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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 18/11/2023

Muda a receita e o sabor permanece.

Conjunto Corona no Musicbox: a música pode ser nova, mas o sentimento é o de sempre

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 18/11/2023

Mais um álbum de Conjunto Corona só pode significar uma coisa para os fãs lisboetas: concerto de apresentação no Musicbox — ou não tivessem todos os discos da banda passado pela sala do Cais do Sodré, onde já em 2014 apresentaram Lo-Fi Hipster Sheat, a primeira entrada do seu rico catálogo. Desta vez, o grupo trouxe-nos dose dupla numa maratona de concertos: uma primeira atuação começava às 21h, na qual o Rimas e Batidas marcou presença, e às 23h seguia-se uma réplica exata para os fãs mais preguiçosos. Quem demorou mais de uma semana a comprar o bilhete desesperou, mas por pouco tempo, já que o colectivo não tardou em garantir um segundo slot na mesma data que permitiu levar este seu novo ESTILVS MISTICVS ao vivo até mais pessoas na capital portuguesa.

Sabem quando a receita muda, mas o sabor permanece? Não falamos da substituição de açúcar por aspartame nos vossos refrigerantes e bolachas favoritas, mas sim de uma renovação estética no sucessor de G de Gandim. Depois de uma experiência sonora mais tropical, o novo projeto reaproximou os Conjunto Corona do seu som original e acrescentou-lhe uma pitada do “além”. A expectativa era alta e entre a plateia o burburinho focava-se na condição física dos artistas. Conseguiriam dB e Logos aguentar as duas horas de concertos back to back com a mesma energia de sempre? Vão ter que perguntar a outra pessoa, pois nós só pudemos assistir ao primeiro round.

Com o horário apertado, passavam 10 minutos da hora quando se fizeram ouvir os primeiros sinais do isotérico ESTILVS MISTICVS. A música de fundo encheu o espaço que entretanto escureceu para deixar ver os estranhos rituais que iam sendo projectados na parede atrás do palco. E motivados pela atmosfera do obscurantista ali montada, ou talvez pela expectativa de ver um dos duos mais interessantes da música portuguesa nos últimos tempos, a plateia gritou mal o primeiro pé ultrapassava a ombreira da porta dos bastidores. Seria medo? Se sim, o sentimento rapidamente se dissipou e todos foram relembrados que, seja qual for a nova aventura musical do duo do Porto, um concerto de Conjunto Corona não passa sem celebração e homenagem a figuras e localidades ímpares na cultura urbana.

“Gondomar! Gondomar! Gondomar!” foi mesmo a primeira coisa a sair da boca de David Bruno, que só parou para destacar a camisola de Jorge Costa, ex-atleta do F.C. Porto, num dos fãs mais ativos da primeira fila. A camisola foi exibida, o nome do ídolo do futebol nacional (o primeiro a ser mencionado na noite) foi cantado, e o adepto de Corona viu bom retorno no investimento do seu bilhete quando pôde subir ao palco ao lado dos seus heróis.

Mas falemos um pouco de música, que não faltou nos 50 minutos que se seguiram e que se focaram, não só mas sobretudo, no mais recente trabalho da banda. “Ora Ring Ding Dong” abriu o concerto e foi o que bastou para aumentar drasticamente o nível de energia através do seu refrão liricamente limitado, mas altamente catchy, que podia muito bem ter saído da boca de um psiquiatra dos mais baratos… “Tudo é paranoia ou paiva”.

Seguiram-se vários dos temas mais recentes, como “Chico Com a 6-35”, “Pra Cabeça Ou Pro Peito”, “Puta da Velha”, “Ei Oh Marujo”, “Tabuleta”, “Corona Bye Bye”, “Fumo na Panela”, entre outros. E, no final, houve ainda tempo para um encore que abriu a porta dos clássicos que se estenderam de “Chino no Olho” a “187 no Bloco” passando, claro, por “Santa Rita Lifestyle” e o hino de candidatura de David Bruno, “Perdido na Variante”. 

“O presidente da Câmara de Gaia despediu-se porque a mulher andava a usar o carro da companhia das águas”, começou por afirmar antes do anúncio da noite. “Vou-me candidatar à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e este vai ser o hino da minha candidatura. Pelo menos vereador hei-de ser e vou cuidar de todas as variantes de Gaia!” No rescaldo do anúncio político, gritou-se por David Bruno e pelo município com a melhor vista sobre o Douro. 

Como não podia deixar de ser, e para enrijar ainda mais a festa, marcou presença no Musicbox a mascote, e agora também artista, Homem do Robe. Com a vestimenta do costume, o Bro Gesso de serviço mostrou-nos que os actos valem bem mais do que as palavras. Não o ouvimos falar, mas vimo-lo mexer-se. E muito! Primeiro, em cima do palco, foi essencial na mise-en-scène do já tradicional brinde com hidromel e fez questão de exibir o seu cinturão de “Kampião”. Mais tarde, cá em baixo, no meio da plateia, foi dinamizador de moches e máquina de fumo.

Quem acompanha o grupo há mais tempo sabe bem o sentimento de vazio que fica após uma atuação de Conjunto Corona. Sentimento esse que, desta vez, poderia ter sido adiado com uma dupla pílula de Conjunto Corona. Para os outros — os fãs mais recentes — sabemos que a energia contagiante e o calor que se fizeram sentir no Musicbox podem ter sido suficientes por uma noite. Mas pelos sorrisos que vimos nas suas caras ao sair, não acreditamos que não estejam já a planear a próxima vez em que vão ver David Bruno e Logos em cima de um palco. Quiçá será como Conjunto Corona, quiçá será num dos outros projetos que têm levado a cabo nos últimos anos e que têm tirado tempo de antena ao personagem fictício mais acarinhado a Norte do Douro.


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