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Publicado a: 24/02/2016

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[TEXTO] Alexandre Ribeiro

 

Coesão. Esta é a primeira palavra que me vem à cabeça quando termino a audição do álbum de estreia de TOM, a nova coqueluche da Mano a Mano. Não existem grandes malabarismos e este TOM é, penso eu aqui sentado ao olhar para o roster da editora, a antítese de Nerve: sereno e a mostrar autoridade de veterano a atirar as primeiras rimas para o meio do pântano que é o hip hop português.

A força do álbum consiste mesmo na coesão que apresenta, sentindo-se do início ao fim que esta é uma viagem bem pintada pelos instrumentais e palavras que ouvimos em Guarda-Factos. O feeling clássico que ouvimos do início ao fim assenta que nem luva a TOM e as temáticas são variadas – temos intervenção em “Caminhos Afastados”, por exemplo. TNT, o CEO da Mano a Mano, tem produção executiva deste álbum e, se serviu como uma espécie de mentor, pode estar convicto que a sua tarefa foi completada com sucesso. TOM denota inteligência e reconhece que, para já, precisa de ser auxiliado para atingir o potencial na sua totalidade: “Não vou andar escondido/muito menos calado/quero que o melhor de mim seja aproveitado.”

Um pequeno apontamento sobre a Mano Mano. Blasph, TNT e Nerve são o trio que sobressai da editora almadense e a entrada de TOM só vem atestar uma coisa: cada registo que sai com o seu selo é ponderado e tem sempre qualidade comprovada – cá em Portugal existem poucas editoras das quais podemos dizer o mesmo. 2016 promete: TNT anda a trabalhar no Unhas e Dentes Vol.2 e O Processo de Beware Jack e Blasph tem o seu lançamento marcado para esta Primavera.

Voltemos a Guarda-Factos. O passeio por Almada é feito de realidade, isso é garantido. “Temporal” é um instrumental com chuva a tingir os órgãos de cor e a dar vivacidade às palavras do MC, que nos vai guiando com velocidade vertiginosa pela faixa abaixo. As temáticas são mundanas, mas tratadas de forma ácida e com consciência. Não existem veleidades por aqui. “Inspiro-me” é sabedoria de rua a destilar poesia sobre o processo criativo e demonstração de skill. Existem pérolas a saltar à vista pelo álbum todo, mas “Manifesto” é a grande malha de Guarda-Factos: uma canção onde professor e aluno se juntam para criar um clássico de Almada e onde juntos mostram química na troca de rimas com habilidade acima da média em cima de um instrumental sumarento de DJ Player.

A nova escola tem ganho novos nomes fortes e TOM certamente que passará a estar nas listas de jovens promessas, lado a lado com Slow J, GROGNation, L-Ali ou Vilão. Vive-se neste presente um ambiente efervescente na Margem Sul, mais exactamente em Almada. Estão por isso reunidas as condições ideais para o crescimento sustentado do novo talento da Mano a Mano – Tom está no sítio certo e esta é a hora para vingar.

 

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