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Fotografia: Lian Benoit
Publicado a: 06/10/2023

Sonho Azul está cá fora.

Vanyfox: “O que vivo neste momento é um sonho”

Fotografia: Lian Benoit
Publicado a: 06/10/2023

Tem sido um dos produtores revelação dos últimos anos na cena electrónica ligada à batida de Lisboa. Ainda há umas semanas assinava o remix oficial de “Mázia”, canção de Ana Moura, e agora Vanyfox apresenta o EP em que tem vindo a trabalhar desde o ano passado.

Reflecte o momento de “sonho” que está a viver, em que se dedica por completo à música e pode tocar bastante ao vivo. Ao mesmo tempo, o disco espelha as suas diferentes possibilidades sonoras, desde os instrumentais mais acelerados e electrizantes às batidas mais calmas e serenas. Neste trabalho que sucede aos EPs Banzelo (2022), Crazy Times (2021) e aos dois volumes de CrazyBoy (lançados entre 2017 e 2018) Vanyfox até experimenta usar a sua própria voz numa faixa que tem por título “Realidade”. É uma das duas feitas em colaboração com DJ Lycox. A outra participação no disco é da cantora Nayela, que canta no single “Final Feliz”, divulgado em Agosto.

Agora, o Sonho Azul concretiza-se em pleno e está aí para todos ouvirem, seja no club, no carro, em casa ou nas ruas. O Rimas e Batidas entrevistou Vanyfox sobre o novo projecto editado pela Moonshine, ele que tem data marcada para actuar no Musicbox, em Lisboa, no próximo dia 21 de Outubro.



Como nasce este EP? E porquê Sonho Azul?

Foi uma surpresa, não era para ter acontecido assim, mas começou a fazer mais sentido e acabei por formar uma história. O Sonho Azul veio de uma forma muito positiva. E falo no geral: pode ser de vida, trabalho, música, vida artística. Há vários exemplos, mas o Sonho Azul tornou-se uma expressão. Que depois ganhou força por causa de uma música que fiz, a “Blue Dream”. Na altura não a pensei em português, mas agora acreditei que se calhar Sonho Azul fazia mais sentido, porque é aquilo que estou a viver. É um sonho. O que vivo neste momento é um sonho. Com tudo o que se está a passar… Há coisas que nem fazem sentido [risos]. Mas é uma mensagem positiva.

No fundo, celebrar aquilo que tens estado a viver? De poderes estar a tocar imenso, de teres as tuas músicas editadas e bastante ouvidas?

Exactamente. Tornou-se mesmo uma nova expressão e é a minha forma de o descrever com o pessoal. Se as coisas não correrem como a gente pensa, ficamos aqui para tentarmos fazer o melhor que pudermos ser. O Sonho Azul é isso.

E porquê azul? O que é que ele representa para ti, nesse sentido?

É a minha cor favorita. Também gosto muito de preto, que é a cor que mais uso; mas o azul realmente é uma cor muito especial e de que gosto desde criança. E as melodias da música são muito wavy, têm muito uma vibe que eu associo ao azul. Foi a cor que mais imaginei na minha cabeça. 

Nos projectos que tens feito, como costuma ser o processo criativo? Fazes muita música e acabas por seleccionar aquelas que para ti estão melhores e fazem mais sentido nos EPs? Porque suponho que, para termos aqui estas 9 músicas, que tenhas feito muitas mais ou pelo menos que tenhas começado a fazer muitas mais.

Exactamente. Tenho feito muito mais e às vezes é complicado ter aquela relação entre os sons, de tentar juntá-los numa lista que possa fazer sentido. As músicas que estão no Sonho Azul… Algumas são do final do ano passado, outras são deste ano. O processo tem algumas variações, tanto pode ser rápido como lento. Pode haver coisas que posso não gostar na faixa e estou ali a trocar e a aperfeiçoar. E as coisas vão acontecendo de uma forma calma e lenta. Às vezes dá-me vontade de fazer uma nova música. Mas gosto de fazer música de propósito para um projecto. Porque, se não, não vai ficar como eu quero. Se fizer algo de que não estava muito à espera, realmente vai fazer-me mais sentido, vou ouvir de outra forma. É um bocado aleatório, mas é o cérebro que comanda e eu só estou a segui-lo.

Obviamente agora tens mais experiência do que quando começaste, também já lançaste bastante música. Sentes que estás mais perfeccionista e profissional?

Sinto que ainda tenho muita coisa para aprender e melhorar. Não só musicalmente, mas também para me expressar, para explicar às pessoas o que é que a música significa, ou o que é que sinto quando a faço. Se calhar até posso estar a ser mais profissional, mas prefiro manter uma postura de estar ainda a aprender muito. 

E, além do sonho e do momento que estás a viver, houve assim algo que te tenha inspirado particularmente a fazer estes temas?

Ultimamente tenho escutado muita coisa diferente. E as viagens também me inspiraram muito. Viajei muito no ano passado e todos os sítios onde ia eram um bocado diferentes: as sonoridades, a comida, as pessoas, as conversas, o ambiente. Isso projectou mesmo o disco. E fiquei feliz quando as peças se encaixaram todas. 

Como é que nasce o “Final Feliz” com a Nayela? Como se dá a ligação com ela?

A Nayela foi uma surpresa. Foi algo muito aleatório. A primeira vez que estive com ela foi no estúdio da Enchufada em Lisboa. Falámos sobre projectos ou sobre fazermos uma música nova, havia várias faixas com várias ideias e a primeira que fizemos foi o “Calor. Até chegarmos ao “Final Feliz”. Estamos conectados e vamos estar sempre.

E, obviamente, enquanto produtor é muito diferente fazeres um beat que é apenas instrumental, e uma música com voz. Implica com muitas coisas e pode mesmo mexer com a estrutura da faixa. Para ti é um desafio teres alguém a cantar por cima de um beat teu? E é algo que também te traz coisas novas enquanto produtor?

Não diria que é um desafio… Posso dizer que é algo valorizado, porque muitos não conseguem encaixar vozes nos seus beats, e cada um tem os seus standards, mas com ela houve uma grande simplicidade e aumentou a vibe só com o estado de espírito. Também não gosta de complicar muito e o “Final Feliz” foi uma coisa muito fixe que aconteceu em semanas. Se se tornar a rotina produzir para outros artistas, isso seria bom.

E suponho que também procures isso, equilibrar faixas só instrumentais com outras com voz, em colaboração com outros artistas.

Exactamente, e neste EP também tenho uma faixa com o DJ Lycox com voz. É um som em que nós dois estamos a cantar e é uma coisa muito crua… No sentido em que, normalmente, os sons têm refrões e versos, mas neste refrão damos a entender que foi uma coisa crua. É como se estivéssemos a fazer um freestyle no som. Para dar aquela vibe raw e o pessoal entender que estamos a dizer coisas que vêm do peito. São coisas por que realmente estava a passar no quotidiano. Falo da “Realidade”.

É a primeira vez que a tua voz aparece numa música?

Sim, a minha voz nunca foi para as plataformas, a não ser os ad-libs. Mas aqui estamos os dois realmente a cantar, a dizer coisas reais e o pessoal vai poder entender que não só faço beats, mas também posso ter uma voz melódica nos meus beats. E daqui para a frente poderá haver mais e mais, estou confiante nisso.

Era algo que já querias fazer há muito tempo?

Há muito tempo, sim. Só que não tinha a coragem… E a disponibilidade. Agora tenho o meu tempo, posso escrever e gravar quando quiser. E escrever não é bem a minha cena, mas estou a aprender, a reflectir e a tentar expressar-me mais quando escrevo.

Sentes que é o teu projecto mais maduro, mais elaborado, que demonstra melhor a tua experiência?

Sinto que sim. Ultimamente o pessoal conhece-me da kizomba, do tarraxo, da batida agressiva, também me conhecem pelo lado mais chill, mais calmo, e neste Sonho Azul é uma balança. Neste disco esforcei-me para expressar que sou as duas coisas.

Depois do “Final Feliz”, lançaste um segundo single, o “129 Amoroso”. Como é que nasceu esse tema?

Surgiu de uma melodia, que já me enchia as medidas. Depois queria uma acapella e achei engraçado aquilo dizer “trabalha”. E o som original não tinha nada a ver com o remix que eu estava a fazer. Daí chamar-se “129 Amoroso” 129 por causa do BPM, ser “amoroso” por causa da parte sentimental. Daí ser algo mais acústico e estilo verão. E fazia sentido lançá-lo no verão como single por causa disso.

E foste testando alguns destes temas nas tuas actuações?

Sim, claro, estou sempre a tocar. E toco para testar como é que o people reage, para saber se gosta da sonoridade, do ritmo, se faz sentido… Para eu poder trabalhar, depois do show, quando voltar a casa. O “129 Amoroso”, quando o toquei pela primeira vez, percebi que fazia sentido tocar aquilo nos clubs. O EP tem faixas que são para tocar e dançar, outras que são mais para ouvir e reflectir… Tem um pouco de tudo.

Como estavas a dizer, tem sido um ano incrível para ti, no sentido em que estás a viver da música e muito mais focado nisso. Quais são as tuas grandes ambições? Planeias muito os passos que vais dar ou as coisas simplesmente vão acontecendo?

As coisas vão acontecendo, mas tenho sempre… Não gosto de dizer goals, mas acredito que daqui para a frente vou ser um grande artista. Ainda posso aprender muito e o que acontecer, aconteceu. O objectivo é continuar a ser grande e humilde, trabalhar até não poder mais. Sou uma pessoa muito persistente e não gosto muito de me limitar e tento não fazê-lo. Então faço sempre coisas para me manter ocupado e as coisas vão acontecendo. Também é importante rodeares-te de boas pessoas que te vão ajudar a subir, vão-te guiar. As coisas estão a correr bem e vão continuar a acontecer, até não sei quando, talvez até 2090 [risos].


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