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Texto: ReB Team
Ilustração: Ricardo Rito
Publicado a: 11/01/2023

De ROSALÍA a FKA twigs.

Os melhores álbuns internacionais de 2022

Texto: ReB Team
Ilustração: Ricardo Rito
Publicado a: 11/01/2023

Somos incapazes de virar a cara à luta. Seja qual for a sonoridade, abrimos quaisquer links sem receio, deixamo-nos levar pela música neles contida e permitimos que a caneta seja o barómetro. Acreditamos que não existem discos impertinentes, mas sim uns que nos estimulam mais do que outros, que nos sugerem palavras ao ouvido, nos fazem recordar histórias ou, quem sabe, inventar aquelas que poderão ainda estar por vir.

2022 foi um óptimo ano no que à colheita de álbuns diz respeito, mas como ontem lembrava Rui Miguel Abreu numa caixa de comentários do ilustre critico/youtuber Anthony Fantano, a melhor época para se viver a música é sempre aquela que nos permite jogar com o passado e viver de perto com o que nos reserva o futuro. Posto isto, há a urgência de virar a página, porque 2023 tem 12 meses de possibilidades para se tornar num ano ainda melhor do que aquele que findou. Está na hora de virarmos a página. E depois de ontem termos dado a conhecer uma selecção de 30 projectos oriundos da esfera nacional, destacamos por cá outros 40, desta vez criados em qualquer outro lado que não na terra do fado.


[ROSALÍA] MOTOMAMI

Emaranhado de virtuosismo e inventividade, reconhecimento e intimidade, MOTOMAMI é um dos mais relevantes manifestos de liberdade da cena musical contemporânea. ROSALÍA arriscou sem receios, rompeu os freios da uniformização e começou uma nova e desafiante linguagem situada num trânsito onde cabe a bachata e o bolero, o samba e o flamenco, a balada e o reggaetaon, a experimentação eletrónica e a fúria industrial. Tudo junto, misturado sem preconceitos, numa construção que nunca perde o prazer lascivo da procura do novo. Pelo caminho, conquistou milhões de pessoas que, com a sua música, estão também a encontrar os seus trilhos para a liberdade. Quando se fizer a história do futuro, ela passará por aqui.

– João Mineiro


[Kendrick Lamar] Mr. Morale & The Big Steppers

Não será surpresa para ninguém ver mais um álbum de Kendrick Lamar em mais uma lista como esta. Também não foi surpresa para ninguém que, mesmo perante a fasquia das elevadas expectativas alimentadas ao longo dos últimos cinco anos, K-Dot tenha correspondido à sua obra feita. Ainda assim, o valor de Mr. Morale & The Big Steppers não se confirmou como dado adquirido à partida. Mais uma vez, o rapper de Compton atirou-se para fora de pé, desafiou-se a ser maior que ele próprio — e conseguiu. Talvez tenha falhado (e bem) em apenas num aspecto: tanto fez por desconstruir a imagem do herói que víamos nele, que, ao apontar para as suas falhas, revelou-se ainda mais admirável. O melhor rapper da sua geração? Sem sombra de dúvida.

– Paulo Pena


[Sudan Archives] Natural Brown Prom Queen

Brittney Parks ligou o cheat engine, que é como quem diz que aprimorou os dotes de exploradora sónica e casou-os com uma estética ainda mais apetecível ao comum dos ouvintes. E isso é algo que a própria reconhece logo à segunda faixa de Natural Brown Prom Queen, através de um refrão em que repete vezes sem conta, “I’m not average”. À data de hoje, Sudan Archives é um fenómeno do circuito alternativo capaz de se desdobrar em canções r&b, rap, jazz e de electrónica com a mesma perícia que os nomes mais agigantados do universo pop. E como se não bastasse o que faz em disco, provou-nos este ano que é também uma figura capaz de encher um palco e conduzir um espectáculo vibrante — se nos rendemos à formação minimal que apresentou no último Super Bock Em Stock, imaginem o que faria ao leme de uma banda completa.

– Gonçalo Oliveira


[Danger Mouse & Black Thought] Cheat Codes

O rapper favorito do vosso rapper favorito e o produtor que explorou a zona cinzenta que ninguém sabia existir entre a pop clássica dos Beatles e o flow futurista de Jay Z entram juntos num bar. Black Thought apresenta-se: “I’m like Thelonious at the underground piano”. Mouse acompanha-o com batidas que são psicadélicas no sentido Alice no País das Maravilhas do termo. E de trás do balcão da memória surge um mascarado que já é espírito em maiúsculas a dizer que está a arranhar a coroa “with the names of lames who yapped the noun / Or verb, for that matter”. Isto, gente boa, é ARTE em caixa alta.

– Rui Miguel Abreu


[Yaya Bey] Remeber Your North Star

Quando não sabemos para onde ir, um olhar para cima pode ajudar: Yaya Bey traduziu esta ideia num conjunto de canções a que deu o título Remember Your North Star. Ao pegar em soul, jazz, reggae, afrobeat e hip hop, a artista de Brooklyn, Nova Iorque, criou um r&b altamente personalizado que soa fresco e francamente cru, encontrando os seus pontos altos em faixas como “big daddy ya”, “alright”, “meet me in brooklyn”, “reprise”, “rolling stoner”, “street fighter blues” ou “blessings”. É música que vai buscar emoções directamente à raiz (lidando com misoginia, traumas que vão passando de geração em geração ou relações). Citando o português João Não, o “coração salta do peito, fica a bater na coluna” à nossa frente neste disco.

– Alexandre Ribeiro


[billy woods] Aethiopes

Visionário absoluto do seu tempo, as quase duas décadas de actividade a solo têm trazido muito ouro. Aethiopes aterrou em 2022 como espelho distorcido, sujo e enigmático de toda uma era. Traz consigo a facção mais abstracta neste sempre renhido campeonato – e faz-se rodear de uma imensa comunidade em sintonia. Lírista exímio, usa os versos como quem maneja sabres. Rasga a tela das estórias aqui contadas para descobrirmos uma dimensão carnal e vívida, como deverão ser os grandes discos. Aethiopes é um puzzle em movimento, apelando aos sentidos. Mais que homem de palavras e rimas, woods deixa clara a sua condição enquanto expressionista.

– Nuno Afonso


[Little Simz] NO THANK YOU

NO THANK YOU de Little Simz foi um dos últimos lançamentos do ano, mas sem grandes surpresas estabeleceu-se de imediato na lista dos melhores de 2022… e também não é para menos. Que se redirecione o foco da mira em títulos como “melhor rapper feminina” para os lugares que se encontram ao lado dos seus contemporâneos homens, pois foram necessárias apenas dez músicas para entender o peso da caneta. Determinada a vocalizar injustiças e com a destreza fincada para o fazer, este álbum é um grito assertivo elado de frustração vindo de um colosso farto de esperar que se levantem para aplaudir de pé; agora são bem capazes de ficar sem assento.

– Beatriz Freitas


[Moor Mother] Jazz Codes

Escrevi: “na particular fórmula aprimorada pela artista que também responde ao nome Camae Ayewa convivem o pulso cerrado do hip hop, a liberdade do free jazz, a sofisticação do melhor r&b, o discurso político elevado pelo movimento #BlackLivesMatter, o afrofuturismo professado pelas mais avançadas mentes afro-americanas, de Sun Ra a Greg Tate, e um fundo sentido exploratório que em determinados momentos do álbum permitem chegar a território talvez raramente cartografado”. É isso. E uma poesia funda escutada nos ombros de gigantes, moldada pelo saber dos blues e atirada com a ferocidade de quem busca justiça.

– Rui Miguel Abreu


[Beyoncé] RENAISSANCE

Beyoncé regressou aos estúdios com uma missão: levar-nos de volta para a pista de dança e colocar-nos a soar a abanar a raba. Em RENAISSANCE, Beyoncé partiu em busca dos ritmos do disco, da house, do funk, do dancehall e de uma restante miríades de universos da eletrónica e da pop para hastear uma ode à música negra e a quem inovou – em particular, a população LGBTQI+ negra – no desenvolvimento de muita da eletrónica contemporânea. RENAISSANCE é, simultaneamente, urgente na sua missão de nos levar à libertação total enquanto indivíduos após uma altura de imensa conturbação, e mais uma inscrição de maravilha pop num currículo onde o formato de álbum continua a ser o ideal para escutar a Queen Bey.

– Miguel Rocha


[Roc Marciano & The Alchemist] The Elephant Man’s Bones

Quando dois patrimónios vivos do rap mundial se juntam, era impossível história não ser escrita. Depois de várias colaborações estrondosas, Roc Marciano e The Alchemist afirmam-se de vez como uma tag team lendária com este The Elephant Man’s Bones, que alastra o fascínio outrora apenas médico por Joseph Merrick até ao campo musical. A caneta sinistra e sempre diferenciada de Roc Marci é interpretada na perfeição pelo toque de Midas de Alchemist, neste longa-duração carregado de produções assombrosas e geniais que elevam a outro patamar as vitórias e derrotas do rapper de Long Island, fazendo-nos viajar até a uma era de Capos e Consiglieres, apesar de vestir a pele de um Don durante 38 minutos. Absolutamente imprescindível.

– Carlos Almeida


 

[Soul Glo] Diaspora Problems


[Saba] Few Good Things


[Smino] Luv 4 Rent


[MAVI] Laughing So Hard, It Hurts


[Pusha T] It’s Almost Dry


[JID] The Forever Story


[DOMi & JD BECK] NOT TiGHT


[Stromae] Multitude


[Mary Halvorson] Amaryllis / Belladonna


[Ab-Soul] HERBERT


[Baco Exu do Blues] QVVJFA?


[Nicholas Craven & Boldy James] Fair Exchange No Robbery


[Makaya McCraven] In These Times


[The Comet is Coming] Hyper-Dimensional Expansion


[Jockstrap] I Love You Jennifer B


[Black Country, New Road] Ants From Up There


[The Smile] A Light for Attracting Attention


[Drake x 21 Savage] Her Loss


[Kenny Beats] LOUIE


[Steve Lacy] Gemini Rights


[Domo Genesis] Intros, Outros & Interludes


[Loyle Carner] hugo


[Earl Sweatshirt] SICK!


[Sonnyjim] White Girl Wasted


[Shygirl] Nymph


[Conway the Machine] God Don’t Make Mistakes


[Westside Gunn] 10

[Ezra Collective] Where I’m Meant To Be


[Nosaj Thing] Continua


[FKA twigs] CAPRISONGS

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