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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[B’saz] “Tou a bulir”
À entrada do mês de eleição para as férias dos portugueses, B’saz chegou-se à frente com “Tou a bulir”, tema em que põe em prática uma série de ofícios, desde a construção civil à mecânica, passando pela hotelaria. Depois de “Lições”, o rapper luso-guineense volta a reflectir sobre as suas escolhas frente ao microfone — consciente, porém, de que, sejam elas quais forem, “tempo investido não é perdido”.
[Nameless] “Som da Birra”
Já no caso de Nameless, o registo é, por norma, bem mais descontraído e, regra geral, dado à troça. Temas como “Aladino”, “Pikachu”, “A Tua Prima” ou “Rasga Sempre” indiciam, à partida, a veia humorística que subjaz ao rap do MC de Massamá. E “Som da Birra” é, por excelência, o registo mais confortável do autor de Nova Deli: flow quadrado, rimas descomplicadas e punchlines a cada dois versos — aqui sem discriminação de marcas da dita “birra”.
[Chav] “Saúde & Sucesso” feat. Amaro
A entrada de Amaro em “Saúde & Sucesso” leva-nos a recordar o remix de “Attention” inesperadamente protagonizado pelo MC da Linha de Cascais, e o verso inaugural de Chav surte o mesmo efeito: juntos desde a formação de TBR (Tudo Bons Rapazes), os dois rappers de Oeiras têm enveredado, ambos, por novos caminhos no que ao seu historial diz respeito. E, por mais voltas que dêem, não têm perdido a direcção a explorar novas formas de expressar velhas causas.
[jlm] “HEB-SED”
Foi um dos 13 nomes a conquistar lugar no segundo volume da Tranquitape, com o tema “sombras da floresta.” — quarta de oito faixas que integram Éter, o álbum de estreia de jlm editado em Maio passado. Agora, depois do “fim duma fase inicial de carreira, onde foi abordado um registo muito descritivo e abstrato de escrita”, nas palavras do próprio, “HEB-SED” marca o início de um novo ciclo de José Luís Monteiro à conquista do seu espaço no hip hop nacional.
[L-ALI & Lunn] “Solo” feat. benji price
Mais uma vez, permitam-nos o alargamento do critério para encaixar “Solo” neste segmento. É que, após a primeira impressão deixada por “Brio” e depois da confirmação dos próprios autores numa longa entrevista a ser publicada por aqui não tarda muito, Balanço — EP que junta L-ALI e Lunn num primeiro trabalho a meias — terá bem menos elementos de rap do que seria de esperar destes dois artistas. E essa directriz é igualmente aplicável na presença de benji price (numa das suas últimas aparições enquanto tal), que aqui deixa de parte a sua faceta de produtor para surgir em primeiro plano na voz, como desde SYSTEM e ígneo tem feito mais assumidamente.
[Kaps] “Marginal”
“‘This is one way ticket'”, foi o que eu disse ao Kaps“, confessava Kroniko em “B.T.K” a semana passada, e agora é o rapper da Linha de Cascais que se faz à pista pela “Marginal”. Depois do encontro com Holly Hood em “Cara Dontem”, o autor de Kambo volta a emparelhar-se com outra das caras da Superbad. para mais um single com Here’s Johnny a cargo das funções invisíveis. Segundo tema do MC de Paço de Arcos no espaço de mês e meio, o que nos leva a criar expectativas sobre um eventual sucessor do seu último projecto a solo, editado em 2020 — e, neste último registo, com a mesma dose letal de amostras como “Substância”.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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