Digital

Hangloser

Olaias Chicane

Mera / 2020

Texto de Vasco Completo

Publicado a: 05/11/2020

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O breakbeat industrial comandado por um ser humano num computador é a derradeira exploração máquina vs. ambiente em Olaias Chicane. Os sintetizadores e beats, tão ruidosos quanto o rosnar dum motor customizado, conduzem-nos à pista imaginária que Hangloser criou. Mas o seu engenho não se reflecte só no desenho da estrada – José Quintino é também o criador de seis modelos de carros: “SACRI-F”, “AMATT”, “ARDIIO”, “VARDO”, “YANG-B” e “COSMIA” vão do garage ao electro, do techno ao drum’n’bass. Assim, a banda sonora para as corridas de carro nocturnas está criada: no final, fica o cheiro a pneu queimado das acelerações bruscas e das derrapagens obrigatórias.

Pela sonoridade mais drone e pelo menor relevo da melodia na composição – cantada por sintetizadores –, este EP até pode ser uma continuação da pesquisa do soturno e do obscuro do anterior, Proposition 1231, mas de forma menos memorizável/repetível que esse. O ritmo e o desenho destas ambiências centralizam a paisagem sonora desta geografia para um campo de batalha em que ganha o mais veloz (e não o sentem em “YANG-B” ou “COSMIA”?). Sim, a próxima edição de Need For Speed intitula-se Olaias Chicane, ainda não sabiam?

Se um Vince Staples ou um Kanye West do período Yeezus caberiam em “ARDIIO”, quem em Portugal conseguiria saltar para cima destes beats? E não é que seja necessário um rapper – além de estar claro que não é essa a intenção de Hangloser. A agressividade eremita dos kicks não deixa espaço para as vozes caberem na mistura – além das mais etéreas que lá estão sampladas. Mas fica o desafio na mesma. Drones, baterias possantes, com kicks distorcidos e tarolas acutilantes, são a abertura para o mundo metalizado e veloz do produtor. Se puder ser vivido com um volante nas mãos, tanto melhor.


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