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Fotografia: Rafael Farias
Publicado a: 06/09/2021

Karma É’21 – Dia 3: em progressão

Fotografia: Rafael Farias
Publicado a: 06/09/2021

O terceiro e penúltimo dia da edição de 2021 do Karma É ficou marcado pelas sonoridades rock de Bardino e uma secção de sopros muito particular, presente de Dada Garbeck, mas também pela abundância de vocais a que o festival nos tem desabituado. A fechar a noite, com um prog-rock que roça os metais pesados, estiveram os viseenses Amaterazu com o concerto com mais tonelagem do festival.

Pode dizer-se que a tarde de anteontem começou em beleza ao som de Centelha, o mais recente disco dos Bardino, apresentado ao vivo no Fontelo. 2021 não tem sido um ano fácil para a música independente e, se há grupo que sabe disso, é este. Depois de lançarem o primeiro longa-duração em Agosto de 2020, o conjunto do Porto viu-se afastado dos palcos pela pandemia, e fez este sábado – segundo as contas de Rui Martins (teclas e guitarra) – apenas o sexto concerto de apresentação do álbum em pouco mais de um ano. Mas vejam-se as coisas pelo lado positivo: não faltou vontade de tocar.

Se soa bem ouvir Centelha em formato digital, ao vivo a música ganha uma dimensão superior um pouco graças aos sintetizadores que a banda introduziu no último disco, mas também devido à espetacularidade da bateria de Nuno Fulgêncio que ressoou acima dos instrumentos de Diogo Silva (baixo) e Rafael Martins na Mata do Fontelo. 

In loco, o álbum é uma autêntica experiência musical. Sem voz, os ouvidos dedicam-se mais ao som de cada instrumento, e o prog-rock banhado a sintetizadores e acordes de guitarra filtrados levam-nos em direcções diferentes a cada música. De secções pesadas de bateria, os Bardino conseguem fazer a mudança fluída para os acordes jazz nas teclas de “Clarão”, ou pequenos apontamentos de slap bass que sobressaem ao vivo. Esta foi uma sensação que ontem atingiu quem passava na mata do Fontelo e foi enchendo o recinto a cada música que passava. 



Ainda dentro do rock progressivo, mas com uma roupagem completamente diferente, estiveram ainda em palco os locais Amaterazu, que fizeram os deleites de quem quisesse abanar a cabeça. Com uma ligação forte à sua imagem, o grupo composto por três elementos (baixo, guitarra e bateria) apresenta-se de cabelos compridos e vestido com robes pretos de seda pelos tornozelos, naquilo que será certamente uma representação associada ao anime Naruto, ou não fosse Amaterasu (com s) o jutsu mais forte do clã Uchiha. Aliás, o japonês foi o idioma de alguns dos temas que a banda levou ao Fontelo.

E se os seus visuais são escuros e nos remetem para os metais pesados, o seu som também não anda muito longe disso. Mas em vez de ser associada ao metal, o trio viseense prefere salientar os altos e baixos da sua música e, apoiando-se nos longos build-ups, com algumas transições suaves e vários riffs de guitarra bastante identificáveis, os Amaterazu preferem ser vistos como membros mais bem vestidos do prog-rock.

A setlist dividiu-se entre os últimos álbuns da banda, deixando apenas de fora o primeiro e homónimo projeto, e terminou ao som do mais recente single “Thrust”, que faz crescer água na boca para o que aí vem.



Entre estes concertos houve ainda espaço para escutar a arte de Dada Garbeck, um misto de influências que levou a Viseu o terceiro trabalho de uma tetralogia ainda em desenvolvimento. Natural de Guimarães, o trabalho de Rui Souza tem fortes ligações à tradição e ao folclore rural português, tendo o mesmo estado envolvido em vários trabalhos de recolha de registos orais do Portugal profundo. Ao Rimas e Batidas, o artista conta que esteve mesmo isolado com pastores por vários dias com a finalidade de recolher material. É desses registos que nasce Dada Garbeck, um grupo que se apresentou no Fontelo numa formação a sete: um saxofone, um trompete, três pessoas em teclados e voz, um baixista e um baterista.

Depois de ter explorado a intensidade dos cânticos religiosos em The Evercoming – Vox Humana, The Evercoming – Cosmophonia volta-se mais para os sopros com a introdução de um saxofone e um trompete, preservando ainda alguns traços de cantiga religiosa e sobretudo do trabalho de canto de Rui Souza, bastante notável em temas como “Labrador do Minho” ou o tema de fecho da atuação “Salgo as Pedras”. Ainda assim, o terceiro de quatro trabalhos atinge a distinção máxima em relação aos antecessores em “This is not Vox Humana”, uma faixa que tenta marcar essas diferenças a partir do próprio título.


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