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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/04/2024

A banda da Nova Zelândia actua no próximo Ageas Cooljazz.

Fat Freddy’s Drop: “Quando estamos em tour, a música de cada sítio influencia-nos e alimenta-nos”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/04/2024

Os neo-zelandeses Fat Freddy’s Drop estão de volta a Portugal para um concerto no Ageas Cooljazz. A banda actua no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais, a 30 de Julho, num dia em que já poderão antecipar, de algum modo, o novo álbum que estão a preparar e que deverá ser lançado no final do ano.

Conhecidos por fundirem diversos géneros desde o jazz à electrónica, passando pelo reggae, o rock e a soul os Fat Freddy’s Drop sempre primaram pelas suas actuações enérgicas recheadas de momentos improvisados, de jam sessions entre os músicos.

Para antecipar o concerto no Ageas Cooljazz e o novo álbum da banda, o Rimas e Batidas entrevistou de um lado do planeta para o outro, via videochamada o saxofonista Scott Towers, também conhecido como Chopper Reedz. Em Cascais, vão tocar depois dos Expresso Transatlântico, numa noite para a qual os bilhetes estão à venda entre os 30€ e os 45€.



Olá, Scott. Dirias que aquilo que continua a mover os Fat Freddy’s Drop é a música improvisada e a experiência ao vivo, dos concertos?

Essa é uma boa pergunta. Isto é aquilo que nós fazemos. Comprometemo-nos com este caminho há muito tempo, fazer da música a nossa vida. E aquilo que nos faz continuar a rolar, de luzes acesas na indústria, acho que é o amor que temos pela experiência de tocar ao vivo. Isso é pertinente neste momento, porque estamos a meio da gravação de um novo disco. E o processo de gravações pode ser bastante desafiante e difícil para nós. Nós trabalhamos de forma colaborativa. E gostamos de descrever o processo como descascar uma cebola: as partes boas estão lá no centro, mas tens de retirar as outras camadas para chegares lá. Por isso, leva tempo. Mas aquilo que está na nossa mente a tempo inteiro é o facto de que vamos tocar para um público de um milhão de pessoas aquela canção que estamos a compor e a gravar. E vamos reinterpretá-la e desenvolvê-la além disto. Como dizias, vamos improvisar e explorá-la um pouco mais no contexto da música ao vivo.

E o processo inverso, de transformar um momento de improvisação ou uma jam session numa canção para um álbum, imagino que também possa ser complexo. Vocês têm alguma fórmula, nesse sentido? Sentem, no estúdio, a liberdade para desenvolverem a base que vem dos concertos? Este álbum em particular tem um processo diferente?

Bem, todos os álbuns que gravámos tiveram o seu próprio processo, na verdade. Alguns começaram, de facto, com o processo de basicamente levarmos a nossa actuação para dentro do estúdio e tentarmos captar coisas. Neste caso, foi ligeiramente diferente, porque tentámos começar com ideias novas com bases pequenas ou com fantasmas de antigos temas que podem ter surgido num jam há anos e anos, e desenvolvemos essas demos que, de facto, nunca tinham sido tocadas, para as moldar para uma forma para a qual depois as poderíamos compor ou gravar. Por isso, foi um processo um pouco diferente e, de algumas maneiras, um pouco mais difícil. Pensando no que estamos a gravar, acho que só temos uma canção no novo álbum que já tocámos ao vivo. E há outra em que já tocámos uma versão ao vivo, mas esta versão em que estamos a trabalhar é tão diferente que poderia ser outra canção. E acho que a mudança dos processos é uma das coisas que também continuam a tornar isto interessante, porque trazem coisas novas. E traz ao de cima as diferentes habilidades que as pessoas têm. Por exemplo, uma pessoa pode ser muito boa a orquestrar os arranjos e a fluidez de uma canção e não ser tão forte nos detalhes. Essa é a parte da produção. Ou alguém pode ter ideias óptimas no que toca a mudanças de acordes, e agora pode explorá-lo um pouco mais, porque a canção ainda não teve uma vida perante o público. Quando tiveram, sentes-te um bocadinho preso à ideia que já existia. No caso destes temas, sinto que ainda estamos a descobrir por onde eles vão. Ainda estamos a explorar as tonalidades e os sons. Por isso, é muito entusiasmante para nós. Até porque existem certamente desafios e estamos a tentar progredir em todos os aspectos, das letras à música, passando pela produção. Isso pode levar a uns quantos solavancos, a alguns desacordos pelo caminho.

Claro. E com tantas possibilidades, sentem que, enquanto banda, é de alguma forma simples e fácil perceberem quando é que uma canção está terminada?

Essa pergunta é muito boa. Lembro-me de ler uma entrevista com alguém, já não me recordo de quem, mas era um produtor de house de Detroit. E a lógica dele é que ele nunca terminava nada. Porque, se terminares um tema, se colocares toda a tua energia para o terminares, parece que perdeste a energia inicial da ideia. E isso é o mais importante. Às vezes temos a tendência para continuar a acrescentar coisas. Mas temos de parar, descansar e pensar: “Isto soa bem.” Claro que poderíamos adicionar mais coisas ou incluir mais uma secção, mas já está uma bela peça musical. E à medida que fomos escrevendo e tocando ao longo dos anos, vamos percebendo melhor isso. E nem todas precisam de ser finalizadas da mesma maneira.

E como é que descreverias este novo álbum, até comparado com os anteriores?

É bastante diverso, por acaso. Há muitas canções que me parecem mood pieces. Têm uma sonoridade e um cenário específico, e a música e as letras meio que preenchem isso e complementam essa cor. E muitas das estruturas são bastante simples. Mas acho que ao fazeres isso, dá-te uma palete interessante de onde podes escolher, porque estás a tentar que algo soe mais azul ou mais temperamental, ou isto ou aquilo. Dito isto, também há um par de coisas muito enriquecedoras. Os arranjos vocais que o Dallas [Tamaira] fez evocam esse passado que tanto nos influenciou. Soul de Detroit, a música da Motown ou a antiga música jamaicana, onde eles tinham essa tradição vocal de grupo, com quatro ou cinco cantores. Então ele tornou-se a si próprio numa espécie de grupo vocal, e fez estes arranjos grandes, ricos e fartos, o que é muito fixe.

E já vão apresentar algumas destas novas canções quando vierem a Portugal em Julho?

Esse é certamente o objectivo, incluir algumas delas no alinhamento. E estamos entusiasmados para isso, porque estamos a aprendê-las enquanto as gravamos, em vez de as aprendermos e depois as irmos gravar, que era o que fazíamos mais no passado. 

O disco já tem título?

Não tem. Na verdade, até algumas das canções não têm ainda título. Mas isso é bastante normal para nós. Demora um bocadinho até tudo se aglutinar e fazer sentido. 

E vai sair ainda este ano?

Sim, no final do ano. Esse é o plano neste momento.

Já há muitos anos que vocês fazem tours aqui na Europa e isso tem muito a ver, como falávamos no início, com a essência da própria banda, a tal experiência da música ao vivo. Gostam especificamente de o fazer na Europa, ao tocarem em países com várias diferenças culturais, mas que ao mesmo tempo são muito próximos?

Sim, acho que para os europeus é muito difícil perceber como é a Nova Zelândia. É quase no fundo do mundo, no lado oposto do planeta de onde fica a Europa. E nós não temos outros países que tenham fronteiras connosco. Acabamos por nos sentir isolados de muitas formas. Também há um lado positivo, de poderes fazer o que quiseres sem tanta influência exterior. Ou podes pegar nas coisas de outros sítios e juntá-las, sem ninguém te dizer que não o podes fazer. Isso é uma das coisas de que gostamos em estar cá em baixo. Estamos escondidos no fim do mundo e podemos trabalhar na nossa música e depois levá-la até à Europa. E isso é uma das coisas que nos distingue de outras bandas, a possibilidade que temos de o fazer. E sinto que soamos de maneira diferente em relação a outro grupos, a forma como combinamos todos estes sons. E quando vamos à Europa adoramos. Os públicos conhecem mesmo as coisas, sobre diferentes géneros de música, porque eles estão expostos a muita coisa. Às suas próprias tradições musicais, mas também à electrónica, ao reggae ou ao jazz. Num país pequeno como a Nova Zelândia, onde só vivem cinco milhões de pessoas, não estás exposto a uma variedade tão grande de música nem com tanta profundidade. E sentimos essa intensidade cultural quando chegamos à Europa. Portugal está definitivamente no topo da lista de sítios a ir e visitar, eu adoro mesmo o país. Estive na Europa com a minha família, por volta desta altura, no ano passado, entre as tours de Fat Freddy’s Drop, e insisti que queria passar algum tempo em Portugal. Há muito sobre o vosso país que eu adoro.

Como, por exemplo?

Bem, adoro a comida, é incrível. É parecida com a da Nova Zelândia em muitos aspectos. Muito marisco e carnes grelhadas e vinho tinto. Mas com as vossas próprias nuances, vocês têm uma culinária elevada, com uma incrível combinação de ingredientes. E eu tenho um amigo que vive no Alentejo, que tem um olival, por isso passámos lá algum tempo. Bebemos. Fomos até Tavira. Ele é um chef e estivemos a passear com ele. Depois fomos a Lisboa, onde adoro a cultura. Adoro a intensidade e a história da cidade.

O que é que sentes que os Fat Freddy’s Drop ainda não alcançaram, por uma razão ou outra, mas que desejavam mesmo? 

Bem, nunca tocámos em Nova Iorque, isso seria algo que eu gostaria de fazer. E só fomos ao Japão uma vez, por isso gostava de voltar. Já fizemos grandes espectáculos, pequenos concertos, tocámos todos os tipos de música, em muitos sítios diferentes. Mas, para mim, essa resposta tem muito a ver com os sítios onde ainda não fomos. Seria entusiasmante ir a muitos deles. Porque, quando estamos em tour, a música e a experiência de estar naqueles sítios alimenta aquilo que fazemos, influencia-nos, a nível pessoal e como banda. Nunca tocámos na Jamaica, por exemplo, e isso seria muito interessante. 


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