Mais de um ano após o lançamento do álbum Mangrove, o segundo do seu currículo, E.se começa a levantar o véu àquele que será o seu terceiro disco. “Gravito”, o single apresentado esta sexta-feira, 26 de Janeiro, é o primeiro avanço de Hubris, disco previsto para 10 de Maio, que será lançado pela sua editora independente Produções Hipotéticas.
O Rimas e Batidas colocou algumas questões ao artista de Almada sobre o tema “Gravito” e o disco que aí vem — que será marcado pela exploração sonora de novas linguagens mas também por abordar o traço obsessivo que existe na personalidade de E.se.
“Gravito” representa bem o álbum que aí vem, ou não necessariamente?
A “Gravito” foi a primeira música que compus após ter editado o Mangrove. Na altura, a ideia era integrá-la num EP que fosse mais desprendido conceptualmente, dando-me liberdade para compor e, se calhar, fazer música que fosse mais leve, espaçosa e demonstrasse o meu potencial em fazer bangers. Nesse sentido, não representa na totalidade o que o meu novo disco pretende trazer, mas foi o ponto de partida para eu mergulhar num registo mais exploratório e achei que era a faixa ideal para depois de um ano e uns meses sem editar nova música, dizer: “hey, continuo por cá, mas não no mesmo sítio”.
Como é que nasce esta canção? Como foi o processo criativo para chegares a este resultado?
No Mangrove, o Ned Flanger produziu duas faixas: “Rosas”, que dividi com o João Tamura; e “Tinta//asfalto”. Nesta última, o beat switch era tão pesado que quis muito voltar a colaborar com ele. Fomos a estúdio e viemos de lá com três malhas que entram neste disco. Numa das sessões, quando comecei a ouvir as notas da “Gravito”, já estava a dar aquele nod com a cabeça e a trautear melodias, o que ele percebeu ser aquele sinal de jackpot e saiu-me esse: “gravito, eu e tu”. Depois o tema puxou-me para escrever sobre a metáfora de se perder o eixo gravitacional quando perdemos alguém que nos polariza, “partiste o meu eixo, então eu gravito”.
Existe algum conceito por trás de Hubris que já possas desvendar?
Posso dizer que o Hubris é uma exploração estética, um gesto audaz, tentando transcender géneros musicais e, no próprio rap, cruzar linhas que para alguns ainda se consideram não “intersectáveis”. A palavra Hubris geralmente está associada a uma conotação negativa, de descomedimento, exagero e insolência quase cega. E para mim, que sou bastante obsessivo, tento constantemente ver o lado positivo do exagero e da obsessão, canalizando-a para o meu caudal criativo. O conceito do disco parte destes dois pontos: a vontade de ser ousado na estética sonora e no meu traço de personalidade mais desafiante, a obsessão.
Em termos sonoros, vai manter a mesma linha do Mangrove, ou quiseste ir por caminhos distintos?
Este disco tem cores bastante diferentes do Mangrove, que considero um disco bastante luminoso, verde como os anos que representa da minha vida. No Hubris, a história é outra e o pano de fundo musical é mais escuro, cruzando jazz contemporâneo com notas de piano azuis e um rap que traz palavra e melodia lado a lado.
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