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Fotografia: Trouble Views
Publicado a: 18/12/2023

O produtor tem um novo álbum instrumental composto por 16 faixas.

Madkutz sobre FILIGRANA: “É um tributo a estas pessoas que merecem ser lembradas para sempre”

Fotografia: Trouble Views
Publicado a: 18/12/2023

Um dos mais prolíficos e reputados produtores nacionais de hip hop, Madkutz, tem um novo álbum instrumental. Lançado na sexta-feira, 15 de Dezembro, FILIGRANA é composto por 16 faixas, beats ornamentados e trabalhados que homenageiam uma série de pessoas e animais que são (e continuam a ser, mesmo aquelas que já não se encontram por cá) importantes na vida do artista do Montijo. A única participação no disco é da DJ Allexia.

Em declarações ao Rimas e Batidas, Madkutz desvenda o conceito de FILIGRANA, que considera o seu melhor trabalho em termos sónicos, e fala-nos de outros projectos que tem entre mãos.



Consegues explicar-nos o conceito deste FILIGRANA, inclusive os títulos das faixas?

Este disco surgiu de uma forma engraçada. Sabes que eu tenho o hábito de ir beber um copo ao domingo com a Margarida Pereira, que é a minha sidekick no podcast Bicho do Mato? Num desses domingos ela estava com o fio que está na capa principal e uma t-shirt branca. Automaticamente imaginei o meu logotipo em filigrana preso ao fio. Os títulos das faixas são animais/pessoas que de certa forma foram impactantes na minha vida. Ainda hoje estava a fazer os vídeos de promoção e a pensar: “A malta vai ficar à toa de eu estar a meter a minha gata como título e imagem de um instrumental meu”. Tens pessoas que infelizmente já não estão entre nós mas que, do pouco ou muito que lidei com elas, retive e aprendi muito. Sabes que nós, artistas, temos uma sorte dos diabos em podermos deixar algo na história? Não falo de clássico ou não ser clássico, falo da existência de algo. O Ti Cuba era o dono da taberna onde era gravada a série Os Batanetes, um homem de uma bondade sem limites, adorava estar lá com o meu pessoal a comer/beber tudo e mais alguma coisa, no final, pedir-lhe a conta e ele vir cheio de vergonha dizer que a conta dava 4/5€ a cada. “A vida custa a todos, ainda é bom dinheiro”. Era uma pessoa humilde, que viveu dos tempos austeros até aos “equilibrados”, temos muito a aprender com estas pessoas. Tenho uma faixa chamada “Hélder Santos” que era o melhor amigo do meu enteado, infelizmente já não está entre nós, dono de um coração enorme, um fundo muito puro, zero maldade, apaixonado por desporto e cheio de sonhos, deixou-nos poucos anos depois de atingir a maioridade, vítima de doença terminal. A Cláudia Carvalho o mesmo, uma mulher com M grande, bem formada, dona de uma simpatia, bondade, educação e um sorriso apaixonante que acabaram por ser levados por aquela maldita doença. Este álbum é um tributo a essas pessoas que merecem ser lembradas para sempre. Ao acabar este disco, reparei que teria de ser pelo menos um disco duplo, portanto, é natural que venha a fazer o volume 2 com a mesma estética. Falta tanta gente.

Em termos sonoros, e de processo criativo, como descreverias este álbum?

Ainda hoje o Caminhante me ligou para dar a sua opinião sobre o álbum e há uma coisa que ambos sentimos: a estrutura dos temas não é igual aos últimos álbuns de instrumentais que lancei. Aliás, tirando o BANE, nenhum álbum de instrumentais meu consegue rivalizar com FILIGRANA. Tenho de fazer um agradecimento do tamanho do mundo ao Maf, dos Guardiões do Subsolo, com quem tenho o duo de produção Mandíbula, pois ele ensinou-me muita coisa. Sempre que ia à Subcave, saía de lá com algo aprendido. Sonicamente este é o meu melhor trabalho e isso é uma das várias coisas que lhe devo! Tentei também dar o meu máximo em não ter mais do mesmo, como já fiz nos meus 40 álbuns de instrumentais. Ao contrário da maioria dos meus álbuns, não tenho problemas em ouvir este disco de uma ponta à outra.

Eram beats que tinhas guardados de alguma forma, dos muitos que vais fazendo, ou foram construídos de propósito para este disco?

O único tema que produzi de propósito a pensar no nome da pessoa foi o tema “Ti Cuba”. Até porque pedi à Raquel (a neta) para gravar a avó (viúva do Ti Cuba) uma das frases que ele mais amava. Fiz questão de ter esse momento no disco e não poderia usar algo tão sensível e importante num beat qualquer que tivesse aí parado no disco rígido. Felizmente, o sample apareceu-me à frente e consegui expressar algo que fizesse sentido. O Ti Cuba é de Cuba do Alentejo, então é preciso sentir umas cordas, guitarra, coros, etc. No geral, a maioria são beats que submeti na Mobb Beat ao longo deste ano. Somos uma comunidade de produtores em que todas as semanas temos o Sample Challenge, onde temos de flipar um sample escolhido pelo último vencedor e dar o nosso melhor. Aí restou-me fazer uma triagem dos melhores e tentar que fizessem sentido neste disco.

Já estás a trabalhar em mais projectos, alguma coisa que queiras desvendar?

Há uns anos, no programa Tape Delay, do DarkSunn, dei um spoiler do meu álbum Joker. Disse até como seria a capa para não me roubarem a ideia. Sinto que estou a falhar com quem quer que tenha ouvido essa entrevista. Tenciono pegar nesse projecto. Chamar artistas para uma compilação produzida por mim. Felizmente tenho tido a sorte de artistas que venero aceitarem rimar nos meus beats, então, acho que a altura não poderia ser a melhor. Já estou a organizar beats para um possível Vício 2, que é um álbum de instrumentais que lancei na pandemia. De resto é mais do mesmo: tenho beats em vários álbuns de vários artistas, já sabes como é às vezes fazem parte do disco, às vezes ficam como lost tapes. Não vou dizer nomes para não dar azar.


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