[ILUSTRAÇÃO] Dialogue [MIX] mr_mute
O Rimas e Batidas orgulha-se de apresentar os 20 melhores trabalhos de rap nacional, juntando numa incrível selecção todos os sub-géneros que povoam a nossa cada vez mais diversificada teia editorial. O trap, o boom-bap, os newcomers ou as “velhas raposas”: todos estão representados numa lista que resulta de votações de toda a alargada equipa que todos os dias contribui para o ReB.
A consequência da contabilização dos gostos individuais é uma lista que equilibra nomes tão diferentes quanto os de Keso ou Phoenix RDC, Conjunto Corona ou ProfJam ou ainda de dB e Nel’Assassin. A qualidade não se mede apenas com rimas e esta lista é o maior exemplo disso, com a arte sampladélica dos produtores a ser igualmente evidenciada. Nota de relevo também para a entrada de dois longa-durações que marcam a estreia em nome próprio de Harold (GROGNation) e Tom, rapper e produtor que pertence aos quadros da Mano a Mano.
A lista, que podem ver em baixo, está organizada por ordem alfabética e junta mixtapes, álbuns e EPs editados em 2016 por artistas portugueses.
[AlcoolClub] Rap Proibido
Mais informações sobre o álbum.
“‘Sempre nos vimos como um club daí a não considerarmos os intervenientes como participantes mas sim como membros do club’, explica Praso ao Rimas e Batidas quanto ao alinhamento dos rappers, que vai contar com nomes habituais no seio do culto bem como algumas novidades. A Praso juntam-se Montana, Harte, BewareJack, Drunk Nigga e Mass, com Thundercuts e Sims a assumir o controlo dos pratos. Keni B. e Sara D. Francisco darão a voz a alguns dos refrões, Marcolino (trombone) e Gabrielle De Rose (guitarra) ajudam na instrumentação.”
[Beware Jack & Blasph] O Processo
Crítica ao álbum por Francisco Noronha.
“Num ano que se advinha retumbante para o hip hop português, inclusivamente com o regresso de muitos nomes oldschool (STK e Mundo, Keso, Pro’Seeds, NBC, AlcoolClub), BWJ e Blasph assinam um álbum que, não sendo particularmente arrojado ou inovador em relação aos seus trabalhos anteriores, é uma demonstração de solidez e domínio da sua arte, sendo certo que este é um daqueles trabalhos que também valerá muito pelas actuações ao vivo, ou não fossem BWJ e Blasph, além de talentosos rappers, dois excelentes perfomers em palco.”
[Conjunto Corona] Cimo de Vila Velvet Cantina
Reportagem do concerto no Musicbox por Ricardo Farinha.
“Durante hora e meia (será? acho que ninguém deu pelo tempo passar), dB, Logos, Kron e o inigualável ‘homem do robe’ que é, indubitavelmente, a materialização de Corona, desfilaram temas (é como se fossem todos singles) e puseram o Musicbox, e Lisboa, com um cheirinho a Cimo de Vila. Tudo pode ser comparado — ‘Bangla’ foi dedicado à Avenida Almirante Reis, por exemplo; e, como já havia sido prometido, ‘Mafiando Bairro Adentro’ foi cantada numa versão alternativa, com os hoods de Lisboa (mesmo que alguns fiquem na Margem Sul e outros nos subúrbios da capital; geografia adiante).”
[dB] 4400 OG
Ensaio sobre a primeira metade do ano para o rap nacional.
“‘Donuts sobre Gaia’, dizia dB ao Rimas e Batidas uns meses antes de lançar o projecto. E nem se pense por um segundo que equiparar a sua obra a um dos trabalhos máximos do hip hop instrumental é blasfémia. O hip hop português não tinha uma obra com tanta vida lá dentro desde Beats Vol.1 de Sam the Kid e este é um marco na construção do imaginário diversificado do rap portuense.”
[Dillaz] Reflexo
Crítica ao álbum por Alexandre Ribeiro.
“Reflexo – o título do álbum – é totalmente escrito e produzido por Dillaz, demonstrando que o artista não se fica pelo papel e caneta. A sonoridade que se ouve ao longo da obra não foge do que se ouve em registos como Dillaz & Spliff, EP onde divide os louros com o produtor, ou nas mixtapes anteriores. Não é uma crítica negativa, Dillaz sabe o que faz e fá-lo à sua maneira, sendo responsável por trazer um dos flows mais originais que podemos ouvir no hip hop nacional.”
[Fuse] Caixa de Pandora
Mais informações sobre o álbum.
“Informação ao Núcleo (2001) e Sintoniza (2003) são dois longos do rapper que se destacaram no hip hop underground português. O próximo trabalho de Fuse a título singular surge a escassos meses dos Dealema celebrarem os 20 anos de carreira – Expresso do Submundo foi a estreia em 1996.”
[J-K] Contos de Espadas
Entrevista com J-K por Amorim Abiassi Ferreira.
“Pediu a produtores como Roger Plexico, NOFUTURE, Gobi Bear, Spark e OSEB alguns dos seus beats mais sujos e obscuros para pintar os cenários do novo álbum. As temáticas na escrita também se ajustaram à nova visão e o projecto, criado ao longo dos últimos dois anos, pretende ser uma obra concisa que descarrega toda a agressividade sem deixar nada por dizer. ‘Chego ao fim dos álbuns e não quero fazer isto outra vez. Foi isso que aconteceu no Sorriso Parvo e não quero fazer este álbum outra vez. É bom sinal, é sinal que quando acabo os trabalhos, estes estão fechados’.”
[Harold] Indiana Jones
Mais informações sobre o álbum.
“Quanto ao processo, o MC dos GROGnation revela: ‘Acabou por ser mais demorado do que eu esperava: conciliar a faculdade, concertos, os GROGNation e tudo mais acabou fazendo com que não tivesse o meu foco a 100% como eu queria. Resolvi adoptar uma estratégia um bocado diferente, mas ao mesmo tempo não queria demorar demasiado tempo para lançá-lo e sentirem-se grandes diferenças de evolução e novas vibes . Estou muito feliz com o resultado final’.”
[Holly Hood] O Dread Que Matou Golias
Crítica ao álbum por Alexandre Ribeiro.
“Sete faixas a servirem de aviso para todos que Holly Hood está cá para conquistar o seu espaço a solo. O instrumental mais chill do álbum é também a despedida do primeiro esforço da trilogia. O refrão de Short Size é uma homenagem bastante sentida e um o final feliz para uma luta – interna ou externa – com a sombra que tem tudo para desaparecer depois de juntarmos as três partes que compõe O Dred Que Matou Golias. O primeiro ataque foi bem-sucedido, mas a guerra – neste caso – ganha-se em três batalhas.”
[Keso] KSX2016
Crítica ao álbum por Francisco Noronha.
“Raios Te Partam (2003), O Revólver Entre as Flores (2012), KSX2016 (2016). Três álbuns, três clássicos oferecidos ao hip hop português de um homem que, ora em tom mais azedo, zombeteiro ou sarcástico, ora poético e sensível, convoca em si figuras artísticas tão próximas e tão distantes como Almada Negreiros, Luiz Pacheco, João César Monteiro ou José Saramago, com a particularidade de, ao contrário do que por vezes acontece com personalidades ‘endiabradas’ e desalinhadas, nunca cair em niilismos gratuitos de espécie alguma, antes dizendo sempre exactamente o que pensa. Até à data, este é, a anos luz da concorrência, o disco de hip hop português de 2016.”
[L-Ali e Pesca] Baço
‘Baço é suposto trazer o ar pesado para os phones’, diz L-ALI ao Rimas e Batidas. É um acumular de horas de estúdio partilhadas entre os dois vizinhos que buscam em criar novas fórmulas. Seja nos instrumentais ou nas palavras. Dizer o que ainda não foi dito, tocar o que ainda não foi tocado. Ainda nas palavras do rapper, estar Baço é ‘ter batalhas de supostos egos que muitas vezes surgiram por perguntas que a cabeça faz quando está mais baça.'”
[Maze] Maze
Ensaio sobre a primeira metade do ano para o rap nacional.
“Maze é um dos veteranos a quem se reconhece gosto requintado e lírica complexa, sendo sempre obrigatório parar para ouvir quando existe um longa-duração para estudar do MC nortenho. Batidas de velhos conhecidos como Sam the Kid, Ace e Mundo Segundo ou de novas caras como Raez ou SaiR metem a cabeça a abanar ainda antes de ouvirmos vozes em Maze numa ligação clara entre o passado e um presente que nunca deixou de ser boom bap. É desta forma que encerramos a lista e uma das melhores primeiras-metades do ano que testemunhámos no hip hop nacional.”
[Mike El Nite] O Justiceiro
Ensaio sobre a primeira metade do ano no rap nacional.
“A ideia de justiça é intrigante: a nossa visão dos acontecimentos é sempre influenciada pela educação, experiências pessoais e outras tantas coisas que nos tornam seres únicos. Mike El Nite é herói sem máscara, mas carregado de metáforas, trocadilhos e referências que vão dos jogos de consola à intervenção mais política. Não se espera dele que salve Portugal, mas existem n’O Justiceiro ideias mais que suficientes para acreditarmos que também não o vai tornar pior – e isso já é meio caminho andado num mundo onde dizer a verdade é coisa rara.”
[NBC] Toda a Gente Pode Ser Tudo
Crítica ao álbum por Pedro Arnaut.
“O disco gira à volta de letras pessoais, por norma cantadas, que respondem aos beats muito 2016 de Slow J, o produtor do presente e do futuro. Este equilíbrio entre passado, presente e futuro está em toda a parte, na voz e na produção, sim, mas também em pormenores como os do vídeo de ‘Pulmão‘, que arranca com o próprio NBC rodeado de gravador, caneta e papel, longe das linguagens digitais que também domina, do Facebook ao YouTube. Numa das entrevistas de promoção referiu que este disco é para ouvir de phones, com atenção ao detalhe, mesmo que para isso tenhamos que ouvir uma canção e outra daqui a pouco. Ou seja, não importa que oiçamos o álbum de forma fragmentada desde que em cada fragmento dediquemos 100 por cento da nossa atenção, bloqueemos o smartphone e fechemos os olhos.”
[Nel’Assassin] Niles Mavis
Mais informações sobre o álbum.
“O trocadilho é com o nome do lendário trompetista de jazz, Miles Davis, falecido em 1991. A música negra norte-americana sempre esteve presente na obra de Nel’Assassin. ‘[Este disco] abraça o jazz, a soul, o funk. Sai-me naturalmente. Para ser sincero, o jazz foi o que me incentivou a fazer música’, diz ao Rimas e Batidas.”
[Phoenix RDC] Renegado
Entrevista com o artista por Rui Miguel Abreu.
“Phoenix RDC é a verdade. The real deal, escreveríamos nós se estivéssemos na América. Mas não, Phoenix não é de Nova Iorque, nem sequer de Compton, mas de uma terra igualmente distante chamada Vialonga, bem à saída de Lisboa, mas que podia ser noutro planeta tal a diferente realidade que os seus olhos testemunharam ao crescer. É isso que se lê nas entrelinhas desta conversa. E o hip hop que Phoenix RDC faz é um hip hop que reage e comenta a essa realidade, mas que também vive dela e para ela. O hip hop é uma forma de a traduzir. Caos, primeiro, e Renegado, lançado agora na forma de uma pen drive, são duas mixtapes que Phoenix RDC entregou às ruas com a sua visão de uma vida nem sempre levada do lado certo das normas, facto pelo qual o rapper não pede desculpa, mas antes assume como condição inevitável.”
[ProfJam] Mixtakes
Ensaio sobre a primeira metade do ano no rap nacional.
“Existe toda uma nova geração americana de hip hop a invocar o stream of consciousness e a procura por algo que vá para lá do palpável – o espiritual, mais concretamente. Kendrick Lamar é um exemplo claro, mas nomes como Joey Bada$$ ou os The Underachievers também têm agrupado fãs à volta deste estilo que apela mais à alma do que ao corpo. ProfJam encaixa-se nesse movimento – que em Portugal tem nos Dealema o seu maior expoente – e traz novas abordagens à parte rítmica da palavra em Mixtakes. O seu estilo modificou-se desde The Big Banger Theory, existindo agora um rapper pacífico em vez do artista em esteróides que sobressaía em TBBT.”
[Pro’Seeds] Soft Power Sagrado
Ensaio sobre a primeira metade do ano no rap nacional.
“Se ao vivo resulta, em disco é obra coesa com gincana na batida e relatos vívidos pela voz de Berna. O MC é certeiro nas palavras e traz um storytelling digno daquilo que se tem feito de melhor pelo Porto com destaque para faixas como ‘Quim’ ou ‘Grunf’. Um colectivo nascido da proximidade geográfica acaba por dar à luz um trabalho que cria estranha proximidade emocional.”
[Sensei D.] Vivificat
Entrevista com o artista por Bruno Martins.
“Entre colaborações, mixtapes e beat tapes, nunca tinha havido tempo nem disponibilidade mental para gizar um trabalho mais conceptual. Vivificat, um disco que apela ao florir e ao renascer do indivíduo, é o primeiro álbum da carreira de mais de dez anos do produtor e beatmaker que tem trabalhado e colaborado com tantos MCs nacionais. Agora, neste trabalho, reúne à sua volta uma equipa de rappers que vão desde Fuse e Karlon, passando por Beware Jack, Real Punch, TNT, Nerve até João Tamura – entre outros – que iluminam os beats pesados, potentes e cheios de positivismo que Sensei D desenhou para esta vivificação.”
[Tom] Guarda-factos
Crítica ao álbum por Alexandre Ribeiro.
“A força do álbum consiste mesmo na coesão que apresenta, sentindo-se do início ao fim que esta é uma viagem bem pintada pelos instrumentais e palavras que ouvimos em Guarda-Factos. O feeling clássico que ouvimos do início ao fim assenta que nem luva a TOM e as temáticas são variadas – temos intervenção em ‘Caminhos Afastados’, por exemplo. TNT, o CEO da Mano a Mano, tem produção executiva deste álbum e, se serviu como uma espécie de mentor, pode estar convicto que a sua tarefa foi completada com sucesso. TOM denota inteligência e reconhece que, para já, precisa de ser auxiliado para atingir o potencial na sua totalidade: ‘Não vou andar escondido/muito menos calado/quero que o melhor de mim seja aproveitado’.”