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Fotografia: LucasOwnView
Publicado a: 14/01/2025

E o hip hop tuga nunca mais foi o mesmo…

L-ALI no Musicbox: uma lenda com 10 anos celebrada em cima do palco

Fotografia: LucasOwnView
Publicado a: 14/01/2025

Quantos anos de carreira são necessários para firmar como lendário o legado de um qualquer artista? É relativo. Essa é uma qualidade que se mede, acima de tudo, pela importância da obra editada face ao momento em que veio ao mundo e pelo culto que se forma à sua volta. Em 2014, L-ALI fez check a ambos os parâmetros quando surgiu ao lado de VULTO. em SURREALISMO XPTO, um trabalho que comemorou 10 voltas ao Sol no ano passado e que foi por cá celebrado em jeito de ensaio e entrevista com os seus autores. Nesse primeiro conjunto de 9 faixas, o rapper nascido Hélder Sousa implantou o seu próprio campeonato com um jogo de rimas e flows que não lembravam nem ao menino Jesus, mostrando alternativas viáveis para levar o rap tuga por novos caminhos numa altura em que o movimento se apresentava bem estagnado.

Desde esse momento em que se deu a conhecer, L-ALI trilhou o tal “trajecto musical sem pegada ecológica, zero lixo” de que se gaba em “SIRI”, fruto da sua aventura pela Superbad, um dos selos editoriais portugueses que tiveram a sorte de ser abençoados pela caneta do rapper de Alfama. Think Music, COLÓNIA CALÚNIA e Crate Records foram outras das casas criativas que amealharam versos de L-ALI nos seus catálogos, a última delas aquela que carimbou O Conto, o seu primeiro álbum em nome próprio, alicerçado essencialmente com a ajuda de Razat, uma outra e malograda lenda da bass music. Todo esse percurso mereceu ser revisitado no passado sábado, 11 de Janeiro, no palco do Musicbox, através de uma actuação com mais de uma hora em que, no final, nos foi anunciado — e permitido escutar uma das demos — daquele que será o segundo registo de longa-duração em nome próprio nas contas do artista, com edição assegurada para este ano.

Dos temas mais afamados e que frequentemente podemos testemunhar nos seus concertos — “Plenitude”, “Ciclo”, “UAIA” ou o já mencionado “SIRI” —, o alinhamento preparado para aquela noite especial foi também ao seu mais recente EP Balanço e permitiu-nos ainda regressar até ao início de tudo — a SURREALISMO XPTO, pois claro, através de um “Tarolo”. Pelo meio deu-se a irresistível oportunidade de vivenciar a jarda da hidden gem que é “Pneumáticos”, o boom bap meditativo e de fino recorte patente em “Diamante”, a escuridão que reside no fundo do “Tanque”, a fusão trap e jazz na maratona de flows de “Mosa Rota” ou “BangHello! (O Gesto)”, que em 2015 colocou L-ALI lado a lado com Mike El Nite e poderia muito bem ser a banda-sonora para um qualquer filme snuff.

Tal como há praticamente um ano naquela mesma sala, este espectáculo foi rico no que toca à presença de vários dos artistas com os quais o rapper se tem cruzado. O já referido Mike El Nite foi, provavelmente, aquele que mais reacções do público obteve, mas a lista estendeu-se a Harold (para “Raiz”), João Maia Ferreira (em “Solo”), JÜRA (dose dupla com “Labirinto” e “+”), LEFT. (para um combo “Violento”) e Kyle Quest (a dar purpurinas a “Something”).

É realmente um luxo poder percorrer a discografia de L-ALI ao vivo em pleno 2025, já que vários destes temas, apesar de clássicos e pujantes, costumam estar fora das setlists dos seus concertos. E a prova de que a jogada foi bem pensada e executada — salvo uma rima aqui e ali que o pulmão não conseguiu acompanhar naquele que foi um verdadeiro one man job — foi o calor que emanou de uma plateia muito bem composta num dos principais clubes da capital portuguesa, capaz de entoar grande parte das letras das faixas mais emblemáticas. Venham daí mais 10 anos para que possamos celebrar de novo uma das mais versáteis e irreverentes mentes do MCing português.


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