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Publicado a: 12/08/2016

Valete e Orelha Negra ao rubro sob O Sol da Caparica

Publicado a: 12/08/2016

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTOs] Soraia Esperança e Anabela Luís

 

Esta crónica vai na primeira pessoa: ontem foi o dia inaugural do festival O Sol da Caparica iniciativa a que estou umbilicalmente ligado pelo projecto Debaixo da Língua, um espaço de discussão e pensamento desse património que nos une – o português – que entre outras materializações (há um espaço físico de conversas no festival onde ontem houve encontros com Aline Frazão, Pedro da Silva Martins e TNT, rapper da Mano a Mano) também inclui um livro. Ontem apresentou-se o segundo volume: conversas e reflexões sobre a nossa língua para que contribuíram desta vez pessoas como Emicida ou Boss AC (no volume anterior houve espaço para conversas com Marcelo D2, Capicua, Carlão ou Kalaf, republicadas por aqui, aliás).

Além disso houve música, pois claro. No palco Blitz houve, por exemplo, espaço para uma memorável actuação de Valete: seguindo as normas mais instituídas do hip hop, o rapper apresentou-se com M nas máquinas, ladeado por Bónus, com bailarinos a darem dimensão física aos ritmos que suportam as suas palavras (a Krump Crew ou a bailarina Vanessa até oferecem uma tradução algo teatral às palavras que o programador do Canal 115 debita), com o veterano writer Youth a pintar ao vivo as palavras que, afinal de contas, unem a imensa multidão que se dispõe em frente ao palco – “hip hop”.

Sons como “Fim da Ditadura” ou “Roleta Russa” são entoados a uma voz, o que prova que têm dimensão de hinos geracionais. Depois, Valete assume a sua própria veterania quando rima em cima de um clássico dos Dilated Peoples, mas também reclama o presente quando faz uma vénia a Kendrick Lamar. E sabe muito bem como dar a melhor rima de sempre, evocando os Orelha Negra que pouco depois haveriam de subir ao palco SIC/RFM. Valete tem um concerto estruturado, dinâmico, pensado, capaz de aguentar o embate com generosas multidões, e isso é algo que a veterania exige. E que este MC cumpre com distinção. Mas também não deixa de acusar a falta de novos argumentos, de material fresco que lhe abra outras portas de futuro. A espera vai longa, mas isso só faz subir a fasquia que Valete, certamente, saberá superar. Deste lado continuamos crentes! Até porque se perfilam no horizonte novas ditaduras que importa combater.

 


orelha negra caparica


Os Orelha Negra, que continuam a antecipar novo álbum que deverá chegar “lá para Outubro”, como confidenciava ao ReB Francisco Rebelo antes do concerto, são por esta altura uma máquina já perfeitamente oleada, capaz de enfrentar qualquer mar de gente que se agigante para os ver. Francisco Rebelo, João Gomes, Fred Ferreira, DJ Cruzfader e Sam The Kid são cinco inegáveis mestres, cada um perfeitamente capaz de dar cor, textura, pulsação e drama aos números que interpretam, sem palavras vivas, mas ainda assim carregados de histórias. É a isso que os milhares respondem. A isso e às vénias (de Drake e Kendrick, uma vez mais, a Mind Da Gap ou Chullage) que o quinteto distribui, espécie de consciência activa de uma cultura que por estar hoje tão exposta e disseminada se tornou igualmente alvo de críticas, umas justas, como é claro, e outras totalmente infundadas. São os autores destas últimas que precisam de entender que a cultura que um grupo como Orelha Negra abraça tem uma dimensão benigna, universal, humanista e progressiva.  O público também entende isso e esta Orelha Negra prova igualmente ser uma orelha generosa, capaz de tudo ouvir e tudo processar. À sua maneira. Aplauso, pois claro.

Hoje haverá Mundo Segundo e Sam The Kid e ainda Jimmy P no palco Blitz, argumentos feitos de rimas e batidas a que estaremos igualmente atentos.

 


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