Vem aí o novo álbum de NBC: Carrossel deve chegar no segundo trimestre do ano e o single homónimo está disponível desde a passada sexta-feira, 26 de Janeiro. O disco começou a ser construído durante a pandemia, quando o músico de Torres Vedras deu por si fechado em casa e a necessitar de se capacitar a si próprio para conseguir fazer música.
“Pus na minha cabeça que achava que conseguia fazer um álbum sozinho”, explica ao Rimas e Batidas. “Eu já estava a gravar um disco na pandemia, de repente ficamos fechados em casa: ‘Fogo, não posso ficar aqui fechado.’ Se fosse escritor, tinha um papel e uma caneta para escrever. Sendo músico, e não tendo um estúdio, tenho de me desenvencilhar, não posso ficar aqui parado. E disse a mim mesmo: ‘Vou ter de ser capaz de fazer acontecer o que está dentro da minha cabeça.’”
Fez cursos online e iniciou um “estudo profundo” para conseguir dominar as áreas da música sobre as quais não tinha tanto conhecimento, apesar da sua já longa carreira. “Todos os instrumentos que aqui aparecem são da minha concepção, do início ao fim. O desafio foi concretizar estas ideias: como é que consigo juntar estes elementos todos que tenho na cabeça, arrumá-los todos aprumadinhos dentro de uma casa, para conseguir fazer uma música?”
O processo de autossuficiência resultou num disco escrito, composto, gravado, misturado e masterizado por NBC, que acaba por representar um certo “ponto de viragem” no seu percurso. Artista criado no movimento hip hop português, abraçou as melodias ao longo do seu trajecto, passando dos refrões para temas inteiros, mesclando rap com R&B e soul, géneros que foram ganhando preponderância na sua música. Carrossel será um disco completamente virado para um público abrangente, mais aberto a diferentes sonoridades, e que conta a história de uma relação.
“É a história de uma relação que começa e termina, desde o momento em que eles se conhecem até ao momento em que acabam”, conta o músico. Fã de storytelling, do cinema à publicidade, NBC tem tido alguma experiência nesta última área, fazendo locuções para anúncios e envolvendo-se no meio. Foi a partir de uma campanha da NOS, que representava uma história de amor num carrossel, que desenvolveu o imaginário do seu novo álbum.
“Quem cria publicidade tem pouco tempo para contar uma história gigante. Tens de passar às pessoas que estão a ver uma ideia de forma muito rápida. Então a ideia aqui foi contar a história dos dois dentro deste carrossel que também é a vida. É elucidativo, todos nós sabemos o que é o carrossel da vida, a andar à volta eternamente, com as várias coisas que vão acontecendo e vão subindo e descendo.”
Por outro lado, o álbum que Richie Campbell lançou no ano passado, Heartbreak & Other Stories, foi fulcral para inspirar NBC para este trabalho, das histórias de amor (e desamor) à sonoridade. “Foi o mais influente de todos. Pensei: conheço bem isto e acho que consigo fazer uma coisa idêntica sozinho. Há sempre um disco mega influente nos meus álbuns todos. O Maturidade é inspirado pelo álbum do k-os, o Joyful Rebellion.”
NBC adianta que Carrossel vai ter duas faixas com uma “roupagem mais afro”, mas também um par de temas mais “poderosos” e quiçá até “industriais”, aludindo ao tom épico de “Take Me To Church“, o êxito de Hozier. Será um álbum “com várias cores”.
“Tu ouves o disco do início ao fim, percebendo a história, e vais compreender as várias fases da relação. A última música tem um desfecho super engraçado, porque uma das pessoas está a dizer ‘acabou, ’tá-se bem, já estamos refeitos disto, sei que gostaria de ficar contigo mas está tudo bem na mesma’ e ao mesmo tempo é mais pé de areia, com um feeling mais primaveril. ‘Está tudo bem, vamos começar um novo ciclo’. Chama-se ‘Véu’. Quis que fosse o último tema para acabar com um feeling mais positivo.”
Para construir esta relação fictícia que irá servir de fio condutor ao disco, NBC simplesmente inspirou-se nas muitas relações que terminaram durante o período da pandemia, de “pessoas próximas e menos próximas”. “Quando ouvia uma frase, guardava, até ter uma Caixa de Pandora com todas as informações para o momento em que fosse preciso. Foi uma fase muito prolífica.”
Os instrumentais vieram primeiro do que as letras e foram “pedindo”, de forma orgânica, a voz de NBC. “Como é uma história de uma relação, obviamente tem altos e baixos. Mas tem vários temas mais upbeat, que demonstram esses momentos alegres.”
É o caso do single homónimo que já pode ser ouvido. Timóteo Santos inspirou-se particularmente nas festas de Deejay Kamala onde actuava como MC anfitrião durante a pandemia para evocar esses sentimentos de júbilo. “Como são festas animadas e fizemo-las ainda durante a pandemia, em que o pessoal tinha de estar sentado ou só se dançava na mesa, meio que ficou na minha cabeça a ideia de que nós precisamos um bocado de alegria. Eu até sou mais virado para dentro, para os pensamentos, mas sei que podes pensar na mesma, sendo um bocadinho mais alegre. E este tema em específico tem muito do que se passava nessas festas e muito do que se passou comigo nesse processo temporal. O estado de espírito mais upbeat tem feito parte da minha vida e tem-me dado muitas alegrias.”
Ao mesmo tempo que reflecte uma fase feliz da relação que marca o álbum, tem o significado mais simbólico e metafísico de NBC se estar a referir ao próprio processo de construção deste disco. “É uma forma de dizer à música que a quero conhecer melhor, porque foi o que fiz com este álbum.”
Neste processo, sentiu também alguns receios por se assumir finalmente como um artista mais pop, distante dos cânones e do público do rap. “Quando estás super por dentro de um grande processo, como no rap, onde eu estava solidificado, quando queres sair disso ficas com dúvidas. Agora, para eu explorar outras áreas, como é que isto vai ser? O pessoal pode não achar assim tanta graça. Precisei de ultrapassá-lo e pensar: ‘Não tenho nada a provar a ninguém nesse aspecto, vou só fazer a minha cena e está tudo bem.’ E estou a descobrir lados meus que não fazia a mínima ideia de que existiam”, conta. Ainda antes do lançamento do álbum, estão prometidos mais singles.