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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 26/09/2023

De 18/09/2023 a 24/09/2023.

Rap PT — Dicas da Semana #154

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 26/09/2023

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.


[Crate Diggs & Raul Muta] “Frio”

A parceria não é de agora e já tem precedente discográfico. Foi em “Marginal”, tema de And All That Jazz — trabalho de apresentação dos Soul Providers — que descobrimos o exotismo de Raul Muta e o toque especial de Crate Diggs. Volvidos quatro anos, o rapper angolano criado no Miratejo e o produtor almadense radicado no Seixal voltam a cruzar-se, desta vez para um pacote de quatro faixas que resultou em Brilho Divino. E “Frio” é, dessas quatro, a que melhor traduz o calor desta dupla.


[Syer] “Ninguém Está Salvo”

As palavras do falecido José Hermano Saraiva, recuperadas em “Ninguém Está Salvo”, são paradigmáticas de toda a ambiência cultivada em O Velho Trovador. No primeiro capítulo de uma trilogia em desenvolvimento, Syer propõe-se a narrar “histórias de amor, de adversidade, fantasia e de superação envolvidas num ambiente medieval”. E, ao que tudo indica, esta série de contos conta com um só protagonista numa epopeia solitária.


[Xis] “Quality”

Há selos editoriais que representam uma linha inequívoca. E, mesmo que Kaps já não seja a cara desta Mad Spit Records, a marca que deixou com projectos como Este Tipo De Nuvens e Kambo, prevalece como registo de ordem. Prova disso é a “Quality” de Xis, rapper que assume esse testemunho e, aqui, carrega a tónica numa vogal em especial, como se o próprio título da faixa fosse o mote para todo o seu esquema rimático — um dos traços inconfundíveis desta escola.


[Subtil] “Ponto Cruz”

A thumbnail antecipa o conteúdo explícito: “Ponto Cruz” é, alerta Subtil à partida, rap para maiores de idade. Mas a verdade é que o conteúdo não é assim tão explícito, pelo menos no que diz respeito às matérias sobre as quais se acautela com este “parental advisory”. Quando muito, o aviso à navegação mais serve para o próprio autor, que, ele sim, está claramente — e já há algum tempo — na idade adulta do seu percurso artístico. Resta-nos perceber quão bem vai envelhecer.


[Madkutz] “Origens” feat. Phedilson, Bónus, Chullage e Deau

“Origens” pode bem ser o génesis de um novo universo de Madkutz. Não seria de somenos, aliás. É que juntar  Phedilson, Bónus, Chullage e Deau numa posse cut não só é obra, como a promete a uma escala maior. Já lá vão quase dois anos desde o último longa-duração inteiramente composto pelo DJ e produtor — Herança, com Ace —, e este poderá ser um primeiro indício de um novo trabalho de produção executiva. Ou então é “apenas” um exercício solto de rimas sobre batidas, com quatro emcees a darem provas (como se precisassem…) do seu cabedal lírico — e, nesse âmbito, Deau foi o mais “guloso”.


[Xina RBL] “Caminho”

Aquando da edição de Turbuléncia, Tchapo descrevia-nos Xina RBL — com quem contracena em “Kuzaz Muda”, a par de Damz — como “aquele gajo melódico mas que também tem muita caneta”. E não podia ser caracterização mais certeira. Esse tem sido o seu “Caminho” desde sempre, em que, single single, se tem destacado como uma das vozes mais diferenciadoras do panorama (por vezes repetitivo) do rap cantado em crioulo.


[Mini God] “Coraçon Congelado”

E se é de vozes diferenciadoras no panorama do rap crioulo que falamos, o nome de Mini God tem de vir, necessariamente, à baila. Nem de propósito, o rapper de Oeiras voltou às novidades através de “Coraçon Congelado”, um tema que serve de desabafo em relação à posição em que o MC se encontra actualmente: forçado a emigrar, sem alternativa, e tudo por decisões incorrectas que, feitas no passado, o castigam no presente, segundo assume. Erros dele, má fortuna, amor congelado.


[SHOCKS] “Kantu Bez”

Aproveitando novamente a premissa já acima explorada, há que assinalar o caso de SHOCKS a partir de outro ângulo: desde que se notabilizou com “Tardi Di Maz”, o MC tem insistido na estreita linha do drill (musicalmente falando, claro), o que lhe permitiu sedimentar uma identidade, é certo, mas dificultado destacar-se dos demais pela diferença. Agora, isso valia até “24 Horas”. Porque já em “PPT”, mas sobretudo em “Kantu Bez”, parece ter havido uma subtil mudança de direcção que o tem posto na linha da frente de artistas destas andanças que mais queremos ver correr.


[L-ALI & Beiro] “Tudo Eu”

Das batidas dançantes de Lunn ao jersey club de Beiro foi um pulo. Ainda nem há um par de meses falámos com L-ALI sobre o seu mais recente trabalho, Balanço, e já o rapper de Alfama partiu para outra. “Tudo Eu” serviu, aliás, de faixa antecipatória de um concerto que haveria de dar em nome próprio no Portas do Mar, pequeno festival organizado no Campo das Cebolas, em Lisboa, no último fim-de-semana. E, pelo que pudemos ver já em forma de rescaldo, o rapper de Alfama protagonizou uma reunião de artistas amigos a fazer lembrar o reencontro da turma Odd Future.


[TOM] “Fome” feat. Regula

Que ele está com fome não haja dúvidas absolutamente nenhumas. Os últimos singles não o escondem, e a cada novo lançamento sente-se na voz de TOM uma vontade insaciável de apresentar novo trabalho e dar a conhecer a evolução. Desta vez ao lado do pecador capital Don Gula, o rapper e produtor da Margem Sul destapa o véu a mais uma faixa no seu próximo longa-duração, Uma Máquina Minha, seguramente um dos álbuns mais aguardados do hip hop nacional — se possível, ainda para este ano. Depois desse, resta-nos esperar pelo disco prometido por Sam The Kid, em que TOM deixará as suas máquinas de parte para se concentrar nas rimas, sob a produção executiva de Samuel Mira.

(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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