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José Lencastre lembra o flautista e saxofonista português.

Paulo Curado (1960-2024)

Morreu ontem o músico, compositor e improvisador de jazz Paulo Curado. O velório será amanhã, 8 de Março, entre as 16h e as 21h na igreja de São Jorge de Arroios, enquanto que o crematório acontece no sábado, dia 9, às 13h15 no cemitério do alto de São João. Segundo anunciou o filho, Miguel Sobral Curado, nas redes sociais, está planeada acontecer uma jam session em jeito de homenagem, cujos detalhes serão divulgados dentro de breve.

Nasceu em Espinho no ano de 1960 e formou-se musicalmente nas áreas da música clássica e do jazz, tendo passado pela Academia de Amadores de Música, o Conservatório Nacional e a Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal. Ao longo de uma celebrada carreira, Paulo Curado deu cartas na flauta e no saxofone e foi um importante pulmão para a cena musical da improvisação livre no nosso país. Ao longo das últimas quatro décadas, fundou a banda SHISH, integrou os colectivos Ensemble MIA ou Lisbon Improvisation Players, e eternizou sopros em discos de diferentes latitudes sónicas dentro da cena nacional — José Afonso, Vitorino, José Mário Branco, Jorge Palma, Nuno Rebelo, Rodrigo Amado e Sei Miguel foram alguns dos artistas com os quais se cruzou criativamente.

Além da obra discográfica mais tradicional, Paulo Curado delineou ainda peças para teatro, dança, cinema de animação e até música infantil, tendo também sido docente no Chapitô (Escola Profissional Artes e Ofícios do Espectáculo) e colaborado com o Atelier de Técnicas Narrativas da Fundação Calouste Gulbenkian. No presente milénio, somou algumas edições através do Bandcamp: a mais antiga, AS SETE COLINAS DE LISBOA, mereceu até o selo da Clean Feed; a mais recente, OU – OU, recaiu sobre a dupla que formou com João Madeira e data de 2021.

Ao Rimas e Batidas, o saxofonista José Lencastre lembrou aquele que foi um dos seus heróis musicais:

“As minhas memórias em relação ao Paulo Curado remontam a meados dos anos 90. Lembro-me bem de quando o meu irmão comprou O Lugar da Desordem, CD do seu trio com o saudoso Pedro Gonçalves no contrabaixo e com o Bruno Pedroso na bateria. Ouvimos essa música inúmeras vezes, e tenho até ideia de termos ido ao CCB ver o trio no espaço 7 às 9, uma série de concertos semanais que lá faziam no espaço da cafetaria.

Como sucede muitas vezes no meio do jazz e da música improvisada, acabámos por conhecer e até tocar ideias com essas figuras mais experientes, inicialmente misteriosas e inacessíveis para nós, artistas iniciantes nesta caminhada sem fim. 

O Paulo foi desde o primeiro momento de contacto uma pessoa extremamente simpática e gentil, de uma forma muito natural. Era genuinamente ele.

Quando retornei do Brasil em 2016, onde estive 4 anos a morar, retomei contacto com o meu bom amigo Miguel Mira e começámos a tocar cerca de três vezes por semana num estúdio com o Pedro Santo na bateria. Eu conhecia e era amigo do Pedro de outras andanças e foi uma boa surpresa ver que eles estavam numa de fazermos algo em conjunto. Nessa altura o Paulo morava em casa do Miguel e apareceu com ele várias vezes para se juntar a nós. Umas vezes tocava, outras não. Temos até uma gravação que nunca chegou a ver a luz do dia…

O MIA e o festival da Creative Sources no O’Culto da Ajuda eram também pontos de encontro. Estamos juntos no álbum Maat Mons, gravado ao vivo numa dessas edições na Ajuda, em Lisboa.

Algum tempo depois, víamos-nos por casa do João Madeira, onde também por vezes chegámos a partilhar a criação de música improvisada, ou composição em tempo real.

Infelizmente, nos últimos anos, a saúde do Paulo tornou-se cada vez mais debilitada e os nossos caminhos não se voltaram a cruzar.

Figura fundamental da música feita em Portugal, Paulo Curado foi também compositor para cinema e para dança, tocou com Carlos Paredes, Jorge Palma, e Zeca Afonso, entre muitos outros. 

É uma triste perda para todos nós que o conhecemos e para a Cultura do nosso país. 

A sua obra perdurará.”


 
 
 
 
 
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