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Fotografia: Beatriz Pequeno
Publicado a: 12/09/2022

Desconstruções dos vínculos entre som e tecnologia.

A tecnologia nas mãos certas

Fotografia: Beatriz Pequeno
Publicado a: 12/09/2022

Pode um rectângulo ser perfeito? Dei por mim a pensar nisto enquanto vislumbrava o setup apresentado por Lucas Gutierrez, Terrine e Carincur nos estúdios da galeria MONO neste domingo (11), último dia do Phonetics, festival nómada cuja terceira edição ocorreu na capital portuguesa ao longo dos últimos dias.

Um rectângulo, por definição, pode ser perfeito quando é possível de ser construído por quadrados com vários tamanhos. Por outras palavras, quadrados diferentes em tamanho, talvez imperfeitos quando postos lado a lado (contudo, um quadrado é perfeito nas suas dimensões), geram algo perfeito, apenas por se tornarem parte de algo aparentemente “maior”, indo ao encontro do objetivo por trás do festival em criar esses elos.

Não consigo indicar se a forma em rectângulo da disposição dos painéis LED utilizado pelo trio de performers – em torno de uma estação de controlo, ombreada pelo computador de Lucas e pelos microfones e máquinas para criar som de Terrine e Carincur  – era ou não um rectângulo perfeito, mas a mesma lógica por trás do conceito pode ser aplicada ao espetáculo audiovisual apresentado pelo três – três ideias que, quando comparadas, podem parecer imperfeitas, mas quando unidas, criam algo aparentemente perfeito.

Honestamente, nunca tinha assistido a um espectáculo deste estilo e, ao não saber exactamente o que esperar, tentei não criar nenhum tipo de expectativas, mantendo a mente aberta para ser surpreendido (for the record: fui surpreendido). As conversas com o Lucas e com a Carincur durante a residência deram uma pista ou outra do que poderia ser o seu espectáculo, mas era complicado perceber o que poderia ir saindo de dentro do rectângulo. 

Antes de começar, a ambiência, criada com a ajuda de loops de conversas e algum fumo, ditou o tom do que seria o ambiente do espectáculo – misterioso e místico, um universo onde o individual virou colectivo, ao ponto de que, escondidos pelo fumo, Lucas, Claire (Terrine) e Inês (Carincur) ficaram apenas dependentes do que iam criando e apresentando para se revelarem. De certa forma, foi como se os seus instrumentos se tornassem apenas a sua única maneira de expressão durante alguns momentos, num total esquecimento das suas formas humanas, transformadas apenas em vocalizações, batidas incessantes de industrial (tão rítmicas em momentos que poderiam dar para dançar), drones estimulantes, noises disparados para capturar atenções que pudessem estar a ser perdidas, luzes coloridas a surgirem do cruzamento de lasers com o som e da apresentação de imagens e texturas que nos estimulavam (tanto estímulo a acontecer…) a tentar compreender as conexões entre todos os elementos.

Ao tentarmos perceber estes vínculos é onde encontramos as peças do puzzle para entender a desconstrução presente neste espectáculo. Afinal, o jogo principal a ser exposto é o cruzamento entre tecnologia e a mão humana, unidas num só para criar um momento transcendente, mas onde quem tem sempre vantagem é o sujeito que controla e opera a maquineta (pelo menos neste ambiente “controlado”). Nessa relação criada, fica no ar o lembrete de como a simbiose entre tecnologia e o lado humano consegue criar coisas belas, e onde a única coisa a ser destruída são os limites do que é possível imaginar quando essa energia se alinha – e não é que é tão pacífico e bonito assim?


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