pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 14/09/2024

Medir o pulso aos segmentos mais alternativos.

#ReBPlaylist: Agosto 2024

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 14/09/2024

Voltamos a medir o pulso a um mês que já passou através de mais uma edição da habitual #ReBPlaylist. Da colheita musical de Agosto, os The Smile (que infelizmente cancelaram o concerto que tinham em agenda para o MEO Kalorama) são carta fora de um baralho claramente influenciado pelo que se tem produzido nos campos do hip hop mais alternativo, aqui representado por TUL8TE, Larry June, Ka e JPEGMAFIA. Há uma mão-cheia de temas em destaque nesta rubrica que vão poder descobrir já de seguida.


[The Smile] “Zero Sum”

Depois de um belo álbum lançado no início de 2024 que não passou despercebido, os The Smile preparam-se para lançar um novo disco em Outubro deste ano. Enquanto esse terceiro projecto não chega, o grupo composto por Thom Yorke no baixo e magistral voz, Jonny Greenwood na guitarra e Tom Skinner na bateria deixa água na boca para o seu próximo lançamento com “Zero Sum”, uma malha que alia proficiência instrumental a uma energia infecciosa como só este trio maravilha consegue.

O mote é dado por um fenomenal e dardejante riff de Greenwood acompanhado pela bateria velozmente certeira de Skinner. A frenética guitarra ouve-se durante toda a música, seja como atracção principal ou rivalizada por sopros que contrastam de forma curiosa. Yorke canta com escárnio e sátira, através de preces sarcásticas direccionadas à automatização e à sociedade de consumo actual, regida por um sistema de algoritmos prontos a providenciar tudo a quem os consome vorazmente. Espelham quem os alimenta, mas os The Smile argumentam que é um jogo de soma zero, em que um jogador só pode ganhar se o outro perder. Quem ganha, nós ou o algoritmo? De humano para humano, fica aqui a sugestão deste tema. A batalha ganha-se uma potente malha de cada vez.

— Miguel Santos


[TUL8TE] “Habeeby Leh”

O fenómeno é familiar. Originalmente um rapper, o artista egípcio TUL8TE tem vindo a aproximar-se progressivamente de uma pop urbana e alternativa que incorpora elementos da tradição musical árabe. Nos últimos dias de Julho — já não fomos a tempo de o incluirmos na #ReBPlaylist publicada em Agosto — lançou um disco que tem feito manchetes e acumulado milhões de plays um pouco por todo o mundo árabe. Cocktail Ghena’y é um projecto de oito faixas musicalmente rico e elaborado, que evoca a pop local dos anos 90, com influências assumidas (e notórias) de Amr Diab, mas com uma roupagem e estética contemporânea. Com uma imagética trabalhada e eficaz, TUL8TE não desvenda a sua identidade, e o mistério tem contribuído para impulsionar o fenómeno em torno da sua música e, em particular, deste álbum. Todo o disco merece atenção, mas aqui destacamos o single “Habeeby Leh”, com videoclipe rodado no Cairo. Ainda não é demasiado tarde para prestarmos mais atenção ao que se faz aqui bem perto, mesmo que numa língua incompreensível para a maior parte de nós e com uma cultura distinta que, apesar de tudo, tanto se entrelaça com a “nossa”. Mas não é na diferença que reside a riqueza?

— Ricardo Farinha


[Larry June] “Stinson Beach”

Da Califórnia ao Algarve, aqui temos um dos hinos de fim de tarde do Verão de 2024. O rapper Larry June está de regresso aos álbuns e focado nele mesmo, não fosse o seu novo disco intitulado Doing It For Me. Esta “tela” musical tem vários “tons”, mas o mais aguerrido é o deste “Stinson Beach”, numa vibe bem veranil a levar-nos até à década de 80. Larry é caracterizado pelo seu trap bem mais eletrónico que analógico, mas neste álbum abre-se uma porta para o MC de San Francisco a nível musical.

Este “Stinson Beach” é uma produção bastante interessante, com a presença de vários instrumentos que “amaciam” ainda mais o estilo sempre smooth de Larry, quase a lembrar um R&B mesmo característico da reta final do último milénio. Este novo longa-duração do MC californiano está salpicado por temas menos trap-ish e mais R&B-ish, com sonoridades recheadas de um groove pouco comum na sua música.

De “Stinson Beach” às praias algarvias é um pulinho, porque apesar de falarmos de uma praia do outro lado do oceano, o mês de Agosto no Algarve tem uns fins de tarde que soam exatamente a este enorme tema de Larry. Os regressos a casa depois de um bom dia de praia no Algarve nunca soaram tão bem!

— Carlos Almeida


[Ka] “Such Devotion”

Discreto como ninguém, tanta é a devoção que não há, porém, como escondê-la — do lado de lá — ou negligência-la — do de cá. Ka tem sido, ao longo dos anos, um farol intermitente, mas incandescente, num cada vez mais povoado sub-solo nova-iorquino; uma espécie de último reduto de um espírito underground que perdura na cidade que nunca adormece, insónia que tem proliferado entre aqueles que não abdicam do seu espaço debaixo do chão. “Such Devotion”, único single de antecipação do seu mais recente disco a solo (The Thief Next To Jesus), revela-se, na tela, ilustrativo da relação profundamente minimalista que o rapper de Brownsville tem com o seu rap. Gélido e impiedoso em cada verso, parece subsistir em Ka, ainda assim, alguma crença recalcada no desalento que tantas vezes alimenta a sua narrativa enegrecida. Para lá do gospel esperançoso que leva Nicholas Craven a caracterizar este instrumental como “the greatest Ka beat of all time”, sente-se no tom do MC de Nova Iorque uma força alheia ao fatalismo evidente nas suas palavras. Como se a paixão com que arquitecta a sua arte superasse a revolta que o leva a criá-la em primeira instância. Como, não. Esse parece mesmo ser o combustível que o mantém insaciável: o mais honesto confronto com a verdade. Que, desde Jesus a São Dimas (o “Bom Ladrão”, em nome de quem foi edificada uma igreja numa prisão de máxima segurança em Nova Iorque…), não iliba ninguém.

— Paulo Pena


[JPEGMAFIA] “i scream this in the mirror before i interact with anyone”

Temos de falar sobre JPEGMAFIA. Esta é a terceira edição consecutiva da #ReBPlaylist em que o inimitável rapper e produtor de Baltimore conquista um placement, e tudo isso graças ao seu novo álbum I LAY DOWN MY LIFE FOR YOU. Não querendo brincar aos bruxos, a verdade é que este será, incontornavelmente, um dos discos dos quais muito ainda se vai falar em época de balanços mais para o final do ano, já que poucas dúvidas existem face ao quão bem esculpido ficou este que é o 5º álbum nas contas de Peggy, um autêntico tratado sonoro para o rap enquanto linguagem universal e capaz de se misturar em qualquer género musical, do heavy metal ao funk brasileiro, sempre com aquela pegada industrial a que o polivalente e disruptivo artista nos tem habituado.

Há temas suficientemente diferenciadores para agradar a gregos e troianos por entre as 14 malhas de I LAY DOWN MY LIFE FOR YOU, mas os verdadeiros apreciadores da arte não vão nunca recusar-lhe uma rotação integral, seguida do início ao fim, e levar com toda a descarga de alta tensão que JPEGMAFIA programou num LP que nos volta a fazer lembrar do seu maior clássico, Veteran (2018), devido a toda a sua urgência do ponto-de-vista conceptual face ao que os demais nomes do game vão apresentando (não acrescentando). Tendo isto em conta sobre um projecto que saiu precisamente em Agosto, porque não voltar a destacá-lo uma vez mais? “i scream this in the mirror before i interact with anyone” é a música que abre as contas do disco e um sério aviso para aquilo que vamos encontrar nas faixas seguintes, deixando desde logo alertados os mais sensíveis que poderão ter de abortar a missão caso não tenham estômago para os pesados riffs de guitarra, a estridência dos pratos e, claro, a cólera de Peggy.

— Gonçalo Oliveira

pub

Últimos da categoria: #ReBPlaylist

RBTV

Últimos artigos