2017 já tinha sido um ano muito próspero para o rap brasileiro. Baco Exu do Blues até tinha encontrado as palavras que o definiriam, meses antes: “o ano lírico”. E a verdade é que foi. O próprio Baco lançou um seminal álbum de estreia com Esú, Don L escreveu-nos um Roteiro Pra Ainouz, Vol. 3 três anos depois de uma brilhante mixtape a solo e Djonga firmou-se como um dos melhores rappers da história contemporânea brasileira ao contar-nos a sua Heresia. Tudo isto para mencionar apenas metade, já que 2017 foi também o ano que nos trouxe Rincon Sapiência, niLL, BK – o mesmo BK que em 2019 irá partilhar palco com Kendrick Lamar no Lollapalooza São Paulo, por exemplo –, Flora Matos ou o regresso de Rodrigo Ogi.
Estivemos em São Paulo, falámos com muitos deles em primeira mão e acompanhámos de perto um Brasil em luta constante que se gritava nas rimas enquanto vimos o género ganhar expressão à escala mundial. Por esta altura já devem ter percebido a ideia: 2018 teria que se esforçar. Talvez tenha sido por isso que eu própria tive a sensação de que este ano estava a ser um ano “lento” em novidades. Deste lado, ainda se fez sentir por muito tempo a ressaca do vaporwave de niLL, por exemplo. E muitos óptimos álbuns, como o Electrocardiograma de Flora Matos, precisavam ser consumidos uma e outra vez. Vão lá dar um play, hoje, em faixas como a “Corre das Notas” e depois digam-me se não tenho razão.
A verdade é que o ano lá encarrilou e, se há uns meses eu ainda acreditava que seria difícil ter um ano tão próspero, hoje vejo-me aflita para meter num artigo algo como “tão simplesmente” 12 álbuns a ter em conta. A inevitável limitação da noção de lista, principalmente num país continental, ajuda a explicar o desafio; a importância de vários álbuns, em vários aspectos fundamentais e não apenas na ideia de consensos, talvez seja um dos principais motivos pelos quais não há ninguém que se atravesse com um conjunto de melhores álbuns sem um certo amargo de boca.
Posto isto, listas valem o que valem e esta vale, por pelo menos mais um ano, centenas de horas e muitas faixas de compromisso em mergulhar fundo na produção que se faz do lado de lá do Atlântico.
[MAKALISTER] MAL DOS TRÓPIKOS, CONSTRUÍNDO A PONTE DA PRATA ROUBADA
Impossível falar no que de mais relevante se fez em 2018 sem apontar Jovem Maka à cabeça. Mal dos Trópikos, o álbum de estreia de Makalister Antunes, é tão somente a consolidação do rapper de Santa Catarina como um dos mais prolíficos escritores e hábeis produtores da sua geração. Complexo, experimental, muitos poderão ser os adjectivos escolhidos para caracterizar o rapper e, na maior parte das vezes, tentar justificar um certo distanciamento das massas em relação à obra. O que não dá para negar é que, ao lado dos produtores Arit e Efieli (mix e master) e dos rappers Aori, Matéria Prima, Jovem Esco, Reis do Nada, Jeffe, Froid e Diomedes Chinaski, Makalister criou uma obra sem paralelo no catálogo do rap brasileiro em 2018. Recebemos os samples maravilhosamente encaixados num álbum onde, afinal de contas, encontramos também as tão queridas love songs, como é o caso de “Bobby James”, ou os bangers que podem perfeitamente incendiar qualquer pista, como em “D.A.Z.A. City”. “Quando as Sombras Brilharem”, faixa para a qual chamou o pernambucano Diomedes Chinaski, é talvez um dos melhores exemplos da poesia carregada de metáforas que o caracteriza enquanto reflecte um dos três pontos temáticos de Mal dos Trópikos: a disfuncionalidade dos relacionamentos contemporâneos, o incómodo de se pensar a própria existência e o espicaçar do rap game para a necessidade de inovar. É a magia da ilha!
Produção: Makalister, Arit // São José, Santa Catarina, Sul // Janeiro, 2018
[FBC] S.C.A.
As portas que Djonga abriu para o rap de Minas Gerais são indiscutíveis. Claro que tudo se torna muito mais interessante quando percebemos que do lado de lá está uma cena fervilhante, auto-suficiente e que, em 2018, coube a FBC ser um dos porta-estandartes da produção mineira. Em S.C.A., que é como quem diz “Sexo, Cocaína e Assassinatos”, Fabrício percorre o caminho da ascensão, com todas as suas curvas e espinhos. Da crítica ao sistema às reminiscências do tráfico, dos problemas em lidar com a fama e a responsabilidade que surge com o sucesso, FBC entrega um álbum de estreia — a comemorar 10 anos de carreira e vários EPs depois — que se revelou um sucesso imediato. Em faixas como “17 anos” (e um 38, claro) ou “Contradições”, FBC confirma-se tanto liricamente (o rapper não deixa uma única crítica por fazer, podem confiar) quanto na facilidade de se mover entre ambientes trap ou boom bap, ao lado de uma equipa 100% mineira, composta por Chris MC, ADL, Hot, Doug Now ou Djonga. Se a isto juntarmos a brilhante estratégia de marketing nas redes sociais (que fez S.C.A. e os seus memes chegarem até ao Papa!) começa a tornar-se mais fácil perceber que estamos perante um dos incontornáveis de 2018. A única questão que é importa é: já ouviram o álbum do @fbctadoido?
Produção: Coyote Beatz, Disstinto, DJ Spider, niLL, Oculto Beats // Belo Horizonte, Minas Gerais, Sudeste // Outubro, 2018
[BK] GIGANTES
E ao segundo álbum, Abebe Bikila agigantou-se. De Castelos & Ruínas, o lançamento de 2016 que trouxe BK para a mira do rap nacional, ao actual Gigantes, o rapper do Rio de Janeiro fez, indiscutivelmente, um dos percursos mais sólidos e astronómicos do hip hop brasileiro. Gigantes é a prova material desse amadurecimento — nos temas, na produção, na arte, no sentimento. Aquela ideia de que o rap tem o poder de nos devolver ou insuflar a auto-estima — como quando um álbum do Kanye West te deixava a sentir invencível, por exemplo — é talvez o maior feito e a maior dádiva de BK em 2018. E só posso falar pela parte que me toca, pois o efeito que tem sobre a auto-estima negra, esse só pode ser 10 vezes maior. Difícil ter uma faixa preferida num álbum tão consistente, tanto nas rimas ou no flow de BK como na produção. À equipa de luxo composta por El Lif Beatz, Arit, JXNV$, Nave Beatz e Papatinho juntam-se as participações de Juyé, KL Jay, Baco Exu do Blues, Luccas Carlos — com quem tem vindo a formar uma das parcerias mais consistentes dos últimos tempos — Sain, Marcelo D2, Akira Presidente e Drik Barbosa, para criar um álbum que se passeia por todos os quadrantes: do boom bap ao trap ou ao funk, da crítica social à paixão, da ascensão social ao preconceito racial, BK criou aquele que é o manifesto de 2018 para uma nova ordem social, ou melhor, um “Novo Poder”. Se o sentimos com Esú ou Heresia em 2017, hoje é para BK que nos viramos. “Eu sei que podemos viver com pouco, mas sentindo o cheiro do muito nós já quer saber o gosto” pode muito bem ser o verso que melhor define grande parte do sentimento em torno de Gigantes, na faixa homónima “Abebe Bikila”. Para BK, obviamente, ainda não chega. A caminhada é longa mas, a bem ou a mal, o caminho vai ser feito. E a passo de gigante.
Produção: Arit, El Lif Beatz, JXNV$, Nave Beatz, Papatinho // Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Sudeste // Outubro, 2018
[DJONGA] O MENINO QUE QUERIA SER DEUS
O Menino Que Queria Ser Deus foi um daqueles álbuns que demorei a consumir. Mas não pelos maus motivos. Em “Junho de 94”, a segunda faixa do álbum, o mineiro Djonga ajuda a explicar o porquê: “quem falou que o disco antigo é fraco vai tomar no cu, acredito que seja inveja”. E isso notou-se no meu Spotify.
Um dos melhores trabalhos de 2017, Heresia, chegou como uma bomba e mostrou-nos um rapper com um flow único, tão agressivo quanto assertivo, e uma obra susceptível ao replay durante umas boas dezenas de horas. Foi um porradão. E depois Djonga não parou! Se em 2018 não nos trouxe o factor surpresa, trouxe outro bem mais importante: o factor certeza. A certeza de que há poucos rappers como ele a rimar de uma forma tão invencível a auto-estima, a própria como homem e como homem negro, e a firmar-se — dentro e fora do rap game — como um líder incontestável da batalha racial por um direito que, demasiadas vezes, se situa ao nível da própria existência. No domínio da caneta é um Djonga que se mantém na sua melhor forma, sempre mordaz e incisivo. Ao lado de Sant, Sidoka, Hot, Paige e Karol Conká, Djonga voltou para nos mostrar que não há como parar este homem rumo ao Olimpo do rap brasileiro.
Produção: Coyote Beatz, El Lif Beatz, DJ Cost // Belo Horizonte, Minas Gerais, Sudeste // Março, 2018
[DRIK BARBOSA] ESPELHO
Ver Drik Barbosa a protagonizar um dos melhores momentos da última edição do Sumol Summer Fest foi um dos pontos altos do rap que se ouviu ao vivo e em português, técnica e liricamente, este Verão. Apesar de só em 2018 chegar com o seu EP de estreia, a rapper de São Paulo não é nenhuma desconhecida no jogo e, este ano, o trabalho que desenvolveu dentro do Laboratório de Fantasma de Emicida foi o culminar de uma temporada de participações que a colocam com uma das mais prolíficas rappers do Brasil. “Espelho” traz cinco faixas em que o r&b de Drik Barbosa ganha espaço sem nunca anular o seu flow único ora em ambientes mais groovados, ora em ambientes trap. Destaque para as participações de Stefanie — companheira no colectivo Rimas & Melodias e outra das MC de quem esperamos novidades em 2019 — e Rincon Sapiência. Um espelho para o rap que se tem feito, e sem dever nada a ninguém, no feminino.
Produção: Deryck Cabrera, GROU // São Paulo, São Paulo, Sudeste // Março, 2018
[FILIPE RET] AUDAZ
É impossível olhar para muita da produção de rap brasileiro e negar o quanto a sua incontestável relação com o funk o torna único e praticamente um género em si mesmo. Decidir se é rap ou funk é, e principalmente a partir de Audaz do carioca Filipe Ret, quase irrelevante. Mais do que isso, Ret traz treze faixas em que os graves batem no máximo num registo trap que até arrepia de tão envolvente que se torna. Ao lado dos produtores Mãolee e Dallass, o rapper reuniu MC Deise, Pan Mikelan, Thiago Anezzi, BK, MC TH, Flora Matos e Marcelo D2 para o ajudar a cantar a vivência carioca enquanto se posiciona como um gigante player do rap brasileiro em 2018. O que lhe vale, hoje, não é só o reconhecimento dos fãs como também dos pares. O fenómeno, esse, já é indiscutível e basta olhar para os números. “Vivendo Avançado”, o single de antecipação, explodiu em Março de 2018 e bate hoje nos 53 milhões de visualizações só no YouTube. Audaz e on point.
Produção: Filipe Ret, Mãolee, Dallass // Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Sudeste // Agosto, 2018
[DIOMEDES CHINASKI] COMUNISTA RICO
Comunista Rico, do pernambucano Diomedes Chinaski, era outro dos trabalhos mais esperados em 2018. Ainda na ressaca de “Sulicídio”, era bastante consensual a ideia de que o rapper iria entregar um álbum, que acabou por surgir em formato de mixtape — que o colocasse definitivamente no topo do rap nacional sem nunca deixar de ser menos relevante a narrativa nordestina. Reuniu com mestria um grupo de sete produtores e 12 participações em que estão nomes de todos os quadrantes do rap nacional — entre eles Don L, Makalister, Raffa Moreira, Djonga ou Cacife Clandestino — para criar 12 faixas em que desfila versatilidade, visão e uma capacidade de adaptação a vários ambientes. Vai do trap ao funk-putaria, ou até a registos mais experimentais, para rimar as tensões políticas do país que se prepara para ter Bolsonaro como presidente e onde o colapso do sistema espreita em cada esquina, mas também para falar de vulnerabilidade emocional, da disfuncionalidade dos relacionamentos na era digital ou fazer a sua própria autocrítica. Não é à toa que ele é o aprendiz, baby! Continuamos a querer um álbum de Diomedes Chinaski: Comunista Rico tem algumas limitações ao nível da mistura e masterização, por exemplo, mas a verdade é que o rapper de Pernambuco conseguiu ser responsável por um dos momentos mais altos do rap brasileiro em 2018 e ainda assim mostrar-se intemporal.
Produção: Dario Beats, HTTP, JNR Beats, Luiz Lins, M2K, Makalister, Mazili, A Orquestra Imaginária, Will Diamond, WillsBife // Recife, Pernambuco, Nordeste // Junho, 2018
[KAROL CONKÁ] AMBULANTE
Só rajada! Ao lado do produtor Boss in Drama, a rapper de Curitiba, que é também dona de uma das presenças mais carismáticas do rap nacional, mostrou em 2018 o álbum que sucede ao aclamado Batuk Freak. Passeando-se pelos ambientes da pop e da electrónica, Ambulante é um registo que só poderia sair das mãos e caneta de Karol Conká. “Minhas frases mudam vidas”, canta em “Vida Que Vale” e isso talvez seja o que melhor define a presença e trabalho de Karol Conká: arrisca, vive num terreno muito próprio e canta a força, a auto-estima e a libertação feminina como ninguém. Sempre com um convite nas mãos, seja para a guerra ou para a festa. Destaque para faixas de empoderamento como “Vogue do Gueto” ou a luminosa e confiante “Você Falou” que mostram que Conká não é apenas uma das melhores rappers do brasil, mas um dos melhores e mais requisitados artistas que o Brasil já viu crescer.
Produção: Boss in Drama // Curitiba, Paraná, Sul // Novembro, 2018
[MARCELO D2] AMAR É PARA OS FORTES
A excelente fase que a produção brasileira atravessa tornava inevitável que em algum momento, alguém iria arriscar-se para fora dos seus (próprios) limites. Fazer algo maior. Uma obra de arte transmídia em que a música e o vídeo têm o mesmo peso, por exemplo. Onde as produções não se sobrepõem e que pode ser visto e/ou ouvido, sem nunca se perder. É claro que foi Marcelo D2. Aliás, quem mais poderia tê-lo feito em 2018, se não o rei da selva de pedra? Em Amar é Para os Fortes, o veterano do Rio revela-se a si mesmo e à realidade carioca num tremendo acto de expressão artística. Mestre sambista, ao sétimo álbum cria um dos melhores trabalhos da sua carreira, acompanhado de uma equipa de gigantes nas participações, entre as quais Orochi, Sant, Anna Majidson, Seu Jorge, Wilson das Neves ou, ainda, Gilberto Gil, Alice Caymmi, Danilo Caymmi e Rincon Sapiência. No filme, ainda BK ou Sain, o protagonista da história e que é também o rapper e filho de D2.
Depois há outra coisa. Marcelo D2 não papa grupos. Nunca o fez. E em novo ano de crise política e social no país, o rapper foi uma das figuras centrais da oposição a Bolsonaro, bateu pesado nas redes sociais, e manteve-se sempre como uma das vozes mais críticas e de liderança da sua geração artística. Isso é tudo o que se espera de um rei.
Produção: Marcelo D2, Mário Caldato Jr., Nave Beatz, Sacha Rudy // Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Sudeste // Agosto, 2018
[BACO EXU DO BLUES] BLUESMAN
Baco Exu do Blues e Rincon Sapiência talvez tenham sido os rappers que, este ano, mais facilmente cruzaram a fronteira atlântica em notoriedade geral, principalmente graças aos hits “Te Amo Disgraça” e “Ponta de Lança”. Em 2017, Esú (2017) foi um dos melhores lançamentos do ano, que rapidamente se percebeu um clássico. Acho que podemos todos concordar que no rap game BR há uma era pré e pós “Sulicídio” e outra pré e pós Esú. Ambas incluem Baco. Em 2018, o rapper baiano traz Bluesman, um álbum para o qual chamou os produtores CASHH JLZ, DKVPZ e em que balança para um lado mais vulnerável e emocional, ora carnal ora auto-crítico — em “Flamingos” ou “Me Desculpa Jay-Z” — e que já tínhamos ouvido em “Te Amo Disgraça” ou na trilogia “Banho de Sol”, mas não sem ter muito presente a ideia e sonoridade do que é ser um Bluesman, conceito que criou para dar corpo ao disco. “Eu sou o primeiro ritmo a formar pretos ricos. O primeiro ritmo que tornou pretos livres. (…) A partir de agora considero tudo Blues. O samba é Blues, o rock é Blues, o jazz é Blues, o funk é Blues, o soul é Blues, eu sou Exu do Blues.” Depois, em faixas como “Minotauro de Borges”, em que Baco volta à sua especialidade de samplar as pérolas da música baiana por cima de batidas trap, numa veia guerreira, festiva e inconformada. No auge do seu sucesso, chamou Tim Bernardes, 1LUM3, DKVPZ, Bibi Caetano e Tuyo para construir um álbum ao qual juntou uma forte componente audiovisual, com a curta metragem Blvesman, e que o mantém seguro como um dos mais importante rappers contemporâneos brasileiros.
Produção: Baco Exu do Blues, CASHH JLZ, DKVPZ, Portugal // Salvador da Bahia, Bahia, Nordeste // Novembro, 2018
[WC NO BEAT] 18K
É o trap é o funk! WC no Beat, o produtor do Espírito Santo chegou em 2018 com o álbum de estreia 18k para nos dar uma aula de como o funk e o rap, mais uma vez, podem perfeitamente andar de mão dada. Ao lado de uma equipa composta por 25 nomes que vão do funk ao rap, carioca e paulistano – entre os quais MC Cabelinho, MC Lan, Rincon Sapiência ou BK – o produtor mostrou visão e versatilidade para criar uma obra que é, praticamente, o firmar de um estilo. Com direcção musical a cargo de Felp22, 18k foi produzido na íntegra pela Medellín Records, da qual faz parte, com mistura e masterização de Arthur Lunna, e é o primeiro álbum de um produtor a entrar nesta selecção. Do trap ao funk, do dancehall ao bass, 18k é um manual de iniciação às possibilidades que as sonoridades urbanas brasileiras têm para nos dar.
Produção: Pep, WC no Beat // Vitória, Espírito Santo, Sudeste // Março, 2018
[FOODSTATION] SOUNDFOODGANG
A segunda mixtape desta lista vem de São Paulo, numa encomenda carregada de pizzas, horas de Naruto e muita visão nas rimas de um dos colectivos mais cool e coesos do rap nacional. FoodStation, o primeiro trabalho da Sound Food Gang, é uma obra essencial para confirmar o equilíbrio em que cada um dos rappers e produtores se encontram e mostrar que existem novas sonoridades e visões de como explorá-las no underground brasileiro. Aos flows melódicos ou mais crus de Chinv e Chábazz e os mais nocturnos e espaciais de ManoWill e Yung Buda, juntam-se o carisma e lírica inconfundíveis de niLL, que apesar de se manter como dínamo previsível no colectivo foi inteligentemente mais um membro do grupo, e as constantes participações do empresário Adalberto que ajudam a colar a narrativa de FoodStation e torná-la mais interessante enquanto obra final. A mixtape passeia-se espacialmente pelo trap e sonoridades mais experimentais saídas da nave mãe, samplando Raffa Moreira e Gorillaz ou adicionando a sensualidade dos saxofones ao groove de Sunni Colón. Um trabalho incontornável caso se queira ouvir mais além.
Produção: Chinv, DJ Buck, niLL, Yung Buda // Jundiaí, São Paulo, Sudeste // Julho, 2018