pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Filipe Feio
Publicado a: 11/11/2020

Oito músicas que marcaram o reinado da Think Music

Texto: ReB Team
Fotografia: Filipe Feio
Publicado a: 11/11/2020

Quatro anos chegaram para deixar um legado que provavelmente terá impacto no rap português da próxima década. Fundada por ProfJam, benji price e Nelson Monteiro, a Think Music meteu um ponto final na sua belíssima história no passado domingo e deixou-nos um pouco mais pobres: goste-se ou não da música, não há grandes dúvidas sobre a validade e relevância da mesma para o panorama nacional.

Para uma despedida digna, a equipa ReB seleccionou canções que se evidenciaram entre o material que foi sendo disponibilizado, de 2016 a 2020, pela editora. Sonhos, águas com outros sabores, molhos açucarados, rebuçados ou palácios de cristal: a TM em oito momentos musicais.



[Fínix MG] “Sonhos São Feitos Disso”

“Tantas tácticas para explodir ou “tanto fiz que tanto faz” – duas das muitas deixas que se adequam ao final de um ciclo que nos trouxe aqui. A verdade é que se a Think Music teve sucesso em todos os caminhos por onde se aventurou, o seu fim não deverá ter um grande peso além do simbólico. A missão foi cumprida, e cada soldado está agora devidamente munido para travar as suas próprias batalhas. 

Em relação a arsenais, Fínix MG, o elemento mais enigmático deste quartel, apresentou o seu primeiro álbum, Robert Johnson, no primeiro lançamento desta label em 2020, com “Sonhos São Feitos Disso” a integrar um role de faixas com carimbo de banger. As batidas de benji acendem luzes intermitentes de noites esquecidas, onde corpos inanimados, mas alimentados por “droga, birra, whiskey, nite” se moviam lado a lado, isolados na sua existência, e descontroladamente entregues a estes sons hipnotizantes. As rimas são encriptadas pelo “Bruce Wayne”, o cavaleiro negro nesta selva branca, cuja máscara sempre fez parte da persona. E neste misto de sensações, sobressaem as nóias, os vícios, os conflitos e as incertezas que se vão revelando ao longo do disco. Pesadelos são feitos disso. Mas o sonho (ou pelo menos parte dele) realizou-se graças à Think Music.

– Paulo Pena



[Lon3r Johny] “Crystal Castle”

Lon3r Johny primeiro estranha-se, depois entranha-se. Este estranhamento inicial não é de pasmar: Lon3r foi um dos pioneiros do emo trap em Portugal, e, como qualquer pessoa que vai à frente, é ele quem leva com as farpas de um público que ainda torce o nariz a uma sonoridade fresca.

“Crystal Castle”, apesar de não ser a sua faixa mais aprimorada, marcou o início da sua relação com a Think Music, e, a partir daí, o músico não parou de crescer, levando sempre a sua visão avante, ganhando a cada música que lançava mais fãs, solidificando a sua presença no panorama de trap nacional e influenciando toda uma corrente de rap português que mete respeito no SoundCloud. “Crystal Castle” marcou a explosão do início de uma nova onda em Portugal, a do emo trap, o que é talvez das notas mais interessantes de apontar a esta editora.

– Francisco Couto



[L-ALI] “BABA” (prod. L-ALI & benji price)

Poucas foram as coisas que aconteceram com o selo Think Music que me captaram a atenção, mas nem para um “reles odiador”, como este que escreve, o selo passou indiferente. A qualidade não é alheia aos outputs do colectivo, e uma prova indelével disso foi a passagem, ainda que curta, de L-ALI pelas sua fileira. Nesta co-produção com o boss benji, o rapper permitiu-se a desfilar talento lírico sobre uma bomba de beat como poucos se podem dar ao luxo de fazer. Obrigado, Think Music, por trazeres L-ALI para mais radares.

– André Forte



[Mike El Nite] “Dr. Bayard” feat. Fínix MG & Sippinpurpp (prod. Ice Burz & benji price)

“Dr. Bayard” é um marco para uma geração que abraçou o cloud rap ao mesmo tempo que aceitou sem contestar a associação nítida de uma marca a uma peça cultural. A comunidade mais juvenil deixou-se levar pela febre, e aqueles rebuçados, que facilmente associamos aos nossos avós, transformaram-se num símbolo viral. Mike El Nite tornou-se momentaneamente numa espécie de Marcel Duchamp do trap que se questionou se rebuçados o podiam ser também. Respondeu sim, e assim se tornaram aos olhos do mundo.

Juntaram-se depois Fínix MG, o “underdog” e, provavelmente, um dos rappers mais conscientes da label, e Sippinpurpp, o ícone que melhor representa em português os valores do SoundCloud rap. Uma música que, pelos números e pelo impacto mediático, fica para a história da Think Music e que, sem sombra de dúvidas, conquistou a sua imortalidade na história do trap nacional.

– Fábio Nóbrega



[ProfJam] “À Vontade” feat. Fínix MG (Prod. by Lhast)

Em palco é o hino para o momento mais emocional das actuações pós-álbum de estreia de Mário Cotrim – quem ainda não se arrepiou com a audiência a cantar em uníssono, “Mama, obrigado à vida que me deste; Papa, eu sei bem quanto tu sofreste”, não sabe o que está a perder.

Em disco, num #FFFFFF que marcou a música portuguesa — não só em números mas também na influência que tem a sua individualidade no panorama –, é o primeiro momento em que o beat dá uma passada mais lenta, com aquele sample revertido, com um ProfJam a abrandar de acordo com a temática e a dar o único cosign do álbum — espaço a Finix MG, colega de editora que respondeu à altura à oportunidade, para brilhar. 

ProfJam, que levou isso para a Think Music, habituou-nos à falta de medo de se diferenciar do resto, à capacidade de arriscar na mudança de velocidade, cantando uma autêntica dedicatória que foi canalizada de um portal ligado directamente ao coração para um microfone mergulhado em auto-tune. E fê-lo com uma catarse inigualável. Obrigado por esta, Mário.

– Vasco Completo



[L-ALI] “UAIA” feat. ProfJam (prod. Pesca)

A aquisição de L-ALI fez da Think Music uma editora capaz de se intrometer num segmento mais “tradicional” no que toca ao MCing, introduzindo ainda Pesca a um novo público e permitindo-lhe assinar um dos clássicos da nova geração do rap tuga antes deste se mudar em definitivo para as catacumbas do techno. Infelizmente, a passagem do homem que despertou o underground com SURREALISMO XPTO pela label foi demasiado curta, tendo gerado apenas mais um tema, “BABA”, e deixado uma lacuna apenas colmatada por xtinto um par de anos depois.

– Gonçalo Oliveira



[Sippinpurpp] “Sauce”

Nos últimos anos, não houve figura mais controversa no rap português: as roupas, o cabelo, a entrega letárgica e o conteúdo das músicas foram algumas das armas que se usaram para atacar Sippinpurpp, usando-o como exemplo daquilo que, para os gatekeepers da cultura, era o zénite do que estava errado na nova geração de artistas — e até Valete largou o seu nome em “Colete Amarelo”…

Por isso mesmo, não havia melhor casa para recebê-lo que a Think Music, sítio que compreendeu que havia muita força em alimentar a diferença em vez de renegá-la à partida. Com um instrumental de rkeat e vídeo realizado por Rui Dos Anjos, “Sauce”, o primeiro tema a solo de Purpp a ser publicado no canal da editora, oficializou-o como força pop num universo português que ainda mostrava algumas reticências sobre estas novas ondas. E “o ouro no pescoço” tornou-se cada vez mais real depois deste lançamento…

– Alexandre Ribeiro



[ProfJam] “Água de Coco”

12 milhões de views e quando ProfJam diz que as suas barras são “berros de um louco” quedamo-nos com a certeza absoluta de que ele só pode estar a brincar: a sua visão do rap foi sempre extremamente lúcida e profundamente ambiciosa; aguentou estoicamente todo o tipo de críticas e de resistências, transformou o auto-tune num instrumento que lhe permitia expressar emoções e fez à língua o que Pollock fez às telas, transformando-a num depósito de pingos de génio dentro do qual é tão fácil uma pessoa perder-se quanto encontrar-se. O tema tem tudo: barras, berros, uma melodia gulosa pelos nossos ouvidos, uma bela batida de Lhast e um vídeo a sério de André Caniços. É assim que se agarra o futuro. E ProfJam não é, certamente, deste tempo. Já lá vai, além, depois da curva, vitaminado pela água de coco e por algo mais que não provamos ainda. 

– Rui Miguel Abreu

pub

Últimos da categoria: #ReBPlaylist

RBTV

Últimos artigos