pub

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/08/2023

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… MRCOMEDINA

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/08/2023

Depois de ouvirmos a música de MRCOMEDINA uma coisa fica clara: é um artista que gosta de contar histórias. Se estiver com um grupo de amigos à volta de uma fogueira, é certo que vai ser ele a abrir as hostilidades. A sua música é populada por personagens e cenários magicados pelo jovem de 27 anos nascido Marco António Medina Andrade, relatos e realidades inspirados pelo que observa. É cantor, rapper e narrador, por vezes tudo na mesma música. Mas no centro da sua entrega está o seu sentido resoluto de contador de histórias.

Foi criado entre Porto, Lisboa e Barcelona, algo que o permitiu observar diferentes realidades e vivências, experienciar a vida em vários lugares e aguçar a sua veia de escritor. A primeira música que lançou foi apropriadamente apelidada de “Personagens e Cenários I”. Este regresso sónico ao boom bap traz à mente “O Recado” de Sam The Kid, e tem direito a uma pequena introdução sobre o que se vai desenrolar durante os próximos três minutos. No final de 2021 estreia o banger “Confortável No Fluxo”, em que descreve uma vida hedonista e de “curta-metragem”, com uma batida urgente mas uma atitude de quem está em controlo. No Inverno de 2022, Medina apresenta a gélida “MDNISI”, em que as suas barras são definitivas e arrogantes. Até aqui a sua música orbitava a esfera do hip hop, mas com “Meia Noite no Mendagual”, Medina mostrou que esse não é o único planeta sonoro que está ao seu alcance.

Divagando pelo jazz e pelo funk, o tema é quente, mais leve que o que o antecedeu, mas a essência é a mesma, e preparou de forma adequada o lançamento do EP de estreia de MRCOMEDINA. Roda Punk Jazz é um projecto multifacetado, em que o artista mostra as suas influências, desde a actualidade do trap à intemporal tradicionalidade da música afro-brasileira, dos blues e do jazz. Acompanhado por esse leque instrumental, Medina discorre sobre vários aspectos da sua vida. E um ano depois, decide ir ainda mais longe.



Crónicas de Balazac é o nome do seu álbum de estreia, e ao contrário do seu antecessor, em que a música era o principal elemento, o artista faz uso do formato de longa-duração para contar uma história que inclui todas as músicas. Isto não quer dizer que o som seja descurado: oiça-se o drill frenético de “Atitude de Gang”, o hook intoxicante de “Meninos do Gana” ou a felicidade do sample transfigurado de “Noite de Belém”. Mas revela uma tremenda ambição estrear-se nos álbuns com algo que se assemelha mais a um conto musicado.

É uma abordagem inventiva, e a intenção das suas palavras narradas é transmitida pela parte musical de forma eficaz. Há uma vontade de transpor o universo sonoro e fundi-lo com o universo literário, e Medina escolhe algo mais do que apenas pequenas frases cantadas, cria narrativas que lutam fervorosamente contra serem músicas de fundo. As suas canções pedem toda a nossa atenção porque há um encadeamento de ideias, o instrumental é a fogueira moderna deste contador de histórias, a crepitar em antecipação com o relato que a acompanha.


pub

Últimos da categoria: Abram alas para...

RBTV

Últimos artigos