pub
Um temporal instalou-se por Portugal e é aconselhada precaução para quem pretende organizar planos fora de casa. Pelo sim, pelo não, mais vale ficar abrigado por baixo de um tecto, até porque o fim-de-semana trouxe muita música nova para degustar.
Aos três discos em destaque neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher já assinalado por cá com uma entrevista a Capicua e uma playlist especial, devem ainda ter em conta as propostas oriundas da esfera nacional, com LZ XROOTZ (Red Eyes), Bug Snapper (Bloom), Kenny Berg & Co$tanza (cK) e Diana Lima (Beco Com Saída) a rubricarem novos projectos. No capitulo das “importações”, vale a pena também destacar: o hip hop autoral patente nas mais recentes obras de J.SOS & 38 Spesh (Come Back For You EP), Cookin Soul & Raz Fresco (BAKIN SOUL) e Ramirez (FROM THA GUTTAH TO THA GRAVE); as invenções jazzísticas de Kahil El’Zabar & Ethnic Heritage Ensemble (Open Me, A Higher Consciousness of Sound and Spirit), Chris Potter (Eagle’s Point) e Dave Harrington, Max Jaffe & Patrick Shiroishi (Speak, Moment); ou a electrónica feita à margem das convenções por Bolis Pupul (Letter to Yu) e Vanessa Bedoret (Eyes).
Os mais audazes podem ainda decifrar as coordenadas do que lançaram também Norah Jones (Visions), Ariana Grande (eternal sunshine), YoungBoy Never Broke Again (Compliments of Grave Digger Mountain), Daniel Carter & Stefan Christoff (In the wind now), KYLE (SMYLE AGAIN) e Haux (Blue Angeles).
[Moor Mother] The Great Bailout
Entrou no catálogo da histórica Impulse! Records no ano passado através de um novo álbum de Irreversible Entanglements, Protect Your Light, e regressa agora a um formato mais livre, a solo. The Great Bailout sucede ao aplaudido Jazz Codes (2022) e volta a merecer um lugar nas estantes da Anti- com uma proposta musical que aponta ao afro-futurismo, no qual termos como “experimental”, “avant-garde” e “free jazz” surgem estampados nas tags do Bandcamp. Entre o rap e a spoken word, Moor Mother tece ensaios sobre o colonialismo e o esclavagismo num LP esculpido com recurso a contribuições de gente como Lonnie Holley, Kyle Kidd ou Sistazz of The Nitty Gritty.
[Kim Gordon] The Collective
Kim Gordon é um dos grandes nomes a operar dentro do espectro mais experimentalista da música rock e os seus dotes estão bem patentes na vasta obra deixada pelos Sonic Youth. Após o fim da banda de Nova Iorque, a cantora, compositora e guitarrista/baixista tem-se dedicado a trilhar percursos paralelos, quer no projecto Body/Head, quer numa investida a solo, da qual já havia surgido em 2019 o álbum No Home Record. Se nesse inaugural registo em nome próprio já piscava o olho às batidas, a coisa passa a namoro assumido no seu novo The Collective, onde Kim, quase a chegar aos 71 anos, mostra a muitos rappers com menos de metade da sua idade como se abordam instrumentais de hip hop fracturante.
[MIKE & Tony Seltzer] Pinball
Saiu na quarta-feira passada, mas a azáfama dos dias fez-nos esperar mais um bocado para o abordarmos neste relatório de final de semana. MIKE — que em 2023 se estreou ao vivo Portugal e editou um belo Burning Desire, antes de regressar aos nossos palcos no mês passado (em Lisboa e em Braga) — volta a mostrar serviço num jogo de Pinball, com Tony Seltzer a ceder-lhe as fichas necessárias para que consiga disputar 11 partidas. Os créditos permitem-lhe dar-nos música ao longo de pouco mais de 20 minutos, temo suficiente para nos fazer entrar em tilt umas quantas vezes. Os versos de MIKE são implacáveis como sempre e Seltzer (que tem vindo a servir nomes como Ski Mask The Slump God, Wiki ou Princess Nokia) mostra ser dono de uma estética impar na edificação de batidas, juntando-se a esta bela fórmula uns pozinhos de artistas como Earl Sweatshirt, Tony Shhnow, Jay Critch e Niontay.
pub