Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Nex Supremo] “Hard Times”
Crescer é, entre tantas outras coisas, viver o Natal como época predominantemente nostálgica que acaba por se revelar. Mas para quem a infância não foi propriamente um “conto de fadas”, essa melancolia ganha outros contornos, como os que Nex Supremo e Lee OFG recordam em “Hard Times” — faixa da mixtape FLOW do primeiro, lançada em Agosto deste ano.
[Fínix MG] “Tu és o meu par”
Por esta altura são raras as vezes em que damos de caras com nova música de Fínix MG, ele que depois de editar Robert Johnson em 2020 só havia lançado dois temas até à data. A “Survivors” — single de Osémio Boémio que conta, também, com Nicholas — e “King da Zona” — faixa lançada já em 2024 —, sucede “Tu és o meu par”, tema que volta a pôr o nome do rapper da extinta Think Music sob o radar das novidades no hip hop nacional. Ainda para mais, num registo inusitado para o reportório do autor de Níveis.
[Maior Major] “Sopa”
Ouvimo-lo pela primeira vez em “FHL” e desde então temos ansiado por mais material novo da parte de Maior Major. Esse seria, aliás, o tema cuja sigla viria a dar nome ao seu primeiro projecto a solo. Fuso Horário Luso não chegou, porém, a ser editado, mas o rapper de Marco de Canaveses, ainda que por por poucas vezes, tem vindo a expor o seu talento num conjunto de esporádicas faixas soltas. “Sopa” chega agora como novo lembrete do que o MC pode trazer para mesa. E desta, comemo-la toda — mesmo fazendo cara feia.
[Subtil] “Impulso Anômalo”
Para quem o acompanha religiosamente — e não são poucos —, Subtil representa, em certa medida, uma voz da razão. Da sua, pelo menos. Afinal, é sob o seu ponto de vista que o rapper algarvio invariavelmente faz do microfone instrumento de reflexão, quase sempre sobre a sua relação consigo próprio e/ou terceiros. Se esse registo por vezes peca pela exaustão, por outro lado Subtil tem o condão de soar sempre fresco. É sobretudo isso que nos faz voltar à sua música de expectativas renovadas.
[Plutonio] “Carta de Alforria”
A 28 de Junho, lançou “28 Fev 2025 (MEO Arena)” como anúncio da sua estreia a solo na maior sala de espectáculos do país. Entretanto, estreou Carta de Alforria — disco que bateu uma série de recordes nas plataformas de streaming —, viu a lotação desse concerto esgotar, abriu uma segunda data e repetiu o feito do homólogo Slow J ao esgotar dois MEO Arena de uma só vez. E, para o assinalar, lançou o tema que dá nome ao disco em formato audiovisual em modo consagração, faixa que, à semelhança de “Sacrifício” em Sacrifício: Sangue, Lágrimas, Suor, fecha o alinhamento do disco sob a produção de Sam The Kid — ele que figura neste vídeo de proporções épicas protagonizado por Plutonio.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)