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Fotografia: Berta Pfirsich
Publicado a: 23/02/2024

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… Judeline

Fotografia: Berta Pfirsich
Publicado a: 23/02/2024

Os dois primeiros singles de Judeline são algo de um enigma. Não é tanto a sua concepção ou semelhança, é mais pelas duas abordagens que demonstram. “Solo Quiero Huir”, em 2020, foi o primeiro, e a sua atmosfera taciturna e mais pensativa contrasta com a solarenga “De una Manera”, de batida genialmente simples, locomotiva instrumental para ouvirmos a voz de Judeline soar num qualquer dia quente de Verão. Foram os primeiros passos na carreira da artista espanhola e dizem-nos coisas marcadamente diferentes, mas cujos elementos em comum nos permitem chegar a uma origem comum.

O nome artístico de Lara Castrelo provém da canção “Hey Jude” dos Beatles, um dos temas favoritos do seu pai. É um nome adequado tendo em conta o dom das suas cordas vocais: o seu timbre é adocicado, pautado, e apesar de surgir frequentemente rodeado de autotune, é perceptível um encanto e engenho distintos. Sente muito a arte do som, desde pequena que é o seu ócio predilecto, optando sempre por não esconder as lágrimas e deixá-las jorrar quando a música é assim tão boa. Nascida em 2003 em Jerez de la Frontera, grande parte da sua vida foi passada na pequena povoação de Los Caños de Meca. Passava muito tempo sozinha, e muito desse tempo era passado na Internet, ligada ao mundo inteiro a partir do seu singelo povoado. Esse contacto estimulou a sua criatividade e foi o mote para a sua exploração sonora.



Aos 17 anos, Judeline mudou-se para Madrid para tirar um bacharelato artístico, curso que acabou por abandonar para se dedicar totalmente à sua carreira musical. Não foi um tiro no escuro, já tinha provas dadas antes dos singles de apresentação, demonstrando o seu talento em “Rota”, tema que integra o alinhamento do Desclassificados, longa-duração de Alizzz e um showcase de artistas a ter em conta para o futuro. Dois anos depois, apresenta-se oficialmente ao mundo com o EP de la luz. Apesar de não ser uma fiel representação da qualidade musical de Judeline, transparece no projecto a fome de experimentação da artista: desdobra-se em fusões de géneros como o flamenco, reggaeton ou hip hop, mostrando que não há fronteiras para a sua abordagem multifacetada.

2022, foi um ano de mais música para Judeline. “EN EL CIELO” mostra-a polvilhada de açúcar sonoro, e “TÁNGER” e “ZAHARA” apostam noutra vertente mais introspectiva e discreta. Esta caminhada não passou despercebida à Interscope, que viu em Castrelo uma aposta ganha na música latina. “CANIJO” foi o primeiro tema lançado por Judeline pela reputada editora americana e chegámos assim ao primeiro banger da carreira da artista. É uma curta e potente fusão entre música electrónica e baile funk, intoxicante e que nos prende aos auscultadores e aos passos de dança.

“2+1” foi o mais recente single que lançou e um tema pelo qual rogamos pragas aos céus por não ser maior. O seu doce timbre, as melodias expansivas e um criterioso sample trazem para o centro da conversa uma pergunta difícil e sincera, proferida por uma artista que não demonstrou menos do que querer tudo em todo o lado ao mesmo tempo. Aquilo que começou como um curioso cartão de visita de duas faces progrediu para uma carreira que dá gosto ver desabrochar. Judeline está pronta para tornar 2024 no seu ano de consagração.


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