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Publicado a: 21/09/2016

Low End Theory: 9 grandes linhas de baixo no hip hop

Publicado a: 21/09/2016

[TEXTO] Rui Miguel Abreu

O hip hop sempre celebrou o baixo, as frequências mais graves, o “boom” que antecede o “bap”. Dos primeiros passos, em que o baixo era real e tocado por mãos experientes (é Doug Wimbish, e não um sampler, que “rouba” em “Rapper’s Delight” a linha de baixo tocada por Bernard Edwards no tema “Good Times” dos Chic), aos tempos em que o trovão da 808 assegurava quase todas as despesas e daí até à era dourada do sampling, o hip hop nunca esqueceu que o baixo é a fundação, a terra onde todos fincamos os pés, a fonte da vibração primordial.

Abaixo celebram-se nove das melhores linhas de baixo que a memória do hip hop guardou. É favor subir o “bass”, baixar o “treble” e assegurar-se que não há copos na borda da mesa. E não se assustem se o chão tremer um bocadinho.

 


mantronix

09. [BASSLINE] MANTRONIX

1986. Nova Iorque. Kurtis Mantronik não é apenas um mestre da 808, é igualmente um execpcional artesão com a fita analógica, com a lâmina a servir como principal ferramenta para incríveis edits numa era em que os computadores ainda serviam apenas para gerir as operações internacionais dos grandes bancos e ainda não existiam nos estúdios de gravação. Com MC Tee, Mantronik criou inúmeros clássicos com  a marca Mantronix, clássicos que cruzavam hip hop, electro, latin freestyle, música concreta, house dos primórdios e Kraftwerk em imaginativas doses. Esta é uma daquelas linhas de baixo que merecia a sua própria estátua se tal fosse possível. Monumental!!! Meia dúzia de notas bastam para abanar o mundo. E os dois últimos minutos deste clássico “Bassline” são uma obra-prima da arte moderna.

 


Polyrhythm addicts

08. [MOTION 2000] POLYRHYTHM ADDICTS

https://www.youtube.com/watch?v=VjFcR0q0Fc0

DJ Spinna, em 1999, a samplar Library Music da KPM estava na crista da onda. Esta linha de baixo de uma peça de Steve Gray com o título “Pulp” terá, quase de certeza, sido tocada por Herbie Flowers, o mesmo homem que assegura a linha de baixo de “Walk On The Wild Side” de Lou Reed que aterrou noutro tema que todos conhecemos muito bem. Os Polyrhythm Addicts eram uma espécie de supergrupo com Spinna, Mr Complex, Apani B e Shabaam Sahdeeq. E quando apareceu, “Motion 2000” carregava a força de uma terramoto, parecia capaz de deslocar placas tectónicas. Ter escutado esta bomba no sistema de som um clube é um dos privilégios da minha vida.

 


Digable Planets

07. [REBIRTH OF SLICK (COOL LIKE THAT)] DIGABLE PLANETS

Em 1992, a memória disponível nos samplers começou a permitir ir buscar frases mais longas e por isso mesmo gestos como o dos Digable Planets (de quem hoje tivemos belíssimas notícias) começaram a ser possíveis. É o contrabaixista Dennis Irwin que assegura a malha que os Planets foram “diggar” num disco de 1979 dos Jazz Messengers de Art Blakey. Muito mais acelerada no original, esta linha planta esteticamente os Digable Planets – que se estreram precisamente com este tema – nos terrenos onde o hip hop se misturava com o jazz em busca de uma identidade progressiva e sofisticada. É, ainda hoje, um belíssimo clássico.

 


eric b & rakim

06. [DON’T SWEAT THE TECHNIQUE] Eric B & Rakim

Mais um tema de 1992, mais uma linha infecciosa de contrabaixo, desta vez “subtraída” a um clássico de 1971 do projecto Young Holt Unlimited da incrível secção rítmica formada por Redd Holt na bateria e Eldee Young no baixo. Juntos, foram duas das partes do triângulo de elegância que era o Ramsey Lewis Trio. A destreza de Eldee Young é mantida, com o sample a ser retirado não do arranque de um tema, mas de um solo a meio de “Queen of The Nile”, tema que já foi usado noutros contextos, Ice T que o diga. Claro que Rakim transforma o sample em ouro, em matemática elevada, em arte superior. “Don’t Sweat The Technique” é uma daquelas músicas que deveria ser gravada num disco de ouro e enviada para o espaço na esperança de que uma civilização extra-terrestre um dia a encontrasse e pensasse: “Damn, estes terráqueos eram tipos muito avançados!”

 


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05. [RUN THE JEWELS] RUN THE JEWELS

El-P a comandar as máquinas, mas com Little Shalimar a dar uma ajuda e muito provavelmente, a julgar pela ficha técnica, Ikey Owens a executar a linha de baixo num sintetizador, ele que também tem Mars Volta ou Jack White como clientes em ocasiões especiais. Ácida até dizer chega, esta linha de baixo é devedora de outra que abordaremos mais adiante: suja, gorda, expansiva até mais não e perfeita para o arranque da discografia de um dos grupos mais celebrados do presente. É o tema-bandeira do duo que El-P criou com Killer Mike, aquele que lhes dá o nome e que ao vivo soa como um furacão devastador! Exactamente como gostamos!

 


danger doom

04. [BENZIE BOX] DANGER DOOM FT: CEE LO

O álbum The Mouse And The Mask saiu em 2005 e reuniu os incríveis talentos de Danger Mouse e do enorme DOOM – Danger Doom foi a designação escolhida. Com beats do rato menos perigoso do universo hip hop e raps do único MC a quem pedimos que nunca tire a máscara, este álbum já devia ter tido continuação, mas tal não aconteceu. O tema em que Cee Lo faz uma perninha é servido por outra monumental linha de baixo, económica, mas com mais peso do que o convidado especial do tema e o MC Doom juntos. O grave junto com o synth mais agudo causa sempre frenesim. Talvez porque active neurónios especiais no nosso cérebro, talvez por ser desenhado para tocar em partes especiais do nosso sistema nervoso. Seja lá o que for, a verdade é que funciona. E de que maneira.

 


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03. [UMI SAYS] MOS DEF

Tema sideral de um álbum cósmico de um artista estratosférico (difícil isto de gerir os adjectivos…). Black On Both Sides é um dos melhores álbuns da sua geração, seja qual for o género em que se possa pensar e neste tema Mos Def supera-se. Produzido por Mos Def e David Kennedy, o tema conta com o mestre Weldon Irvine no orgão Hammond e ainda tem Will.I.Am no fender Rhodes. Não se sabe quem tocou o baixo ou se é um sample (o Who Sampled nada nos diz), mas o mais provável é ter ficado a cargo de algum músico de sessão anónimo. Seja como for, é uma linha propulsiva, excelentemente tocada, jazzy e funky e tudo o mais que se quiser. Baixistas podem checar a tablatura aqui. Sempre gostei do facto da versão instrumental do tema tocada a 45 rotações ser um excelente pedaço de drum n’ bass. experimentem!

 


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02. [NY STATE OF MIND] NAS

Em 1994, DJ Premier criou uma obra prima absoluta. A frase de piano “raptada” de um disco de 1978 de Joe Chambers é baixada algumas oitavas para se obter a sombria linha de baixo que, juro, seria capaz de ouvir em repeat durante uma semana sem me cansar. Se há uma ideia de tensão associada às ruas de Nova Iorque que Nas pinta com tanta classe, então esta linha capta-a na perfeição. E a mestria com que Premier depois traz no beat o piano até à superfície, mantendo o “rumble” grave como fundação do seu edifício de samples é absolutamente magistral. Foi ele que criou este método, este discurso no hip hop, foi ele que explicou ao mundo como peças díspares (em “Ny State of Mind” ainda há elementos de Donald Byrd, Kool & the Gang e outros) se podiam encaixar e servir depois o flow de rappers iluminados. Não se consegue ser muito melhor do que isto.

 


dead prez

01. [HIP HOP] DEAD PREZ

Não há linha de baixo maior do que esta. E para tanto parece que basta uma nota e o dedo certo no “pitch bender” do sintetizador (uma Bass Station da Novation?). Há duas versões do tema e uma delas inclui crédito de produção de Kanye West, mas o crédito real deve mesmo ser entregue a Hedrush dos mui revolucionários Dead Prez que com a combinação certa de “drums” e “bass” criou aqui a banda sonora perfeita para a revolução das ruas num tema de impressionante urgência e incrível energia. Não apetece deixar coisa sobre coisa quando este tremor toma conta dos subgraves no clube. Todos juntos agora: “it’s bigger than HIP HOP HIP HOP”!!!

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