pub

Texto: ReB Team
Fotografia: piētÁ
Publicado a: 02/08/2023

Vira o disco e tocam mais 13.

Faixa-a-faixa: Tranquitape Vol. 2 da Tranquilow explicada pela equipa e pelos artistas

Texto: ReB Team
Fotografia: piētÁ
Publicado a: 02/08/2023

A Tranquitape nasceu de uma vontade da equipa da Tranquilow em divulgar novos artistas nacionais no espectro do hip hop. No início de 2020, quando se deu a primeira quarentena, o Afonso Ventura (figura principal da Tranquilow na altura) entrou em contacto comigo para se fazer algo diferente e original para divulgar novos artistas, que não passasse apenas por um simples post no Instagram.

Como a página recebia várias mensagens de newcomers a pedirem para se partilhar o seu trabalho, sentia que havia essa necessidade. Dei-lhe esta ideia, reunimos para alinhar alguns pormenores e assim nasceu esta iniciativa. Passava por, semanalmente, divulgar um artista (quatro por mês), entre todos os que recebíamos por e-mail (foram centenas ao longo das duas edições), e no final de cada mês os nossos seguidores decidiam qual o artista que iria fazer parte da tape, num sistema de votação.

Assim, o plano era fazer um ano para chegarmos às 12 faixas finais (que acabaram por ser, novamente, 13 — a faixa bónus foi a escolha da nossa equipa, de todas as 48 que foram selecionadas por nós ao longo das semanas). Depois, meti a minha veia de coleccionador de rap português à mistura e sugeri a edição física. E assim nasceu a Tranquitape, na qual eu tenho esperança que seja a nova compilação de rap tuga que honre outras compilações como a Hip Hop Nation ou a Hip-Hop Series.

– Miguel Varela (Tranquilow)


[Al-B] “Ode”

“A ‘Ode’ é uma faixa que fala um pouco sobre o impacto que a música teve e tem em mim. A gravação surge numa noite no estúdio com o Juno, sendo muito motivada pelo mesmo. Ainda não tinha tido essa experiência de estúdio, ocupando normalmente a posição de espectador nas sessões dos restantes membros da OFFTrack, por isso, nesse aspecto, foi bastante desafiante. O valor que atribuo a esta faixa passa um pouco por isso, representando o começo dum novo hobby para mim. Um especial agradecimento ao Juno, não só pelo incentivo, mas por todo o contributo que deu a esta e às outras faixas.”


[dos Santos x Carrilho] “à vontê II”

“A origem do nome surge em 2018, numa primeira colaboração, ‘à vontê’, que teve quase para sair mas que nunca saiu. Tempos mais tarde, ouvi um instrumental nojento que pedia só barra atrás de barra atrás de barra, sem temas, sem histórias, apenas pen game. Achei o beat tão nojento que na altura escrevi para o instrumental inteiro numa tarde. No entanto, já queria ter essa colaboração com o Carrilho, e como este registo é o habitat natural dele, fez-me todo o sentido pedir-lhe para fazer o segundo verso. Para uma melhor introdução/transição dos versos, acrescentei aquele refrão e dei pitch down na voz. O nome ‘à vontê ll’ foi para homenagear esse primeiro som, que foi verdadeiramente a nossa primeira colaboração; foi também para criar alguma curiosidade no sentido que, se há um ‘à vontê ll’, tem de haver um ‘à vontê l’ — para preservar o sabor de que quem sabe, sabe.”

— dos Santos

 

“Em relação ao nome e ao desenrolar do processo global está tudo dito. Em termos pessoais não foi muito difícil de escrever, porque a escrever punchlines sinto-me em casa, é a minha zona de conforto e torna-se mais fácil com a potência que o beat tinha. Desde já, agradecer à Tranquilow pelo reconhecimento e à OUTS!DE (e não só) pelo apoio. O hip hop está vivo e com estas iniciativas ainda tem mais vida. Por último, só referenciar que a artwork do som foi feita pelo @saudadhe, vão ver o trabalho dele!”

— Carrilho


[FIDJA] “Falam”

“‘Falam’ é uma música que nasceu de uma necessidade de expressão e captura dos sentimentos e frustrações de ser alvo de julgamentos e comentários negativos por pessoas que não nos conhecem e que têm sempre algo a apontar, sem saber e sem dar o devido valor aos esforços que são feitos. Esta música surgiu enquanto estava no processo de criação do meu EP Mentalidade de Vencedor, que já está disponível, e optei por usá-la como um ponto de viragem entre aquilo que tinha vindo a fazer e o que estava por vir. Foi uma das músicas onde o processo criativo foi rapidíssimo, onde conjugo várias métricas e flows, incluindo o flow bilíngue que levo já como uma característica da minha música, e daí também o videoclipe ser gravado em Madrid, acompanhado pela Real’ish que tratou do vídeo e de toda a mix e master da música. Acaba por ser uma crítica à sociedade em que vivemos e uma mensagem de resiliência para todos aqueles que têm um objetivo a alcançar.”


[jlm] “sombras da floresta.”

“Esta faixa, integrante do meu álbum Éter, surge como a materialização dum espaço mental proprício à evolução pessoal e à plenitude do espírito. A floresta de que falo baseia-se no que o meu imaginário cria como local de conforto, a fundação de um ponto de partida onde possa largar os medos. A ideia vem do conceito dos quatro elementos, presente no meu disco, onde nesta malha eu falo do elemento da terra, elemento que visa ao crescimento e à substância, ao visível, daí ter escolhido uma floresta para o representar, e ter optado por tornar esta faixa tão descritiva e visual na linguagem e no encadeamento dos versos. O tema tem este tal vocabulário muito relacionado à natureza, sendo que foi algo aliciante poder desconstruir estas ideias sobre a flora e tornar em metáforas alusivas ao propósito da música.

A ideia para esta faixa surgiu-me em 2020, já com o instrumental escolhido, porém, não estava satisfeito com a letra ainda, tendo sido rescrita várias vezes. Nesse mesmo ano visitei os Lagos de Plitvice, na Croácia, e tive a oportunidade de viver numa casa localizada no meio duma floresta, sendo que toda a experiência expandiu o imaginário do que seria a floresta que eu queria falar nesta música. Gosto de pensar que acabei por tentar descrever algo que ainda não conhecia, e que só conheci depois de fazer esta viagem. Apesar de a ideia-base ser tornar uma zona mental num local físico, a conclusão da faixa vai para além disso, explorando até um paradoxo entre material e imaterial. Inspirei-me neste poema de Fernando Pessoa para terminar este tema:

‘Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer, 
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura.’

Na sua aldeia, é possível ver tudo, ser tudo, isto porque o local físico não o prende mentalmente. Daí a ‘aldeia’ ser tão abrangente quanto o Universo, visto que Pessoa afirma ser do tamanho do que vê, e não do tamanho da sua altura. O seu espaço físico não condiciona o seu pensamento, as suas ambições… A aldeia, tal como a floresta, é um local que, apesar de ser de conforto, pode muito bem não existir, porque o que importa é ser possível estar a escrever sobre uma floresta que não existe ou estar numa floresta fisicamente, mas a minha mente não estar presa ao local e ser possível transportar-me para outro sítio imaterial.”


[Supremo CDC] “Caparica”

“’Caparica’ aconteceu em novembro de 2021, quando estava afastado da música, e fui convidado para fazer uma participação num concerto de artistas locais da Costa da Caparica e arredores. Após o concerto, todo aquele êxtase espoletou em mim vontade de voltar à música e de gravar sons, e foi por mera coincidência que nessa altura conheci o Marco [Empty]. Disse-me que era produtor, que se tinha mudado para a Costa recentemente e que tinha um home studio.

O ‘Caparica’ surgiu de um dos primeiros beats que ele me mostrou em estúdio, com uma melodia inicial bastante característica e poderosa. Isso puxou-me para escrever sobre o meu regresso, visto que até ao concerto eu estava parado há alguns anos — e sobre a motivação que estava a sentir naquele momento de elevar o nome da minha cidade. Sentia-me o ‘Tarzan da Caparica’, que, para quem não sabe, foi um nadador-salvador da nossa terra que surgiu nos anos 40, e que ficou conhecido pelos mais de 300 salvamentos que fez. Elevou o nosso nome e motivou-me a fazer o mesmo. É dessa faixa que surge a vontade de criar o EP Tarzan da Caparica, faixa essa que já circula por aí desde meados de 2022 — e o EP saiu agora em Julho de 2023. É caso para dizer, ‘Caparica ‘tá no beat’.”


[Guerra] “Big Fuck”

“A mensagem do ‘Big Fuck’ é o que o próprio nome indica. É um som que motiva a deixar de lado o que os outros pensam e focar na nossa estrada. Os círculos ficam mais pequenos com o tempo, mas mais verdadeiros, e esse é o objetivo. É uma vibe mais fora do meu registo, mas sinto que as pessoas se identificam com a música — e tem uma mensagem forte. O people só dá valor ao que não é deles até que corra bem, e todo esse love nem sempre é verdadeiro. A dica é manter sempre o olho aberto e mandar um big fuck mesmo para quem duvida.”


[OneKrew] “Copo Cheio”

“O objectivo de ‘Copo Cheio’ foi servir de abertura ao EP, a ideia do optimista (ver o copo meio cheio, em vez de meio vazio). Como não somos de ‘meios’, decidimos o nome assim. A motivação veio do facto de OneKrew estar numa fase inicial, sem que assim fosse planeado. Juntávamo-nos todos para noites de festa no espaço que acabou por se tornar o estúdio e, no meio do estrago, acabámos por definir o EP à volta desse som. ‘Copo Cheio’, porque é assim que o queremos ver.”


[Farrusco] “Até Tarde”

“’Até Tarde’ simboliza as más decisões, os sacrifícios sem valor e tudo o que isso envolve. Fala de andar sem rumo e ganhar um rumo por causa disso mesmo. É uma track suja para ao mesmo tempo limpar a sujidade.”


[Valz x Edg1] “Dizpara”

“O tema ‘Dizpara’, escrito por mim e produzido, misturado e masterizado pelo Edg1, é o primeiro single de um projecto que desenhámos os dois, relacionado com o ego. Neste tema, encontramos aquilo que é uma egotrip, é uma viagem pelo meu ego, é um grito de revolta a dizer que eu coloco os meus próprios limites e limitações no que diz respeito ao alcance dos meus sonhos. O tema busca uma vibe mais oldschool, tanto musical como visualmente. Captado pela lente da maravilhosa Maria da @da.luzstudio

Um props à Tranquilow, pela oportunidade, pela partilha e por dar voz a todos nós.”


[Lucas Garcez] “Suma”

“O tema ‘Suma’ é um boombap clássico que traz uma crítica ao cenário atual do rap tuga, comparando o trabalho de alguns rappers ao lixo da cidade. A música conta com a produção instrumental do Chulo e scratch do DJ Suprhyme. Todo o processo de construção instrumental teve total apoio de alguns elementos da Rádio Milhafre e a música conta com um videoclipe realizado pela Rafaela Ramos.”


[Luster] “Chimney”

“‘Chimney’ é o primeiro tema do projecto LSD – Luster Sound Drugs, escrito e produzido pelo próprio e lançado em Março de 2022. Com beat do espanhol Simmi-ohh, a letra foi algo que apareceu quase de forma instantânea. O tema em si é a cannabis, o seu consumo, a visão do artista em relação à substância e em relação à forma como a sociedade aborda o assunto. O artwork também é da minha autoria, e a captação ficou a cargo do Benjamin Kruger da @merakimedia_official.”


[O Simples Mente x Marrquise] “Dia Limpo”

“‘Dia limpo’ surgiu ao piano do Marrquise, sendo uma composição inspirada no filme Mid90s. Um dia limpo pressupõe a existência de dias sujos. Balança entre a vontade de continuar a tentar ou estar perto de ceder à tentação de fugir – levanta uma questão pertinente: mesmo quando decidimos ficar, não serão as nossas escolhas baseadas na necessidade de fugirmos de nós? Entre ‘serões com fumo’ e ‘eventos para voar daqui para fora’, é sobre essa questão que se reflete durante a música.

O ‘Dia Limpo’ contou ainda com co-produção do David Varela e do Dinis Mota, Ricardo Pereira na bateria, Carlos Fernandes no baixo, Ivan Vicente no trombone, Pedro Jerónimo no trompete, Gonçalo Silva no saxofone alto e Luís Pimenta no saxofone barítono.”


[Visco] “Créditos”

“‘Créditos’ é um tema que lancei em 2020, foi feito em conjunto com Tayob J. e finalizado com scratch pelo DJ Perez. Aborda o apoio de quem sempre esteve lá e dos que nos apoiam a chegar onde queremos. É um tema que me diz muito porque, no final do dia, o que importa são os que nos rodeiam e que estão ao nosso lado a fazer acontecer. Por essa mesma razão, e por fazerem parte da história, têm sempre de levar os créditos, como diz o tema: ‘Nos créditos do movie, eu sei quem estava lá’.”


pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos