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Fotografia: Lauren Desberg
Publicado a: 13/07/2022

A parábola do vibrafonista.

Joel Ross: “Neste momento da minha vida, eu sei o que estou a fazer e sei por que razão estou aqui”

Fotografia: Lauren Desberg
Publicado a: 13/07/2022

Há praticamente um ano, João Morado descortinava por estas páginas digitais que novos e entusiasmantes músicos andavam a forçar a Blue Note a focar-se no presente, ficando a capa (e os maiores elogios) para Joel Ross, “estrela” com “talento natural” e “precoce criatividade”. Nesta edição do Funchal Jazz Festival, pudemos ver in loco o concerto e a masterclass do vibrafonista e compositor, tornando-se óbvias as superlativas capacidades de interpretação, composição e educação que possui.

Momentos depois de brilhar no palco colocado no Parque de Santa Catarina, Ross tirou alguns minutos para uma conversa no backstage em que se falou sobre a importância do espaço onde se toca ou os próximos projectos.



É a tua primeira vez em Portugal?

Não. Já tinha estado em Lisboa. Esta é a primeira vez na Madeira.

Como é que correu o concerto de hoje? Como é que te sentiste?

Senti-me maravilhado. Achei fixe ter a banda do Immanuel [Wilkins] a tocar antes de nós. É a primeira vez que acontece, porque ele costumava tocar connosco.

Estive antes à conversa com o Immanuel e falei-lhe da vossa abordagem ao jazz ser mais espiritual, digamos. O sítio onde tocam importa?

Não importa muito onde é. Nós temos vindo a tocar esta música e chegámos a este ponto em que, seja qual for a música que tocamos, tentamos apresentá-la no melhor das nossas capacidades. Deixamos que seja o espírito da música a surgir. A espiritualidade também pode vir do nosso passado na igreja. E acho que, às vezes, isso está mais explícito; noutras vezes surge de forma mais espontânea. Nós estamos apenas a expressar as nossas experiências enquanto banda, seja onde for que toquemos.

Então, os músicos importam mais do que o espaço.

De certa forma, sim. Por aquilo que nos fez juntar para fazermos isto. É tudo importante. Não há nada que seja mais importante do que o resto, mas eu acho que é muito importante quem tu escolhes para fazer isto contigo. Para mim, isso já é algo espiritual. É o focarmo-nos no que estamos a fazer, para que consigamos trabalhar juntos, extrair o melhor dessa coisa e apresentá-la ao espaço. Sorte a minha, que este espaço tem sido extremamente confortável. É fixe. Todo o espaço que tinha à minha volta era muito bom. Isso também nos ajuda a alcançar o nosso melhor.

Também falei com o Immanuel sobre um rapper, o Navy Blue, que veio a Lisboa tocar há uns meses e criou-se ali uma certa tensão, porque a plateia era maioritariamente branca e ele era um artista negro. Olhando para o público de hoje, lembrei-me disso. É algo com o qual também te preocupas quando estás a tocar?

Isso não importa. Eu estou aqui para apresentar a minha música. Neste momento da minha vida, eu sei o que estou a fazer e sei o motivo pelo qual estou aqui, que é apresentar esta música. Vou ser eu mesmo e vou apresentar este tipo de música negra. É daí que isto vem, da forma como nasci e fui criado. Vou fazer a minha cena e estou aberto a quem quer que seja que queira vir viajar comigo e fazer parte disso. É só o que me importa, poder partilhar isto com o máximo de pessoas que conseguir.

Outra coisa que comentei com o Immanuel foi que, em Portugal, a minha geração, que também é a tua, foi educada através do hip hop, e que é sempre refrescante ver malta da minha idade a tocar vibrafone. Ainda há pouco perguntei a um dos músicos portugueses quantos vibrafonistas existiam em Portugal e ele disse-me para aí três nomes [risos].

Sim, é raro. Mas está a tornar-se mais comum agora. Eu tenho um irmão gémeo e ambos começámos pela bateria. À medida que fomos crescendo, integrámos a banda da escola, mas um de nós tinha de tocar instrumentos de percussão melódica. Fui eu. Comecei a tocar xilofone, marimba e, eventualmente, vibrafone, quando tinha uns 10 anos. Desde então que tenho vindo a tocar vibrafone.

Tu já lançaste um álbum este ano. Neste momento já começaste a preparar o próximo, ou tens estado apenas focado nos espectáculos ao vivo?

É uma mistura de ambos [risos]. Estou sempre… Podes perguntar a qualquer um deles [da banda]. Vão dizer-te que já comecei a pensar nos meus próximos dois ou três discos. Eu cheguei a esta fase, em que sempre que lanço um álbum, nunca toco música desse álbum nos concertos. Estou sempre a preparar-me para o que vem a seguir.

Realmente, ouvi alguém a perguntar se estas eram as músicas do álbum que tinha saído recentemente. [Risos]

Eu nunca defino previamente aquilo que vamos tocar. Isso decide-se em palco. Nas últimas semanas temos estado a preparar a música que eu quero gravar para o próximo álbum — e acontece que eu quero fazê-lo com estes músicos com quem ando na estrada. Temos estado a trabalhar. Assim que for a altura perfeita… Sou aquele tipo de gajo que se deixa ir na onda. Nós usamos os espectáculos para ficarmos mais confortáveis com esse material, basicamente. Assim que o formos gravar, não nos temos de preocupar com estar a aprender os temas na altura.


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