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Publicado a: 23/06/2016

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Review holly hood

 

[TEXTO] Alexandre Ribeiro

Entramos agora na época balnear e é interessante ver como desde o início de 2016 vamos encontrando pontos fulcrais na leitura das novas linguagens do rap nacional. O Dread Que Matou Golias é projecto ambicioso dividido em três partes a evocar a passagem bíblica de David e Golias. Incrível a facilidade com que a Superbad cria canções que não têm falhas: são o produto hip hop à prova de bala.

E passemos à analogia que dá título ao álbum: Dread é Holly Hood e Regula é Golias. Não pensem que vem daqui uma qualquer conspiração de revolução dentro do colectivo. Dom Gula é uma das figuras mais relevantes do panorama hip hop nacional – tem sido um dos artistas com mais concertos, por exemplo – e seria normal, a partir do momento em que saísse este álbum, que as comparações fossem feitas. A sombra de Regula é o único Golias desta história que tem em Here’s Johnny o joker que “luta” pelas duas figuras.

 



Holly Hood e Here’s Johnny são figuras indispensáveis no som que ouvimos vindo do autor de Casca Grossa e a Superbad parece cada vez mais pronta para assumir-se como um dos colectivos com o som mais fresco do hip hop nacional. A “americanização” da qual Regula falava na entrevista com Rui Miguel Abreu para o ReB é proeminente na produção e é preciso dar – novamente – o crédito a Here’s Johnny pelos beats incríveis, sendo perito a ler o que o MC precisa para se tornar num só com o instrumental.

 



“Qualquer Boda” é a faixa menos conseguida da primeira parte da trilogia e é uma experiência falhada de juntar Regula ao universo de Holly Hood, mesmo sabendo que o segundo teve prestações bastante satisfatórias e soube-se encaixar em Casca Grossa e Gancho, por exemplo. A tentativa de criar um hit à What a Time to Be Alive – álbum conjunto de Drake e Future – acabou numa falsa partida regada a auto-tune. O melhor vem depois…

 



Rewind, rewind. Play no Youtube e começamos com “O Meu Nome”, a faixa de introdução que nos inicia nesta arte de estudar Holly Hood. Os estrangeirismos, a mutabilidade de flows e os refrões que rodam na cabeça até à exaustão são algo que se constata de música para música. A nível lírico não fica nada aquém do seu “Golias” e denota um empenho extra nas faixas com duplos sentidos e metáforas bem presentes ao longo do álbum.

“E não é querer ser má rês ou falta de humildade / mas boy eu tou’a cuspir marés vocês só humidade”

 



Here’s Johnny. Não, não estou a fazer uma referência ao The Shining, realizado por Stanley Kubrick. Para os apreciadores mais atentos do rap nacional este é um nome obrigatório na vossa lista de produtores favoritos. Já todos sabemos o que fez para Regula e depois de ouvirmos a primeira parte d’O Dread Que Matou Golias podemos confirmar que não existe melhor, actualmente. Apesar de pescar muito na, lá está, cena americana, o produtor da Superbad tem uma sensibilidade incrível para desenhar qualquer tipo de ambiente – ele usa tudo, desde arranjos de cordas, sintetizadores mais negros ou um saxofone numa bridge para um refrão, sempre com incrível pertinência e bom gosto. “Fácil”, pºor exemplo, é uma malha incrível, o instrumental é soberbo e o outro torna ainda mais fascinante a forma como a música foi criada.

“Mesmo acabando a magia quem diria que eu te dei um universo /Quando tu só querias espaço”

 



Antes de sair ODQMG, já todos falavam de “Cobras e Ratazanas”. O som do ano? Talvez. Uma das melhores canções que já saiu da Superbad? Certamente. As pegadas técnicas de Holly Hood estão cá todas: existem pelo menos três formas de rimar diferentes – torna a audição mais fácil e menos monótona – num espaço de quatro minutos. O refrão escrito pelo próprio MC e cantado por Bigg Favz não engana: o coro nos concertos vai acontecer, sem dúvida.

 



Sete faixas a servirem de aviso para todos que Holly Hood está cá para conquistar o seu espaço a solo. O instrumental mais chill do álbum é também a despedida do primeiro esforço da trilogia. O refrão de Short Size é uma homenagem bastante sentida e um o final feliz para uma luta – interna ou externa – com a sombra que tem tudo para desaparecer depois de juntarmos as três partes que compõe O Dred Que Matou Golias. O primeiro ataque foi bem-sucedido, mas a guerra – neste caso – ganha-se em três batalhas.

 


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