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Bad Bunny

DeBÍ TiRAR MáS FOToS

Rimas Entertainment / 2025

Texto de Filipe Costa

Publicado a: 14/01/2025

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Milhares de milhões de audições nas plataformas de streaming, digressões esgotadas em arenas e estádios de todo o mundo, semanas consecutivas passadas no topo das tabelas de vendas. Tudo isto é admirável, tudo isto impressiona o comum mortal. Mas para os incontestáveis da pop, isolados na posição de estrelas globais, as vicissitudes da fama são muitas vezes sinónimo de frustração. Bad Bunny, como tantos outros que alcançaram sucesso comercial estratosférico, sentia-se distante, desligado das origens humildes da sua terra-natal (“Pero nadie sabe, no, lo que se siente, ey / Sentirse solo con cien mil persona’ al frеnte”, cantava em “NADIE SABE”). A solução, ao que tudo indica, passou por um reencontro com o que lhe era mais primordial — as raízes caribenhas, a memória das festas, a salsa e a jíbera, reafirmando o seu compromisso com o arquipélago que o viu nascer e crescer. DeBÍ TiRAR MáS FOToS, o sexto álbum do porto-riquenho, é o reflexo desse olhar sobre o passado. 

Lançado nos primeiros instantes de 2025, véspera do Dia de Reis, DeBÍ TiRAR MáS FOToS foi antecedido por uma curta-metragem protagonizada por Jacobo Morales, pormenor que não é de somenos. Aí, o histórico realizador porto-riquenho depara-se com um país mudado e cada vez mais gentrificado, onde a língua inglesa e a cultura americana dominam os estabelecimentos, bairros e ruas de Porto Rico. A memória cristalizada nas fotografias de Morales é o fantasma de um país em transformação. Entramos nas canções de DeBÍ TiRAR MáS FOToS, e o que encontramos é mais um tratado de afirmação. “NUEVAYoL”, o tema inaugural, jura fidelidade à salsa de Andy Montañez, casando os ritmos ensaiados pelo crooner de San Juan com as cadências modernas do trap, do reggaeton e do dembow. “EL CLúB”, um dos singles que anteciparam o disco, ainda em 2024, é um portento EDM de estádio, cadência irresistível 4 por 4 a acomodar as guitarras tradicionais da plena e uma voz, dolente e encorpada, a cantar as maleitas da ruptura e do desamor. Mas é em “LO QUE LE PASÓ A HAWAii” que reside o centro nevrálgico do disco, uma canção sobre o que acontece a Porto Rico depois do verão. Quando a bonança é sol de pouca dura e a torneira fecha, o que é que sobra? Um povo abandonado e iludido, ludibriado pelas promessas do turismo desenfreado. 

Em entrevista aos jornalistas John Parelles e Joe Coscarelli, no podcast do New York Times, Bad Bunny explicava que o título do disco em nada tem a ver com um pedido de desculpas. É antes, explica, um lembrete que o próprio endereçou a si mesmo para que nunca abandone os seus, mantendo os pés assentes no chão sem se deixar corromper pelos encantos da fama. A música escutada em DeBÍ TiRAR MáS FOToS é, também ela, um lembrete: às praias, às marquesas, às gentes de Porto Rico. Uma carta de amor, enfim, ao rico património cultural e musical dessa planície insular. Todas as músicas de salsa são feitas por crianças da Escola Libre de Música, com idades compreendidas entre os 18 e os 21 anos, e ao longo do disco encontrámos valores emergentes daquele arquipélago, como Chuwi, Omar Courtz, Dei V e RaiNao.

No último álbum, Nadie Sabe Lo Que Va a Pasar Mañana, Bad Bunny juntava-se às fileiras de figuras confrangedoras como Ye e Drake, apostando numa postura defensiva de “eu contra o mundo”. Em DeBÍ TiRAR MáS FOToS, o cantante porto-riquenho quis sublinhar a história do seu país. “É esse o propósito: dar aos jovens a oportunidade de mostrar os ritmos de Porto Rico”, dizia ao Times. As primeiras sementes já estão plantadas.


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