Digital

Smino

NOIR

Zero Fatigue / 2018

Texto de Moisés Regalado

Publicado a: 19/12/2018

pub

Numa altura em que todos, que é como quem diz, escrevem, produzem, gravam e masterizam a sua própria música, não é só isso que separa Smino de outros artistas. Em 2018, as surpresas foram muitas e é difícil dizer, mesmo que isso “tenha” que ser feito, qual foi o melhor disco de 2018, qual o artista-revelação ou qual a confirmação, mas não será descabido colocar o nome do Smino em qualquer dessas listas. NOIR, o seu novo longa-duração, já estava prometido mas chegou mesmo nos últimos meses do ano para fazer a delícia de todos os amantes de rap, de música “selecta” e, ao mesmo tempo, com aquele gosto que só as receitas caseiras conseguem preservar e transmitir.

O tom electrónico mas mellow deste novo trabalho, que atinge o seu apogeu em faixas como “We Got The Biscuits” ou “Low Down Derrty Blues”, prova por a + b que, afinal, inovar é simples: basta seguir o bom gosto, independentemente das fronteiras erguidas e entre as quais se move qualquer artista (algo natural e, até certo ponto, desejável). “MF Groove” tem um título que não engana e não deve nada àquele que homenageia. Independentemente do flow de cada um dos intervenientes nesta homenagem, da estética do homenageado e da personalidade do que homenageia — e vice-versa –, e é exactamente isso, essa comunhão de personalidade à bruta, que une DOOM a Smino.



Tal como acontece com Anderson .Paak ou Chance The Rapper, o lado mais ligeiro de Smino, que em outros artistas costuma ser motivo para saltar faixas ou perder o entusiasmo, agarra-nos e nunca perde a profundidade, tendo em conta o perfeccionismo com que as entrega (e com que se entrega a elas, antes de mais). Provam-no temas como “L.M.F.” ou “Tequila Mockingbird” mas, no pólo oposto, momentos como “Verizon”, bem como o artwork deste NOIR, mostram que Smino é tão hip hop quanto possível.

A produção ficou quase exclusivamente entregue a Monte Booker mas há surpresas: Sango retribuiu a presença de Smino na faixa “Khlorine” e assinou dois instrumentais no disco do seu camarada de St. Louis. E o prodígio do Missouri também tem barras. O encanto, mais do que estar na escrita, está nos moldes por que Smino faz passar as palavras: “Back in the loft eating Pilaf (Uh)/Orange coupe, love how it peel off”. As atenções estão mais do que captadas e esta é, sem grandes dúvidas, uma daquelas promessas que rapidamente passarão a nome da praça.

E é quase certo que Smino conseguirá atingir grandes altitudes, assim que acompanhado pelos melhores do jogo — o artista não parece ter medo de alturas, e muito menos parece ser daqueles que trabalham melhor no conforto do lar do que na grandeza dos estúdios mais afamados. Mas o que Smino fez em NOIR, junto dos seus, daqueles que lhe são mais próximos, já é admirável que chegue para dizer que, sendo ou não um dos discos do ano, é o melhor disco possível para fechar 2018.


pub

Últimos da categoria: Críticas

RBTV

Últimos artigos