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Texto: ReB Team
Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 09/07/2023

Música para escutar entre concertos.

#ReBPlaylist: Junho 2023

Texto: ReB Team
Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 09/07/2023

We out here. As agendas estão bastante preenchidas e é normal verem-nos por aí à caça dos melhores concertos e festivais que o Verão tem para oferecer num país que, nos últimos anos, se tem vindo a tornar numa das coordenadas mais cobiçadas do globo, factor importante para o actual cenário de abundância cultural que vivemos no presente. Sumol Summer Fest, NOS Alive, Funchal Jazz, Causa|Efeito, Lisb-On, VHOOR ou Black Top têm-nos mantido ocupados entre o findar de Junho e o arranque de Julho, mas a música feita no estúdio está sempre presente — nem que seja numa viagem de autocarro ou comboio entre casa e um qualquer recinto. Como tal, não nos faltam propostas para passar aos nossos leitores, e nesta mais recente #ReBPlaylist encontram um total de 7 faixas onde o hip hop é força dominante.


[DJ Fuckoff] “$ugar money/dreamstate”

Com um respeito por divisões genéricas condicente com o seu nome artístico, DJ Fuckoff lançou em junho o seu álbum FUCKTOPIA, onde uma orgia de sonoridades lascivas penetra pelos nossos tímpanos adentro sempre com resultados prazerosos. Esta “$ugar money/dreamstate” em particular mostra a agilidade e plasticidade da produtora sediada em Berlim, que sem comprometer qualidade consegue começar num hip hop entrapado, seguir para um jungle e crescer para algo mais hardcore. Queria evitar uma enchurrada de géneros, mas estou certo de que ainda há toques de ghetto house aqui e ali, talvez um piscar de olhos mais sedutor ao gabber e ainda um pézinho de techno nas transações; tudo isto com umas aventuras no microfone no papel de MC, que também não lhe é alheio. Um autêntito vale-tudo, portanto, mas assumamos que em contextos de deboche são estas as regras — ou antes, a falta delas — que apreciamos.

— André Forte


[James Blake] “Big Hammer”

Dois anos separam James Blake do seu último projecto e temos novidades a caminho: Playing Robots Into Heaven será o seu sexto álbum, com lançamento marcado para Setembro. Enquanto roemos as unhas à espera de mais um trabalho do multifacetado artista britânico, “Big Hammer” faz-nos companhia.

O nocturno primeiro single do novo LP de Blake mostra-se confrontador. A sua calorosa voz de barítono não se escuta, mas ouvimos o crepitar de sintetizadores que se alojam gradualmente debaixo da pele. A voz que se ouve é a de Flinty Badman, um dos elementos de um grupo importante na educação musical de Blake: os Ragga Twins, influente duo britânico de dancehall. Ouvimo-la desenfreada e transfigurada, adequada à atmosfera da música. A escolha nostálgica de Blake tem algo que se lhe diga: talvez o artista esteja num momento de revisitar outros tempos da sua carreira, ou talvez o clima predatório seja presságio de algo novo no seu percurso. Seja o que for, daqui a dois meses será respondido. E até lá, não há unhas que resistam.

— Miguel Santos


[Gil Semedo & Julinho KSD] “Silêncio”

Nome maior da música cabo-verdiana, Gil Semedo uniu forças com Julinho KSD (que também carrega a herança do arquipélago africano) para um tema simples mas coeso intitulado “Silêncio”. Como o título sugere, é mais contemplativo e menos explosivo do que se poderia pensar à partida, mas não falta um balanço caloroso que serve de base para as harmonias vocais de Gil Semedo, a abordagem mais trap de Julinho KSD e os preciosos apontamentos de sopros. Um encontro simbólico entre gerações, géneros e contextos em nome da música.

— Ricardo Farinha


 

[Jay Rock] “Eastside” feat. Kal Banx

O lugar ficou vago, e não parece que haja propriamente alguém a fazer-se a ele. Mas há alguma expectativa em ver quem assume uma espécie de liderança nos quartéis da Top Dawg Entertainment depois da saída de Kendrick Lamar. Candidatos de peso não faltam: Ab-Soul protagonizou, aliás, um regresso às edições bastante ambicioso com HERBERT; ScHoolboy Q continua na iminência de semelhante proeza; SZA aponta, por esta altura, a voos maiores (sobretudo, desde SOS); Isaiah Rashad parece, finalmente, capacitado para combater os seus demónios interiores e resistir aos exteriores… E o que é feito do primeiro “assinante” da causa? É, para já, de toda a turma (que inclui, ainda, Lance Skiiiwalker, SiR, REASON, Zacari, Ray Vaughn e Doechii) o que está por editar trabalho novo há mais tempo — e suceder a Redemption, cinco anos depois, não se afigura tarefa fácil à partida.

Estas eram as cartas expostas na mesa até final de Junho passado, altura em que Jay Rock anunciou “Eastside” como primeiro avanço do seu futuro disco. E se de 2018 para cá — à velocidade que a era digital impõe — já toda a gente tivesse esquecido o nome do rapper de Watts, Califórnia, este seria o melhor lembrete para reavivar a memória: “That goes from going to your grandmom’s house…” — e até aqui ainda nos conseguimos identificar — “… a simple walk to your grandmom’s house may cost you everything, so you better have some on you that you can, you know…” — e não, não sabemos; imaginamos, na melhor (ou pior, dependendo da perspectiva) das hipóteses. É à boleia deste preâmbulo que, após um monólogo alheio, encenado para ilustrar a brutalidade das cenas seguintes, Jay Rock entra, primeiro ao estilo de um Q de CrasH Talk, para depois saltar num refrão que podia ter sido repescado de The House Is Burning. Tudo isto num tema que versa sobre e recria, sem filtros, uma realidade que o MC formado na quadrilha Black Hippy tratou, desde sempre — e aqui não é excepção, antes regra reafirmada —, por tu. As raw as it gets. 

— Paulo Pena


[Slow J] “Sem Ti”

Slow J está-nos a deixar com água na boca. Depois de “Where U @” e “Grandeza” — que levou ao A COLORS SHOW —, João Coelho ofereceu-nos o terceiro vislumbre daquilo que acreditamos ser um novo disco. E o que quer que João esteja a cozinhar, por favor: deixem-no. 

Em “Sem Ti”, onde conta com a ajuda de FRANKIEONTHEGUITAR e GOIAS, o autor de The Art of Slowing Down e You Are Forgiven usa o coração na manga para nos entregar um tema onde a caneta desliza de forma suave que só nos pode encantar. O coração, isto é. Quentinho que fica. No final, ficamos todos deslumbrados. Assim é a vida a escutar as cantigas de João. Venha esse disco, camarada. Estamos todos desejosos (e prontos!) para o ouvir.

— Miguel Rocha


[Biex] “Rounder”

Do 7 Duque de Biex temos o royal flush do mês, com vários temas de elevado quilate divididos entre veterano rapper de Quarteira e alguns conterrâneos, como JV, Lois e B.ifes. A sonoridade, essa é coesa e linear, com samples a puxar por um mundo jazzístico indispensável no universo musical de Biex, que nos graceja com novo longa-duração, não perdendo pulso depois dos nos últimos anos andar bem ativo pelo icónico CS14 de Quarteira. As referências a póquer são inevitáveis ao longo deste trabalho, com grande fatia dos temas recheados de easter eggs deste mundo — e “Rounder” não é exceção. 

Não sendo póquer a nossa especialidade, os motores de pesquisa dizem-nos que este termo é vulgarmente utilizado para definir alguém cujo ganha-pão é exatamente a prática do póquer, e é aqui que podemos fazer uma analogia ao rap: a fome de Biex é tão notória nesta faixa que parece depender do income da música para viver, quase como um verdadeiro “Rounder” do rap. 

Analogias à parte, a terceira faixa de 7 Duque tem um beat delicioso de MCM, composto por um bass groovy, umas notas simples de piano e um saxofone cheio de requinte, que mesclados são a base ideal para Biex, que vai cuspindo rimas com um cunho muito característico durante 11 temas, sempre num tom calmo e rouco que o tornam quase inconfundível. Apesar do ambiente relaxante, as palavras que debita são nutridas de um conteúdo áspero e introspetivo, reflexo de uma caneta já experiente e oleada. Para quem tem morada abaixo do Tejo, ouvir “mais um pássaro no sul que passa fome no inverno” é totalmente relatable e compacta de forma curta a vida de quem por lá reside o ano inteiro. 

Resumindo, “Rounder” é um all in de Biex numa sonoridade reconfortante recheada de mensagens graúdas — atrevemo-nos a dizer que ideal para um final de tarde relaxado na marginal da “sua” Quarteira.

— Carlos Almeida


[Earl Sweatshirt] “Making The Band (Danity Kane)”

Por estes dias há uma agitação especial nas redes sociais, com a presença de Earl Sweatshirt em Lisboa a fazer despertar o stalker que existe em cada um de nós, na expectativa de ver o que anda a fazer pela nossa capital um dos MC mais geniais que o presente milénio viu nascer. O homem que versa as amarguras da vida em telas vívidas de música rap integrou a comitiva que trouxe MIKE até Portugal e foi o foco de muitas das atenções ao longo do concerto do amigo na passada sexta-feira, até porque estava numa posição bem mais visível que o protagonista principal, que preferiu actuar junto da família que não sabia que tinha deste lado do Atlântico. Sem rimar uma única palavra, ajudou certamente a tornar aquele fim de tarde ainda mais místico, e garantimos desde já que poucos concertos em 2023 vão conseguir replicar aquela energia que pairou no jardim da Galeria Quadrum, onde se viu suor, lágrimas, espanto, arrepios e, acima de tudo, muito amor.

Poucos nomes terão esta capacidade que Earl tem em deixar gente completamente vidrada em tudo aquilo que toca e se envolve, capaz de gerar um culto tão grande que prende atenções vindas de todos os segmentos da indústria e de cruzar um público que vai do indie e do underground até às camadas mais superficiais do mainstream. E por muito que tenhamos desejado ouvi-lo ao microfone, nem que fosse só para dizer “olá”, apenas o facto de ter estado presente naquele palco montado pela Filho Único tem, por si só, um valor imensurável para todos aqueles que já lamberam feridas à boleia dos seus poemas.

Talvez seja melhor assim, até porque apesar de ser um ídolo para muita gente, o ex-Odd Future já por várias vezes deu provas de que não se sente completamente confortável nesse papel. No Verão passado, por exemplo, o nosso hype estava bem lá no alto para o ver estrear-se num espectáculo em solo nacional, mas o tom apático com que nos entregou as canções do seu repertório deixou um certo sabor amargo na boca. Já no concerto de MIKE, pareceu-nos bem mais feliz e descontraído por não ser ele a estar — embora também estivesse… — debaixo dos holofotes e na mira das várias lentes que documentaram o evento, acompanhando os versos do seu protegido enquanto gesticulava como se sentisse palavras da mesma forma como sente aquelas que lhe saem do pulso.

Não sendo o quadro perfeito, é o que é. Mas não há razão para desesperos e todos parecem saber lidar muito bem com isso. Até porque, mesmo estando longe da vista, dos ouvidos ninguém nos tira Earl Sweatshirt, e a sua obra está sempre à distância de meros cliques numa qualquer plataforma de streaming. Ainda para mais quando parece atravessar um novo momento de maior fulgor criativo, tendo-nos entregue um álbum, SICK!, no ano passado e estando a manter a presença através de algumas colaborações. Em Junho, inventou o seu próprio conceito de drill neste “Making The Band (Danity Kane)”, um par de semana antes de fechar as contas do mês ao surgir em destaque ao lado de billy woods em “RIP Tracy“, uma “sad music” que serviu de faixa introdutória para Flying High, mais recente EP de The Alchemist.

— Gonçalo Oliveira

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