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Texto: ReB Team
Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 11/11/2024

Um mês resumido em 5 faixas.

#ReBPlaylist: Outubro 2024

Texto: ReB Team
Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 11/11/2024

É nesta altura que lá fora as folhas secam e caem no chão, tingindo de castanho os pavimentos. Aqui dentro, a música solta-se das árvores digitais o ano inteiro, passa-nos pelos ouvidos e, sempre que nos mexe com os sentimentos, fica arquivada eternamente nos passeios da nossa memória. Do mês que passou, há 5 malhas que não nos saem da cabeça, às quais, caso não o tenham feito ainda, devem dar um pouco da vossa atenção. Não as deixem cair e passar despercebidas, pois podem estar a deixar escapar algo de muito precioso.


[Tyler, The Creator] “Hey Jane”

Ao oitavo álbum de originais, Tyler, The Creator mostra-nos uma fase mais séria e madura da sua carreira e da sua vida. Na capa de CHROMAKOPIA vêmo-lo com uma máscara, mas neste projecto ouvimo-lo despido e vulnerável, alguém a reflectir sobre a entrada nos 30 e a ponderar sobre questões que não estavam no seu radar quando era mais jovem. Na festa de lançamento do álbum, o rapper nascido Tyler Okonma referiu que não é a pessoa que era quando tinha 20 anos, nem aqueles à sua volta. “As pessoas estão a ficar mais velhas, amigos a terem filhos e famílias. Eu só tenho um novo Ferrari, sinto que é um pouco estranho.” E este sentimento ecoa na música “Hey Jane”.

O instrumental é discreto, com teclas quentes e percussão digital suave que não destoam da discografia do rapper norte-americano, e alguns apontamentos de um meloso sintetizador que contribuem para a atmosfera descontraída. O destaque vai para as palavras de Okonma. Uma gravidez inesperada surge como inspiração para imaginar uma conversa entre ele e a sua cara metade e como ambos reagiriam a esta notícia. O engenhoso e sóbrio diálogo mostra que, apesar de lhe estarem a aparecer os primeiros cabelos brancos, a sua poesia não acusa a idade. Ouvimos alguém honesto, ponderado, que escreve de forma biográfica, como o sempre o fez, apesar de nunca o ter feito desta forma, porque nunca o viveu antes. Embrenhado num solilóquio para todo o mundo ouvir, Tyler, The Creator discute de forma melódica e bem construída as questões que o apoquentam nesta nova etapa da sua vida.

— Miguel Santos


[Luca Argel] “Acanalhado”

Desta vez, a boa nova não irrompeu numa quarta-feira de cinzas, embora por aqui também se renovem ciclos e se ressuscitem energias para futuros novos que virão. E se os melhores futuros brotam das raízes mais férteis, nada mais natural que regressar ao passado, a muitos dos gestos onde a voz de Luca Argel emergiu, conquistando tantos dos nossos corações, fazendo-se cúmplice de tantos dos nossos anseios. 

Não se pense, contudo, que por aqui se viverá da nostalgia. Visita é um álbum sobre o passado, é certo, mas que renova o olhar sobre o caminho percorrido, celebrado por arranjos que projetam novas vidas para as canções. Muito disso se deve à imaginação musical de Pri Azevedo, generosa companheira nesta viagem, e cuja sensibilidade permitiu que estas músicas contassem novas histórias. Luca está sempre lá, com a sua voz e as suas palavras, tanto quanto Pri, que abraçou esta viagem como sua.

Talvez tenha sido essa cumplicidade que permitiu a Luca Argel demorar-se um pouco mais no seu repertório, tirar tempo para o celebrar, respirar com ele, deixar-se contagiar pela visita. E são muitas as visitas de um disco que percorre vários momentos da sua discografia, relembra parceiros de antigas aventuras, reconvoca amigos para novos diálogos, reacende a chama de velhas parcerias e que, sobretudo, se deixa contagiar pela presença de Pri, que é tanto visitante do repertório, como anfitriã de uma visita que devolveu a Luca Argel um novo olhar sobre as suas próprias criações. É nesse jogo que tudo se joga, com vimos em Lisboa, na apresentação do disco, onde os seus corpos dançaram, cúmplices, num vai-e-vem de partilha, intimidade e comoção.

— João Mineiro


[Extrazen] “STUNT”

A caminho do segundo EP, Extrazen desvendou neste mês de Outubro uma pérola intitulada “STUNT”, mostrando como o seu talento e trabalho mereciam mais visibilidade e reconhecimento. Afirmando-se nos últimos anos como um nome a ter em conta no panorama nacional da música urbana, apostando num registo mais cantado, desta vez evoca a sua cadência mais rappada para um tema com uma estética electrónica, tensa e generosamente experimental, urgente e acelerada, com direito a um videoclipe igualmente estimulante e frenético. Numa era musical progressivamente mais polida, traz sujidade e agressividade para cima da mesa, com versos assertivos e uma entrega determinada que nos fazem acreditar que irá ultrapassar qualquer obstáculo que ouse colocar-se à sua frente. Tanto na letra como nos flows e na produção cuidada, Francisco Andrade prova (e de que maneira) as suas capacidades, o seu calibre internacional — não estranhávamos que esta faixa pertencesse à discografia de uma série de artistas norte-americanos de renome — e abre o apetite para o seu próximo disco. Venha ele.

— Ricardo Farinha


[Lil Yachty] “We Ball Forever”

É um caso curioso o de Lil Yachty: na década passada, o rapper norte-americano globalizou-se à boleia das sonoridades-tendência da sua época, foi inovador quanto bastou nesse campo, e original o suficiente para se demarcar dos múltiplos pares que com ele partilham epíteto artístico. Mas esse percurso feito de Lil Boat’s e afins em nada fazia antever, a princípio, a esquizofrenia — no melhor dos sentidos — que viria a tomar conta do seu reportório. Let’s Start Here. (2023) assinalou essa guinada em direcção a registos como o da viral “drive ME crazy!”, e Bad Cameo (2024), com James Blake a bordo, veio reforçar esse processo de maturação artística (chamemos-lhe assim) de um rapper predominantemente virado para as vibes melódicas (chamemos-lhe assim). Mas aqui e ali já vinha Miles Parks McCollum dando sinais do seu ouvido refinado, em lançamentos isolados da sua discografia monotonamente hiperactiva. Vários, até. De tal forma que, hoje, há toda uma legião — porque com estas estrelas planetárias tudo se multiplica a essa escala — que prefere um Lil Yachty soulful a um Lil Yachty vibeful, graças a canções como esta “We Ball Forever”, tema lançado no mesmo dia que “Cry Me A River” e no dia anterior a “All Around The World”. Três registos consideravelmente diferentes entre si, e mais distantes ainda da linha pela qual responde à cabeça — se é que, hoje, essa linha existe. Na verdade, ao contrário da regra que se advoga para todo e qualquer artista, Lil Yachty é uma das raras excepções em que pode, realmente, vestir a pele que quiser. Mas de todas as que já nos mostrou, esta é definitivamente a que lhe assenta melhor. Um autêntico Big Yachty, este. Chamemos-lhe assim.

— Paulo Pena


[DJ Vibe & Sam The Kid] “CORRERIA (STK Mix)”

Há gente a quem a coroa assenta na perfeição. Mais evasivo no que toca a música nova desde que em 2006 rubricou o clássico Pratica(mente), a verdade é que, por menor que seja a quantidade do produto apresentado, Sam The Kid tem sido incapaz de assinar uma rima ou batida que não seja boa. Peca apenas por serem quase inexistentes as vezes em que procura saltar fora da sua zona de conforto para exibir toda a versatilidade que lhe corre nas veias. Mas também sabemos que não se pode pedir muito a quem já se desdobra em esforços por diversas frentes, pois além da música, Samuel Mira foi-se envolvendo noutros projectos, como a TV Chelas ou os programas para a Antena 3, Flawless Radio e Primera Vez.

Felizmente, um outro não menos lendário veterano fê-lo sair da caixa: DJ Vibe desafiou Sam The Kid a mudar os seus versos para uma via mais electrónica e o resultado foi deliciosamente inesperado. Em “CORRERIA (STK Mix)”, o astro de Chelas faz ajustes a uma das batidas que integraram Frequências, álbum que Tó Pereira lançou recentemente, e disfere-lhe golpes críticos com relatos do dia-a-dia de um verdadeiro hustler da música em Portugal. É um daqueles bangers que nos dão certezas de que o hip hop nacional também tem lugar nos clubs e o noctívago videoclipe que o acompanha, realizado por Sebastião Santana, fica-lhe a matar.

— Gonçalo Oliveira

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