragos com este novo We Buy Diabetic Test Strips, que cruza letras apocalípticas com batidas desconcertantes ao longo de 15 faixas, para as quais contaram ainda com um agradável leque de colaboradores — JPEGMAFIA, El-P, Pink Siifu, DJ Haram e Moor Mother são os nomes que mais saltam à vista.


[Nayr Faquirá] Quente

Nayr Faquirá pode estar “Cansada” ou “Sem Rumo”, por vezes “Quente” ou a transbordar de “Amor”, mas praticamente tudo aquilo que faz “Tá Doce”, mesmo quando se encontra a ser alvo de julgamentos, como aponta a terceira faixa do seu novo EP. Musicalmente, o sucessor de Misturas é tão plural quanto os estados de espírito que levaram a artista de Sintra a assinar as seis letras que hoje compila num mesmo projecto, a maior parte delas pertencentes a canções que vinham a ser reveladas enquanto singles ao longo dos últimos meses. Quente é um festim de cores que vai do r&b ao tarraxo e mais uma importante pedra na multicultural calçada musical portuguesa.


[Jorja Smith] falling of flying

Silêncio! Não que se vá cantar o fado, mas porque se vão escutar faixas novas de Jorja Smith lançadas sob o mote de falling of flying. A cantora inglesa teve meio mundo rendido à sua estreia em 2018, com o LP Lost & Found, continuou a somar pontos com o curta-duração Be Right Back e agora regressa a um formato discográfico mais ambicioso com um total de 16 temas, 4 deles que já haviam sido revelados enquanto avanços para o projecto que vem selado pela FAMM. Se o ecletismo dentro da estética r&b tem uma alcunha, ela pode muito bem ser o título deste trabalho, falling of flying, já que aqui surgem reunidas várias linguagens sonoras, das cadências caribenhas à electrónica e até mesmo ao indie rock.


[Kaps] Marginal

Paulo Pena disse e falou quando deu conta da fasquia estabelecida por Kaps dentro da Mad Spit Records, que em apenas um lançamento, Kambo, alcançou um estatuto suficientemente grande para atrair as atenções de boa parte do game. Entre os mirones estava a Superbad., cujas cores são agora envergadas no equipamento que assenta no corpo do rapper de Paço de Arcos que acaba de se estrear com um álbum assumidamente Marginal. Rimas não aconselháveis às mentes mais sensíveis plenas de conteúdo explicito e participações como as de Holly Hood, No Money e Xis são fortes argumentos para apertar no play e deixarem-se ficar por um bom bocado.


[Expresso Transatlântico] Ressaca Bailada

Jogámos na antecipação quando, em Julho passado, desafiámos os Expresso Transatlântico a sentarem-se connosco à conversa, já na tentativa de percebermos em que fase o projecto de Gaspar Varela, Sebastião Varela e Rafael Matos se encontrava, visto à data estarem a preparar o lançamento do primeiro registo de longa-duração, que já contava com duas das suas canções na rua, “Barquinha” (com Conan Osiris) e “Bombália”. Entre tradicionalismos portugueses e influências captadas de outras latitudes, o trio revela num comunicado que este é um disco mais dançável que o anterior e que quis, acima de tudo, esculpir uma obra que lhes permitisse evadir do quotidiano. Ressaca Bailada compreende um total de 9 trilhas sonoras e vai ser apresentado ao vivo em Lisboa (12 de Outubro, no B.Leza) e no Porto (14 de Outubro, no Plano B).


[Maria] Isto nem é uma beattape, Vol. 02

São quase 45 minutos seguidos de música nova, um feito inédito nas contas de Maria, produtor de mão-cheia que integra a turma da Monster Jinx mas cujo número de lançamentos ainda não condiz com o talento que lhe corre nas veias. Isto nem é uma beattape, Vol. 02 é, por isso, uma estreia no formato de LP e tem uma duração que oferece espaço de manobra mais do que suficiente para que David Almeida possa deambular pelo imenso campo que é a música electrónica, das ambiências mais contemplativas às cadências que nos puxam para a dança. Hoje a partir das 19h, Maria apresenta este seu trabalho na Collect, em Lisboa, onde se sentará também à conversa com o director do Rimas e Batidas, Rui Miguel Abreu.


[PAUS] PAUS e o CAOS

PAUS sempre rimou com caos, mas essa ligação é agora mais assumida do que nunca ao sexto LP da banda de rock matemático lisboeta. O quarteto da “bateria siamesa, do teclado que te faz sentir cenas e do baixo maior que a tua mãe,” formado por Hélio Morais, Fábio Jevelim, Makoto Yagyu e Quim Albergaria, juntou o CAOS, fórmula que compreende Iúri Oliveira, João Cabrita e Thomas Attar, à sua equação musical e deu azo à feitura de um novo álbum formado por 10 frenéticas faixas, que têm tanto de espiritual como de mecânico numa conjugação perfeita entre o cerebral e o que apela ao movimento corporal.


[Sven Wunder] Late Again

É pela mão da Piano Piano que nos chega o mais recente registo de Sven Wunder. Prometemos não querer insinuar nada, mas o título Late Again acaba por fazer justiça ao que sentimos durante os dois anos que separam este trabalho do antecessor Natura Morta. Na cabeça do compositor sueco, o propósito na escolha do nome teve, certamente, outro propósito: dono de um catálogo apreciado quer por amantes do jazz, como do hip hop ou da cena rock mais progressiva, a sua música tem sempre aquele sabor a final de dia e encaixa que nem uma luva numa possível banda sonora para nos despedirmos do sol e dizer “olá” à lua e às estrelas.


[Lil Wayne] Tha Fix Before tha VI

Por detrás de um grande homem há sempre uma grande mulher — e vice-versa. No caso da música, convém que antes de um muito aguardado disco esteja um aperitivo que lhe faça justiça. Terá sido certamente nisso que pensou Lil Wayne na antecâmara da edição do seu Tha Carter VI, mantendo os fãs entretidos com as duas mãos-cheias de temas compiladas neste Tha Fix Before tha VI. No seu registo característico, tão descomprometido como liricamente competente, Weezy atira-se a instrumentais de Murda Beatz, Cool N Dre, Wheezy ou Swede (da 808 Mafia) sem grande vontade de dividir o microfone com outros MCs.


[Rome Streetz] Noise Kandy 5

Degrau a degrau. É assim que se escala tudo nesta vida. Rome Streetz tem vindo a alimentar as ruas de bom rap ao longo da última década e o seu reconhecimento vai sendo cada vez maior, estando neste momento num patamar já algo invejável. Da estreia pela Griselda Records em 2022, com Kiss The Ring, às colaborações com DJ Muggs, Boldy James ou até mesmo DJ Premier, há muitas notas a tirar do rapper que representa as cores de Nova Iorque. No caminho para este Noise Kandy 5, contracenou até com Joey Bada$$ em “Fire At Ya Idle Mind”, que integra o alinhamento do longa-duração hoje selado pela The Influenyce Enterprise. A consumir com precaução e tendo cuidado com a sobredosagem, pois o corte é quase nulo.

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