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Fotografia: Guilherme Cabral
Publicado a: 16/10/2023

Ferro Gaita ou Omar Souleyman também actuaram no Terreiro do Paço.

Iminente Takeover ‘23 — Dia 2: dos 30 anos dos TWA à celebração de Pedro Mafama

Fotografia: Guilherme Cabral
Publicado a: 16/10/2023

30 anos depois da fundação do grupo, o Festival Iminente recebeu uma reunião histórica dos TWA, pioneiros do rap português feito em crioulo. Com DJ Kronic na retaguarda e Primero G e Lord G na linha da frente do Palco Choque, a música das periferias feita há duas décadas de repente ganhava espaço no Terreiro do Paço, um dos maiores símbolos da centralidade lisboeta, mesmo que o festival pudesse ter uma vida melhor noutro local.

Miraflor, o único disco dos TWA, editado em 2002, acabou por servir de certa forma como uma despedida e homenagem para a Pedreira dos Húngaros, bairro do concelho de Oeiras demolido no ano seguinte. Com um público entusiasta em frente, atraindo uma multidão considerável, a actuação foi sobretudo nostálgica com os beats clássicos de Kronic (os seus primeiros instrumentais a sair em disco) a soarem do sistema de som tal como se fosse um concerto de há 20 anos.

O propósito não era inovar nem resignificar os temas, mas antes reproduzir aquelas faixas que tanto disseram a tanta gente, de bairros e não só, no contexto pós-colonial português. Para alavancar ainda mais a celebração, trouxeram convidados como as JJ (parte das Djamal), Don Nuno e elementos das Red Chikas, entre outros. O hip hop português tem história suficiente para que mais celebrações destas aconteçam, e tanto é importante saudar novas ideias e valores como revisitar o passado em momentos especiais como este.

Depois da aclamação dos TWA, outra banda histórica subia ao palco para fazer a festa e que festa. Os Ferro Gaita, nome maior da música cabo-verdiana e autênticos embaixadores do funaná, tocavam no Palco Choque perante um público tão efusivo quanto diverso que rapidamente encheu as imediações e se preparou para dançar durante cerca de uma hora.

Os Ferro Gaita têm vindo a celebrar os 25 anos do grupo com uma série de espectáculos e a performance no Iminente não soube a mais nada do que a celebração. A entrada gratuita deste takeover, que se alinha bem com a identidade de um festival aberto e feito em parte pela comunidade, trouxe certamente um público mais tradicional para ver grupos como os Ferro Gaita que, porventura, não teria tanta expressão em locais como o Cais da Matinha ou o Panorâmico de Monsanto. É o lado positivo de um Iminente que não conseguiu recriar a sua essência num sítio como o Terreiro do Paço o desafio era realmente hercúleo, mas acima de tudo deve deixar todos a questionarem-se em relação ao futuro.

No Palco Margem, o icónico Omar Souleyman voltava a um festival onde já tinha sido feliz para fazer aquilo que sabe melhor. Artista sírio que tem vindo a fundir a música tradicional árabe com uma pulsação electrónica, modernizando a dança folclórica do dabke e agindo como um inesperado, mas fortemente carismático, frontman , a sua performance atraiu um mar de fãs e curiosos, prontos a balançar os corpos e os braços, batendo também palmas, ao som de temas como “Warni Warni” ou “Ya Bnayya”.

Aos 57 anos, com uma vida atribulada e depois de ter deixado os casamentos para se dedicar a uma carreira vanguardista internacional perante a guerra civil no seu país, a sua energia já não se encontra nos píncaros, ao contrário de quando atuou há alguns anos noutra edição do Iminente realizada no Panorâmico de Monsanto. Ainda assim, teve um fôlego surpreendente, para um concerto longo que percorreu os temas dos seus quatro álbuns de originais.

Neste segundo dia de Iminente, o cabeça de cartaz era Pedro Mafama. Com um ano épico para a sua carreira, e um disco muito à boleia do single “Preço Certo” que o levou a percorrer o país de lés-a-lés, tornando-se um nome popular junto do grande público, ainda que este possa desconhecer muitas vezes o espectro completo da sua obra, era quase simbólico regressar a Lisboa, a cidade onde nasceu e que tantas vezes cantou, para se afirmar num palco principal instalado na mais central das praças.

Com a excepção honrosa de “Lacrau”, Mafama focou-se totalmente em Estava No Abismo Mas Dei Um Passo Em Frente, tendo interpretado o novo disco praticamente na íntegra, acompanhado por Lana Gasparøtti e Sónia Trópicos, que iam tocando os teclados e disparando os diversos efeitos sonoros. Ao vivo, algumas das canções apresentam versões ligeiramente distintas para que possam resultar melhor no espectáculo, sendo que Mafama adquiriu já a experiência de um performer nato, incitando o público, bailando no palco, com um set minuciosamente preparado mas também aparentando alguma espontaneidade o que é um bom indicador.

Para o final, estava reservado o momento único do concerto. A Pedro Mafama juntaram-se Diego El Gavi e Chico Montoya, músicos ciganos com quem colaborou para o disco, e que interpretaram um par de canções em registo flamenco antes de uma versão especial de “Estrada”, o primeiro single do álbum, onde a influência romani é particularmente notória e se cruza com o cante alentejano. Foi, sem dúvida, uma interpretação chave-de-ouro para encerrar a actuação e o palco principal desta edição do Iminente.

Nota: Por uma questão de agenda, infelizmente o Rimas e Batidas não conseguiu presenciar os concertos de Cachupa Psicadélica, Pongo e Rome Streetz.


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