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Texto: ReB Team
Ilustração: Ricardo Rito
Publicado a: 10/01/2023

De ALMA ATA a Batida.

Os melhores álbuns nacionais de 2022

Texto: ReB Team
Ilustração: Ricardo Rito
Publicado a: 10/01/2023

Não somos nada sem os processos que a democracia nos trouxe e, por cá, é através da opinião e contributo de todos que chegamos à linha editorial pela qual nos temos pautado nestes quase oito anos de vida. Sempre foi assim. Não há gatekeeping nem favores por baixo da mesa, tal como não há contagem do número de plays nem escolhas que se baseiem no seguir determinada tendência. Há, sim, gostos e fascínios honestos numa primeira fase, até que, em alturas como estas, se recorre ao método do voto para se chegar a um consenso.

Da sondagem às mentes que pensam e executam de forma regular este espaço noticioso e de crítica musical, destacam-se um total de 30 discos nacionais editados ao longo do ano passado e que dificilmente conseguiremos esquecer. Uns mais óbvios do que outros, é verdade. Mas há também muitos deles dos quais — infelizmente para a cultura — pouco ou nada se falou em mais lado nenhum se não por aqui. Dessas três dezenas de propostas, há dez trabalhos aos quais não podíamos deixar de dedicar mais umas quantas palavras, dado o elevado grau de unanimidade que existiu aos ouvidos de toda a redacção.


[ALMA ATA] ALMA // ATA

ALMA // ATA é um salto de fé. Se as letras de Caronte são poemas-retrato de uma amargura que só ele conhece, também a cama musical que as acolhe, fruto da nociva combinação dos talentos de Tomaz e Pedro, o Mau, não se assemelha a mais nada do que possamos vasculhar por aí. Não é de fórmulas matemáticas que se faz a estreia de ALMA ATA no formato de longa-duração, mas sim da audácia de fazer shut down ao “jogo” e reiniciá-lo num grau de dificuldade que mais ninguém ousou ainda seleccionar. É música arriscada daquela que nos faz bater com a cabeça muitas vezes até conseguir partir a pedra e chegar ao diamante que nela se esconde.

– Gonçalo Oliveira


[Ana Moura] Casa Guilhermina

Corria abril de 2021 quando, com “Andorinhas”, Ana Moura dava o pontapé de saída para aquilo que, ano e meio mais tarde, seria Casa Guilhermina. No sucessor de Moura (2015), a fadista, diva como é, voltou a romper com as noções do que pode ser (ou não) o fado. Abraçou as tendências daquilo que são os “novos fados”, utilizou-as para explorar heranças e identidades e, por entre a saudade tradicional e eterna do fado, o semba, a morna, o kizomba, ergueu uma obra que, na sua urgência e (enorme) criatividade, abre espaço para diálogos e consciencializações extra-necessárias aos dias de hoje. Para entender melhor o porquê, é fazer o seguinte: ler a Shirley Van-Dúnem.

– Miguel Rocha


[Fumo Ninja] Olhos De Cetim

Há caleidoscópios que organizam todas as cores do mundo em espirais hipnóticas que nos prendem a atenção sem pedirem licença. É exactamente isso que sucede neste Olhos de Cetim, trabalho primeiro dos Fumo Ninja de Leonor Arnaut, Norberto Lobo, Raquel Pimpão e Ricardo Martins que é torrente de cores em tons pastel (sentidos cromático e culinário igualmente aplicáveis) que se entrelaçam com múltiplas e deliciosas nuances. E daí saem canções que equilibram o jazz que há na pop e a ironia que se enrola na língua com o balanço ondulante que há no r&b. Como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

– Rui Miguel Abreu


[Papillon] Jony Driver

Num tempo de consumo instantâneo, Jony Driver é a prova de que ainda há na arte quem procure uma profundidade que exige e conquista o seu próprio tempo. Neste segundo álbum, observamos uma outra versão de Papillon, que se revela mais íntimo e reflexivo, sem nunca perder o apurado sentido de união entre a forma e o conteúdo, a paisagem sonora e as suas intenções poéticas. Jony Driver é um disco que não nos faz ter saudades de Deepak Looper, antes nos faz regressar a esse álbum para o reposicionar nesta generosa reflexão sobre essa intrigante matéria que é a vida – e sobre o que de
fundamental fazemos com ela. Conquistando o seu tempo, Papillon voa livre como um condor e afirma o lugar singular que ocupa na música portuguesa.

– João Mineiro


[DJ Danifox] Dia Não Mata Dia

Em entrevista ao Rimas, DJ Danifox diz-se um homem de instrumentos, e Dia Não Mata Dia prova-o nos ouvidos. O título alude a um optimismo face a um dia mau, e no novo EP de (mais) uma das grandes apostas da Príncipe ouvimos alegre expectativa nas batidas. Danifox improvisa notas de baixo, piano e sopros na incrível fusão de tango com afrobeat que é “Solo”, enriquece com instrumentos e sons o ambiente sonoro e progressivo de “Long Way Talk (Reprise)”, e dança nas teclas no loop estável e inesgotável de “Lost”. Enquanto esperamos pelo seu novo álbum, Dia Não Mata Dia é a melhor rampa de lançamento que podíamos pedir.

– Miguel Santos


[T-Rex] CASTANHO

O resultado ao intervalo confirma-se no final deste nosso encontro. Em meados de Agosto, num rescaldo da primeira metade do ano, escrevíamos, “até ver, no hip hop nacional o ano é dele”. Olhando para trás, não foi sequer um salto de fé na obra. CASTANHO, um disco concebido no purgatório do que será Cor D’Água, revelou-se um trabalho suficientemente autónomo, e não um conjunto de variações de uma tonalidade comum que parecia prometer. E, na verdade, chegou como o primeiro grande projecto apresentado por T-Rex, depois de uma série de pequenos grandes indícios também eles reveladores da potencialidade do artista luso-angolano. Nessa perspectiva, o álbum de estreia não está para vir; já está aí à vista de todos. E que estreia…

– Paulo Pena


[Pibxis] Rei do Rap

Prometeu pelo título, cumpriu pelas faixas. Ao atribuir as coroas de 2022, surge na linha mais
próxima ao trono um nome de peso vindo da Invicta: Pibxis. Com um álbum de 12 faixas em que
a consistência parece ser o mote, o rapper viaja dos temas mais profundos às típicas rimas de
ostentação, enlaçadas melodicamente nas mais diversas histórias com uma suavidade notável.
Depois dos EPs Esquizografia — não esquecido neste projeto — e DrugMusic, este primeiro álbum
serviu como tijolo de solidificação do seu nome como um dos principais mensageiros deste
ano; e a notícia, ainda que simples, pode vir a aliviar os mais céticos: o hip hop underground está
vivo e recomenda-se.

– Beatriz Freitas


[A garota não] 2 de abril

Não há dilúvio que derrube esta garota. Da habitual seca territorial, a garota não traz-nos uma cheia inesperada de canções portuguesas (vinte) no álbum 2 de abril. Neste seu segundo disco, a cantautora setubalense Cátia Oliveira abre as portas ao bairro que lhe dá o título. Há uma mescla musical que é concretizada na multicultural casa que é portuguesa, com certeza: há elementos de fado, rap, eletrónica e folk traduzidos para o inconformismo brando da populaça. Uma viagem à metamorfose nacional no séc. XXI que garante a garota não como uma das vozes mais relevantes da atualidade.

– Rui Correia


[GUME] DOBRA

Na crítica ao sucessor de Pedra Papel, Rui Miguel Abreu escreve: “Uma certeza, no final: este GUME quanto mais dobra mais se afia. E talvez seja necessário, quanto mais não seja para cortar com o passado. Afropresentismo no seu melhor. Outra vez”. Desta corrente do presente que África reflecte em Lisboa e nos seus subúrbios, DOBRA assume-se como o mais importante disco feito por cá desde que Tristany abanou as estruturas com o seu fantástico MEIA RIBA KALXA. Entre o jazz e a música de câmara, o afrobeat e o experimental, Yaw Tembe e companhia fazem mexer enquanto remexem com o que está cá dentro.

– Alexandre Ribeiro


[Pongo] Sakidila

De “Kalemba (Wegue Wegue)” até Sakidila, Pongo percorreu uma jornada que durou 14 anos, mas a espera valeu a pena. No seu primeiro registo em longa-duração, Pongo apresenta um repertório deliciosamente caleidoscópico: claro, o kuduro ao qual nos habituou ainda se encontra presente e mais intenso do que nunca — como ficar indiferente à garra que a artista exalta na interpretação entregue em “Bruxos” ou “Amaduro”? —, mas a beleza deste disco encontra-se na forma como balanceia outras sonoridades com perfeita naturalidade, tanto através de diferentes ritmos africanos como em “Doudou” ou “Só Amor”, como no baile funk pulsante de “Bica Bidon” ou na cumbia sensual de “Pica”. Se 2022 é o ano da pop no feminino, Pongo foi uma peça fulcral para que tal acontecesse.

– João Spencer


[Mané Fernandes] ENTER THE sQUIGG


[Surma] alla


[redoma] parte


[DJ Nigga Fox] Música da Terra


[Regula] Ouro Sobre Azul


[Maria Reis] Benefício da Dúvida


[Lantana] Elemental


[Azia] Causa Torpe


[Rita Silva] The Inflationary Epoch


[Bandua] Bandua


[Fado Bicha] OCUPAÇÃO


[Uno] Nenhuma História Acaba


[MONA LINDA] leonardo


[Pedro Sousa] Má Estrela


[benji price] ígneo


[ALGUMACENA] Que Te Tira O Sono À Noite


[Silvestre] Sossegado


[Studio Bros] Different


[Joana de Sá] Shatter


[Batida] Neon Colonialismo

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