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Fotografia: Chikolaev
Publicado a: 09/06/2020

Chikolaev realizou o videoclipe para “BurnOut x Até Quando Eu Sou Fake”, o primeiro avanço do álbum de estreia de MACTO.

MACTO: “Não esperem ambientes que perpetuem a ignorância mundana”

Fotografia: Chikolaev
Publicado a: 09/06/2020

“Negro. Sem esperança. Cáustico”. É este o ambiente que vão presenciar em “BurnOut x Até Quando Eu Sou Fake”, o primeiro avanço do álbum de estreia de MACTO, cujo acompanhamento visual foi realizado por Chikolaev.

Tem sido alvo de um acompanhamento atento por parte da nossa redacção e logo em Janeiro apontámo-lo como um dos “discos portugueses que esperamos para 2020”. Falamos, claro, do LP de apresentação de MACTO, um projecto conduzido a meias por Youngstud e Sensei D. durante o último par de anos e que está agora prestes a ver a luz do dia. I: Emergir do Caos chega no dia 16 de Junho e há um generoso making-of a rodar no YouTube que mostra uma boa parte do processo criativo que levou a dupla ao álbum.

Em Março passado, esses “dois anos de trabalho constante, paciência, dúvidas e muita aprendizagem” davam finalmente o primeiro fruto e a garantia a quem os segue de que a nave MACTO estava a começar a entrar em órbita. “Amuse Bouche” foi um pequeno brinde que ficou de fora do disco, mas grande no seu propósito que era o de nos indicar algumas das principais coordenadas estéticas pelas quais Youngstud e Sensei D. iam passar nesta nova aventura.



Dois anos após os primeiros preparativos, o projecto MACTO está agora na iminência de ver nascer o disco de estreia. Que balanço fazem deste período de incubação — desde os primeiros brainstormings à sua concepção — e o que significa para vocês o lançamento do LP, que acontece já no próximo dia 16?

Foram dois anos de trabalho constante, paciência, dúvidas e muita aprendizagem. Nós começámos a trabalhar, quase por acaso, para gravar uma faixa. Eu tinha visto o Sensei a fazer um beat num Insta Story, acho eu, e abordei-o porque gostei do que ele estava a fazer no vídeo. Foi logo bué receptivo e em menos de nada estávamos no estúdio a gravar um tema. Eu estava numa altura bué confusa, tinha lançado o Aversão há pouco tempo, tinha tido boa receptividade a nível de media e da malta que já me acompanhava, mas nem sequer consegui apresentar uma única vez o EP ao vivo (organizei eu próprio um evento para o apresentar que foi cancelado pelos responsáveis do espaço a três dias de se realizar). Não fazia ideia do que fazer a seguir, de como me posicionar, e tinha a noção que depois daquele EP tinha que colocar a fasquia o mais alto possível para o que viesse a seguir, não havia outra hipótese. Mas era um bocado eu contra o mundo desde que tinha começado a levar as coisas mais a sério na música. Tens que furar, tens que chatear pessoas, e acima de tudo acho que tens que incorporar um mindset de “tu não és mais que ninguém mas também ninguém é mais que tu” e mentalizar-me que precisava de trabalhar nos meus limites para apresentar algo digno e que elevasse a barra. Estou 110% agradecido por me ter cruzado nesta fase com o Sensei, porque em várias cenas para as quais eu não estava preparado ele funcionou muito como um mentor. É então que surge o convite para fazermos mais do que uma faixa solta: “Vamos fazer um EP!”. Para o Sensei também foi uma excelente oportunidade para explorar e arriscar outras coisas que não estavam na zona de conforto dele a nível de produção, e também para fazer algo que ele já pretendia: um disco inteiro com o mesmo rapper. A nossa amizade foi-se construindo à medida que trabalhávamos e acabámos por assumir o projecto como sendo um grupo (MACTO) e não uma colaboração pontual de produtor/rapper. Seguiram-se estes dois anos de trabalho, obstáculos, chatices e muita paciência, e aqui tenho que agradecer ao Sensei pela confiança e pelo crédito que me depositou, e por ter sido incansável durante todo este processo. Muito provavelmente se eu tivesse embarcado sozinho nisto o disco não via a luz do dia. Para ser honesto, eu não tive que me preocupar com muito mais do que os aspectos criativos do nosso projecto (letras, escolher beats ou sonoridades e dar-lhe alguns inputs ou opiniões a nível mais geral). Tudo o resto passou pelo trabalho obstinado que ele foi desenvolvendo para fazer acontecer. Estamos super satisfeitos e orgulhosos com o resultado. Foi uma jornada enriquecedora e conseguimos elevar sem dúvida a parada.

Há uma semana deram-nos a conhecer um resumo da temporada que passaram em estúdio durante as gravações. Nesse mini-doc podemos ver algumas peripécias, convívios mas também muito trabalho sério. Depararam-se com algum obstáculo durante este processo? Por outro lado, que parte desta viagem consideram ter sido a mais gratificante?

Quando fazes as cenas com estes padrões de exigência, há sempre coisas pelo caminho que vão correr menos bem. A nível de sonoridade nós já tínhamos bastante claro que queríamos entrar em alguma experimentação, por isso a nossa parte criativa fluiu sempre bastante bem e em sintonia. Ajudou muito o nosso gosto cultural e influências ser bastante convergente. Depois, conforme gravámos algumas demos, começámos a pensar em participações. Houve algumas portas a fecharem-se nesta fase, acho que houve gente que não acreditou no projecto e gente que simplesmente deu ghost. No outro dia vi uma citação do VULTO. que até faz referência a isso e não podia concordar mais. Do género, a malta assim que assume uma beca de reconhecimento é infectada com tiques de vedetismo, ganham “medo” de trabalhar com os “mija na escada”. Obviamente não era isso que nos ia parar e provavelmente só nos ia atrasar se continuássemos a ser teimosos em insistir. Ainda assim tivemos várias colaborações de gente super talentosa, fosse a tocar instrumentos ou a cantar um refrão. Trabalhar com gente humilde e com talento foi talvez a cena mais recompensadora. Desde a malta que realizou os vídeos, que participou neles, que cantou, tocou, tirou fotografias de sessões de estúdio, que abdicaram de umas horas das suas vidas para acrescentar valor ao trabalho de alguém. Para mim isso é uma grande parte da magia do que andamos aqui a fazer. Para além disto, a maior recompensa foi sem dúvida concluir o disco, ainda estamos meio incrédulos que tenha chegado ao fim.

Em Março serviram-nos a entrada “AMUSE BOUCHE”, que gerou desde logo algum burburinho nas vossas plataformas digitais. Que feedback é que têm recebido em relação a esse tema?

O feedback tem sido bastante bom, colocámos mais uns quantos olhos e ouvidos em nós e temos visto que a expectativa tem crescido em relação ao nosso trabalho. Acho que todas essas pessoas não vão ficar desapontadas. O “Amuse Bouche” foram apenas umas voltas de teste à pista. A verdadeira corrida vai começar agora.

Hoje editam aquele que é o primeiro single pertencente ao vosso LP de estreia. Ao nível da sonoridade e da letra, de que forma é que o descrevem?

Negro. Sem esperança. Cáustico. Ao nível da sonoridade, e se conhecem o trabalho do Sensei, não esperem nada muito parecido ao que estão habituados. Viajámos no sentido de criar um universo próprio a partir do que gostamos em vez de seguir fórmulas. Ao nível da escrita podem esperar mais ou menos o mesmo Youngstud, um sacana niilista com problemas em viver em sociedade e consigo próprio, mas com mais dois anos em cima.

O videoclipe tem a assinatura do Chikolaev. Dado vocês os dois serem cinéfilos assumidos, presumo que a componente visual foi pensada e tratada com o mesmo cuidado que tiverem em relação à música. Como é que vos surgiu a ideia para todo este imaginário?

Sim, sem dúvida. A componente visual tem imenso peso naquilo que pretendemos passar para fora. Obviamente a música tem que falar por si, mas só conseguimos proporcionar uma maior imersão no nosso imaginário com um audiovisual que acrescente valor. Esta componente foi assumida como uma cena importante, acho que a experiência para quem nos segue não precisa de ficar confinada só à música e às imagens mentais que cada um pode criar quando a ouve, e isso quanto a nós não passa por fazer um video bué genérico e clichê quase como uma obrigação para dar visibilidade a uma música. A parte visual é e tem que ser para além de um adorno, uma extensão de vida super bem vinda à música e a quem a aprecia. E até nessa componente temos que quebrar barreiras. O “artista moderno” não deve limitar a sua visão só à música, temos que alargar o espectro. O Sensei sendo designer de profissão, assumiu o papel de direção artística e de criar as bases desta “máquina”, portanto a imagética que vão ver foi pensada ao pormenor. Nesse aspecto fomos também beber das nossas influências na música e cinema, e o Chikolaev assinou um video que captou muito bem o universo que estamos a criar. Não esperem conforto nem ambientes que vos proporcionem beber uma caipirinha de chinelo no pé ou que perpetue a ignorância mundana. Nós não estamos aqui para se sentirem bem na vossa pele. Estamos aqui para vos retirar as entranhas sem anestesia.


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