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Texto: ReB Team
Fotografia: Pedro Roque
Publicado a: 15/12/2023

Está aí a 8ª sessão da mostra de talentos locais.

OCUPA: “Braga evoluiu na quantidade e qualidade de projetos de música eletrónica exploratória e da arte digital”

Texto: ReB Team
Fotografia: Pedro Roque
Publicado a: 15/12/2023

O gnration prepara-se para acolher a oitava edição do OCUPA, um evento que destaca a efervescente cena artística de Braga no âmbito da música eletrónica e arte digital. Organizado pela AUAUFEIOMAU, com o apoio do gnration, Braga Media Arts e Município de Braga, o OCUPA reúne artistas locais para uma celebração única que abrange diversas gerações e expressões artísticas.

O programa musical da edição deste ano inclui apresentações de Rita Silva, Wav.in Collective, The Vulture Drones, Coletivo Kindergarten e a estreia do Clube de Inverno, dirigido por Noiserv e Jorge Quintela. Este último, um projeto do Circuito — Serviço Educativo Braga Media Arts, tem sido palco de colaborações bem-sucedidas entre artistas de renome nacional e talento local.

No coração do OCUPA, o Clube de Inverno proporciona uma experiência única de improvisação e partilha artística ao longo da semana. Noiserv lidera a componente musical, enquanto Jorge Quintela assume a direção visual. O resultado destas sessões culmina com um espetáculo audiovisual que marca o arranque do fim-de-semana do evento, com entrada gratuita.

Destacando-se como uma incubadora de talento emergente na cena eletrónica nacional, a Wav.in Collective apresenta um espetáculo especial, trazendo à tona três composições inéditas em formato live act. Com um lineup rotativo, o coletivo cria uma dinâmica explorativa ancorada na eletrónica lo-fi, reforçando uma abordagem colaborativa e de interajuda.

O Coletivo Kindergarten, focado em media art e artes visuais e sonoras, apresenta a performance audiovisual “Fließband”. Inspirada na interseção entre o filme Metropolis de Fritz Lang e a era digital, a narrativa da peça envolve a subversão do poder pelas máquinas. Combinando música e manipulação de vídeo em tempo real, o Coletivo oferece um espetáculo desafiante, navegando entre o expressionismo alemão e a eletrónica inspirada por Aphex Twin.

Vedadeira referência da cena noise de Braga, The Vulture Drones regressam aos palcos com uma abordagem experimental singular. Modulando o ruído e explorando a experimentação sonora, o trio utiliza uma variedade de instrumentos, incluindo drones, guitarras, drum machines e samplers para criar uma jornada introspetiva que abraça elementos de hipno-noise, industrial, rock e música eletrónica.

Rita Silva, que já residiu em tempos em Braga, instrumentista e compositora, apresentará no âmbito do OCUPA o seu segundo trabalho, The Inflationary Epoch. Silva explora o universo da eletrónica experimental, influenciada por artistas incontornáveis, de Brian Eno a Deli Derbyshire. O disco, gravado num único take, oferece uma experiência intergaláctica através da improvisação com sintetizadores modulares e técnicas generativas de programação.

O programa expositivo do fim-de-semana OCUPA destaca duas instalações imperdíveis. “Posto de Escuta – 10-Gon”, concebido por estudantes do Mestrado em Media Arts da Universidade do Minho, cria uma jornada sonora e visual única. Já “Antecâmara”, desenvolvida por Luis Lacea Romera, mergulha nas paisagens sonoras pós-incêndio do Parque Natural do Gerês, questionando o que é protegido pela reserva.

Os bilhetes diários e o passe geral para o OCUPA podem ser adquiridos online, no balcão do gnration e locais habituais. A apresentação do Clube de Inverno é gratuita, com os bilhetes disponíveis na bilheteira do gnration no dia do espetáculo. Não percam a oportunidade de mergulhar na vanguarda artística bracarense neste evento imperdível.



Este projeto, OCUPA, parece assentar numa certa ideia de responsabilidade programática por parte de quem pensa a cultura em Braga ao dar espaço a artistas locais. É isso que acontece ou há outra génese para o OCUPA?

O OCUPA começou por ser um momento em que artistas de Braga ocupavam um espaço para apresentar o seu trabalho. Evoluiu para um momento anual de apresentação do Estado da Arte na cidade, podendo-se apreciar o trabalho de artistas de Braga ou que residem na cidade. Felizmente, o tempo tem mostrado como a cidade evoluiu de forma muito positiva na quantidade e qualidade de projetos de música eletrónica exploratória e da arte digital. É uma diferença grande desde que começámos a organizar o OCUPA. 

Como são escolhidos em cada ano os artistas que se acolhem neste programa? Há uma curadoria assumida que se traduz nas escolhas e nos convites feitos em cada ano ou existe também algum processo de candidatura?

Existe um trabalho de curadoria. Cabe à equipa da AUAUFEIOMAU fazer os convites aos artistas. Nem sempre sabemos o que vêm apresentar porque existem casos de estreia, como acontecerá este ano. No entanto, em 2023 há uma exceção. Fruto de uma parceria que fizemos com o Festival Fiber de Amsterdão (Países baixos), apresenta-se a instalação de Luis Lecea Romera, designada “Antecâmara”, que foi a obra selecionada de uma call organizada pelas duas entidades. Estará patente no gnration até final do ano e é uma peça muito interessante pelo conceito e resultado final.

Há aqui também uma ligação clara à Academia: quão ligadas às dinâmicas culturais da cidade estão as universidades e escolas locais?

Não serei a melhor pessoa para responder aprofundadamente a essa questão. Vemos poucos projetos informais a saírem da universidade e das escolas. A Universidade, com quem temos ótima relação, está fisicamente muito guetizada por razões que entendo serem mais de cariz urbanístico. Somos vizinhos da Escola Superior de Música e nunca falámos, por culpa mútua, obviamente. Sobre as escolas, sei que têm calendários muito ocupados e que fazem um enorme esforço de ligação. Deviam aparecer mais fora dos ambientes formais. Mas isto é a impressão de quem não lida diariamente com esse universo, podendo estar a dizer uma enorme asneira.

A que públicos acreditas que se destinam os diferentes espetáculos e instalações aqui propostos?

Diria que a um público que vai dos 16 aos 65, se quisermos usar escalões formais. É um fim-de-semana com projetos muito diversos, mas bastante interessantes.

Finalmente: esta forte implementação local de artistas com foco na electrónica e artes digitais de vanguarda é já resultado de trabalho efectuado em festivais como o Semibreve e por equipamentos como o gnration ao longo dos anos ou achas que tem raízes mais fundas ainda?

O Semibreve começou por dar visibilidade a Braga e depois o gnration e a Braga Media Arts ajudaram. Hoje é frequente referirem Braga como caso de sucesso, por vezes um pouco exagerado, quanto a mim. Pelos meios que os artistas têm em casa, e até poderíamos relacionar com os espaços físicos de trabalho de hoje, por vezes os quartos ou a sala de casa, pois não existem outros a custos acessíveis, acaba por ser mais fácil trabalhar nesta área. Mas, olhando ao que se passa um pouco pelo mundo da arte, e, na música, pelos nomes que surgem a compor bandas sonoras para filmes e séries, e pela projeção de artistas desta área, diria que seria uma inevitabilidade. O que continua a ser pena é ver, também, os artistas a terem de partir para outros locais se querem viver das artes.


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