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Texto: ReB Team
Fotografia: Our Place & Phil Armson (artwork) / Sam Hiscox (foto)
Publicado a: 05/01/2023

As últimas passas.

#ReBPlaylist: Dezembro 2022

Texto: ReB Team
Fotografia: Our Place & Phil Armson (artwork) / Sam Hiscox (foto)
Publicado a: 05/01/2023

Ainda estamos a arrumar a casa e a fazer contas para o que 2023 nos pode trazer. De 2022, faltava-nos esta playlist com o que por cá rodámos ao longo do último mês, uma espécie de prenda de Natal atrasada, mas que vale imenso pelas preciosidades nela contidas, com memórias do que se fez recentemente ao nível da música nacional e internacional em diferentes quadrantes. Para virarmos completamente a página, já só resta desvendarmos as listas com os discos que mais devorámos durante o ano passado — e vamos ser breves nessa tarefa, fica prometido.


[Mumdance] “Jazz Excursion”

Durante algum tempo, o silêncio em volta de um dos mais entusiasmantes DJs e produtores do Reino Unido tornou-se ensurdecedor: onde andava Mumdance? Um dos mais prolíficos criadores de música de dança, que apenas no seu ano de estreia, 2009 se ficou por um único lançamento (daí para a frente, cada ano era preenchido com momentos a solo, colaborações e mixes em catadupa), deixara de produzir sem dar sinal. Passaram-se 3 anos e, depois de uma pausa pessoal, o inglês regressa no seu renovado formato “md 2.0” com MD0001, um single de duas malhas techno diferentes — uma pisca o olho aos synths techno; a outra, “Jazz Excursion”, apropria-se da instrumentália orgânica dos samples, embrulha-a em eletrónica e, de recorte em recorte, sobrepôe-na numa colagem de ritmos quebrados pelo fluir da peça. Pianos, swingsdrumrolls de bateria e um gingão contrabaixo alternam entre os elementos clássicos do techno, criando uma tapeçaria bidimensional e, vá-se lá saber como, coerente. Mumdance está de volta, e ainda bem. Venham mais.

– André Forte


[RealPunch, Uput, Demoniqquê] “Renascimento”

Se em 2021 a premissa foi “até ao pescoço é canela” — ao envergar o fato de macaco dos durinhos Vinnie Jones e Roy Keane, icónicos futebolistas britânicos que deram nome ao EP que RealPunch lançou a meias com o velho amigo Kristoman — a despedida de 2022 foi feita com muita classe… à Roberto Baggio. Este “Renascimento”, a mais recente novidade da Tricoma, label farense, surge com a batida de um hidden gem da produção portuguesa, Demoniqquê, e é uma bela tela pincelada pelas barras recheadas de duplos sentidos de RealPunch e Uput, conhecidos rappers algarvios cujos nomes são um aviso permanente a quem os segue: não os oiçam sem prestar atenção ao conteúdo lírico, porque há sempre muito para desconstruir e decifrar.

A acompanhar o que vão cuspindo, a produção de Demoniqquê paira na onda dos drumless beats, cada vez mais populares, e a sua textura algo sombria e suja, mas com um leve requinte. Esta é a base perfeita para a dupla RealPunch & Uput, ou arriscar-me-ei, Roberto Baggio e Alessandro Del Piero, espalharem classe durante quase 3 minutos. Apenas ao alcance de um virtuoso camisa 10.

– Carlos Almeida


[Império Pacífico] “Sunset Bldv (90’s Spin)” feat. Simão Bárcia

O final de 2022 trouxe-nos um novo disco de Império Pacífico – que é como quem diz, Luan Bellussi (aka trash CAN) e Pedro Tavares (aka funcionário) – e só por isso, devemos estar gratos ao universo. O primeiro disparo do sucessor de Flagship, intitulado de Clubs Hit, foi dado por “Aftershow”, single que conta com a participação do muito lisboeta Panda Bear, um indicador da direção que os Império Pacífico pretendiam levar a sua eletrónica etérea, nostálgica e groovy.

Escolher uma faixa de Clubs Hit é um desafio labiríntico – afinal, estamos perante uma obra com muito a explorar a nível sonoro – mas lá tentamos auferir um pouco sobre uma destas oito cantigas. Caiu a batata quente sobre “Sunset Blvd (90’s Spin)”, a colaboração do duo com Simão Bárcia, uma faixa que alberga em si um coração gigante de desalento suburbano de final de tarde, onde as guitarras românticas do homem dos Cíntia e Biloba se erguem no meio de batidas espaçosas e oníricas (que, claro está, nunca esquecem o groove). Dancem ao som disto – mas contemplem o que vos rodeia em simultâneo. É o conselho que deixamos como nota final de sugestão.

– Miguel Rocha


[Zack Fox] “can’t fight the devil”

É nesta altura que percebemos que um ano não chega para tudo. Fazem-se listagens do que saiu, catalogam-se os “melhores” e a sensação é sempre a mesma: ficou tanto por ouvir. Um décimo do que queríamos, um milésimo do que nos poderia dizer alguma coisa — contas que só se resumem ao que tomamos, e nos levam a tomar, por valioso. Depois há uma outra ânsia — demoníaca, acreditem —, a das revisitas, que nos puxa em todas as direcções contra o tempo que, esse, não estica. Mais vale um disco na mão do que dois por escutar. Mas há um preço a pagar por esse compromisso. E, no fim, é-se (auto-)condenado por ter cão e por não ter. Quem nos dera ter ouvido mais, nuns casos, e mais vezes, nos outros. “If it ain’t one thing, that’s another”, confere-nos Zack. Nesse aspecto, e para mal dos nossos pecados, não há grande coisa a fazer. Can’t fight the devil. Mais vale baixar as janelas, recostar a cabeça e deixar tocar até mais não. Pode ser que entretanto o tempo se esqueça de passar.

– Paulo Pena


[SZA] “Kill Bill”

Quase 20 anos depois da sua primeira aparição, Beatrix Kiddo surge novamente no nosso imaginário colectivo pela mão de SZA. A artista prodígio da Top Dawg Entertainment está de volta com o lustroso SOS, e “Kill Bill” é um dos destaques do segundo longa-duração da artista de r&B norte-americana, uma melodiosa referência ao filme de Quentin Tarantino com o mesmo título.

SZA inspira-se na protagonista de Kill Bill para ir em busca daquilo que pensa ser a cura para o seu coração partido: matar o seu ex-namorado. As suas intenções assassinas são proferidas sob uma batida agridoce, em que o som das teclas se escapa a cada batuque da bateria seca de ritmo simples. Há muito humor no hook de melodia fenomenal, mas por trás disso uma conclusão triste: “rather be in jail than alone”.

“Kill Bill”, tal como a vida do ex-namorado, acaba de rompante. O desfecho é triste mas não é esta morte imaginária a causa. É a solidão que assola SZA mais do que tudo e ouvimo-la preferir o inferno a estar sozinha. São confissões sentidas de uma artista que, mais uma vez, mostra o seu talento para destilar as suas emoções em temas que soam nos ouvidos e ressoam no coração.

– Miguel Santos


[Tilt] “Kapeta Freetyle”

O beat é emprestado do Alchemist, a letra é do gajo que nunca se achou um génio na escrita. Num novo freestyle — em tela street a preto e branco promovida pela LUME — Tilt é Kapeta de Kaneta, Kara Podre, Kancerigeno ou o que mais lhe kiserem chamar. Lama lamacento, cospe toda e qualquer verdade que lhe venha à cabeça, mesmo que isso possa implicar lavar alguma roupa suja em plena praça pública. Aos anos nisto — e no seu prime há, pelo menos, uma década — é com socos verbais destes que nos volta a atingir num ponto fraco e nos abre aquela velha ferida, que é nunca termos tido o prazer de o escutar num álbum a solo, totalmente idealizado por si desde a raiz. Ao mesmo tempo, lembra-nos uma vez mais da existência de projectos como ACC/CDM e Karrossel, Karma. E com droga desta, sabe sempre bem voltar a ter uma recaída.

– Gonçalo Oliveira


[Lon3r Johny & ProfJam] “HALLYWUD”

Diz-se que não importa como começa, mas sim como acaba. E para Lon3r Johny 2022 acabou em grande. O autor de VIDA ROCKSTAR tem causado alvoroço nos palcos e guardou-nos um brinde para Dezembro, numa altura em que se encontra a promover dois grandes concertos em nome próprio, ambos no próximo mês de Fevereiro, primeiro em Lisboa e depois no Porto. ProfJam, seu antigo mentor na grande escola de talentos que foi a Think Music, juntou-se à festa neste novo “HALLYWUD”, mas é Johny quem se sobressai em cima de um trap texturalmente túrbido. O gélido rapper, que fundou a sua própria SNOWYARD, tira o máximo proveito da dicção ao estilo mumble e leva-nos num delírio auditivo digno de ser trilha para um qualquer thriller de orçamento avultado. Os que mais se arrepiaram foram, sem dúvida, aqueles que lhe têm apontado o dedo de forma constante, a quem o artista reserva a última quadra do seu verso, já com uma entrega bem mais cristalina para que a mensagem anti-hipócrita não se perca.

– Gonçalo Oliveira


[Acácia Maior] “Speransa” feat. Landa

No princípio é o batuque e depois vem o embalo do mar feito notas dedilhadas na guitarra, memória de uma diáspora sem fim que chora nas canções. Acácia Maior – Luís Firmino e Henrique Silva – convocam Berlok para comandar a cadência e Landa para dar voz à saudade. E o que acontece por aqui, nesta nova prova de incrível talento desta Acácia Maior, é pura luz: o passado, o presente e o futuro casados numa canção. A tradição, a alma e o sonho casados numa canção. Cabo Verde, o mar e o universo casados numa canção. O ritmo, a melodia e as palavras casados numa canção. Que vivam felizes para todo o sempre.

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