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Fotografia: Simão Costa
Publicado a: 11/12/2023

Tal como havia sido no disco, Zé Menos revelou-se fundamental em palco.

Diabos m’Elevem: como Riça apresentou um dos melhores álbuns do ano em Lisboa

Fotografia: Simão Costa
Publicado a: 11/12/2023

É um dos discos do ano e não podíamos perder a sua apresentação em Lisboa. Foi na sexta-feira, 8 de Dezembro, que Riça desceu à capital para apresentar Diabos m’Elevem (sobre o qual deu uma entrevista ao Rimas e Batidas) na Musa de Marvila. Ao seu lado, como companheiro de todas as horas, um experiente Zé Menos, que foi parte tão fulcral do álbum como é agora do concerto.

Sem qualquer desprimor pelo espaço escolhido, que faz um trabalho notável, mas talvez não tenha sido a melhor opção para um concerto destes. A cenografia e imagética idealizada por Diana Queirós, com as máscaras pagãs a evocar ritos e tradições regionais, aparecia algo perdida entre as luzes néon da sala, os postes do palco e o ruído de fundo por parte dos turistas ocasionais que não estavam lá de propósito para ver a performance. 

Posto isto, só temos elogios a fazer a Riça e companhia. O rapper de Paredes, que tem em Diabos m’Elevem um álbum profundamente original e identitário, universal e íntimo em simultâneo, um trabalho sério de cruzamento entre hip hop e música tradicional portuguesa, com muita atenção ao detalhe, cumpriu perfeitamente o papel que lhe cabia.



Ao vivo, Riça possui uma entrega acima da média e o seu registo mais grave e contido não falha tanto se destaca pela poesia como pela forma como a declama ao microfone, impressionando inclusive nos fast flows como se fosse um veterano da cena. À sua direita, Zé Menos gizava um equilíbrio importante com uma série de vozes de apoio, mais agudas, mais ou menos alteradas por vezes mais subtis, noutros casos mais expansivas, proporcionando uma faceta mais teatral a uma performance que exige isso mesmo, tendo em conta as narrativas traçadas e todos os elementos de superstições ou mitos que vão populando as letras e o imaginário do disco.

Entre “Canção das Maias”, “Rato do Campo & Rato da Cidade”, “Mulher do Diacho”, “Queima do Zé” ou “A Menina dos Oito Olhos”, entre outras, não é fácil escolher canções favoritas neste álbum no melhor dos sentidos e ao vivo as faixas funcionam como um corpo de trabalho único, tal é a coesão do universo sonoro e conceptual desenvolvido por Riça ao longo dos últimos anos. Falamos de rap verdadeiramente português, que só poderia ter sido feito aqui; mas também olhamos para ela como música que ultrapassa géneros, padrões estabelecidos, e que nos deixa encantados com a produção alcançada e o cuidado com os pormenores que atravessa todo o disco e projecto artístico de Riça neste momento.

Embora saibamos tratar-se de uma missão ambiciosa, só podemos desejar que artistas como Riça (ou Zé Menos) possam encontrar o seu espaço num cada vez mais desafiante circuito da música ao vivo. Projectos como o de Diabos m’Elevem mereciam estrada, tour, e têm o potencial para ultrapassar quaisquer cânones padronizados do rap para se integrarem em cartazes de música alternativa portuguesa nos festivais por esse país fora. Concretizar esse salto de fé, num disco com uma presença tão demarcada do Diabo, seria elevar ainda mais aquilo a que Riça se propôs a fazer e só seria mais do que justo.


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