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Fotografia: Vera Marmelo – Gulbenkian Música
Publicado a: 07/08/2021

Uma substituição de luxo.

James Brandon Lewis Quartet no Jazz em Agosto 2021: senhores do tempo

Fotografia: Vera Marmelo – Gulbenkian Música
Publicado a: 07/08/2021

Teria sido, obviamente, preferível que a adição de James Brandon Lewis ao cartaz da edição presente do Jazz em Agosto não tivesse resultado do cancelamento da apresentação de Hedvig Mollestad, mas a possibilidade de assistir à apresentação ao vivo do extraordinário álbum Molecular foi uma das melhores surpresas dos tempos mais recentes.

Acompanhado dos mesmos músicos que com ele gravaram o já referido trabalho lançado na Intakt em 2020 – Chad Taylor na bateria, Brad Jones no contrabaixo e Aruán Ortiz no piano –, o saxofonista tenor norte-americano deu ontem uma masterclass de elegância, nervo, inventividade e jazzismo do mais elevado calibre.

O som de Lewis é imenso, infinito, tão capaz de se encaixar em grooves matematicamente precisos, como de se libertar para domínios de abstração pura, tão seguro a swingar de forma clássica, como a jubilar em extáticas figuras de recorte mais espiritual. A amplitude do seu registo tonal – cristalino, assertivo – tem também plena equivalência na vastidão de recursos estéticos de que dispõe e que lhe permite cruzar com total autoridade diferentes linguagens, dos terrenos mais free aos mais gospel, às vezes no decurso do mesmo solo.

A secundá-lo, James Brandon Lewis tem uma equipa de luxo. O pianista Aruán Ortiz é ultra-inventivo nos solos, dono de uma mão direita vibrante, plenamente interessada em perder-se em derivas livres, mesmo quando a mão esquerda a segura com figuras rítmicas mais circulares. Quando, pontualmente, larga o piano acústico e se agarra ao Fender Rhodes, Ortiz torna-se uma fonte de imenso prazer cromático, oferecendo ao líder uma tela harmónica ampla onde ele se espraia com natural deleite. Este quarteto gosta MESMO de tocar, algo que resulta evidente quando se observam as expressões faciais dos músicos.

A dupla de Brad Jones e Chad Taylor é de elite: capazes de traduzir um pulso vincadamente hip hop, feito de “loops” gerados de forma orgânica, o contrabaixista e o baterista não temem, como de resto acontece com o líder, a repetição, a insistência em certos padrões, mesmo que alguns compassos depois não hesitem mostrar que sabem igualmente partir o tempo e mergulhar em cadências bem mais abstractas e libertas de qualquer “grelha”. E Jones e Taylor sabem igualmente jogar em oposição: se o contrabaixista sola de forma mais líquida e sinuosa, mostrando um discurso ultra emotivo quando pega no arco, o baterista mantém-se “in the pocket” e não tem quaisquer problemas em deixar muito claro que aprendeu a sincopar escutando os desenhos de Clyde Stubblefield loopados em discos dos Public Enemy. Essa dinâmica faz deste concerto uma fonte de justificado entusiasmo, com o público a fazer-se ouvir de forma clara em cada solo, no final de cada tema, contribuindo essa energia para o que sucede em palco.

If you like what you heard”, exclama já perto do final um visivelmente satisfeito James Brandon Lewis, “then tell your friends”. E depois da brilhante exposição do material de Molecular, já no encore o quarteto teve ainda a oportunidade de levantar o véu sobre o seu próximo trabalho a lançar pela Intakt. Deste lado já se carregou no botão “follow” na sua página Bandcamp.


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