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Publicado a: 27/09/2016

6 produtores que definem o som do presente

Publicado a: 27/09/2016

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTOS] Direitos Reservados

 

O Rimas e Batidas não tem parado de crescer – em rigor, em ambição, em planos, mas também no que mais importa: a atenção dos nossos leitores – e ao atingir a fantástica marca de 60 mil seguidores no Facebook e 6 mil no Instagram isso inspirou-nos para um série de artigos em torno do numeral 6.

O arranque desta nova série faz-se a olhar – e sobretudo a ouvir – para o trabalho de seis produtores que acreditamos estarem a moldar o som do presente.

 


Essa ciência rítmica avançada de construção de beats que hoje define o presente pode basear-se em diferentes abordagens, utilizar diferentes ferramentas, procurar diferentes sons e texturas, ousar diferentes padrões rítmicos, mas, na verdade, o objectivo permanece inalterado desde para aí que Kool Herc cruzou dois breaks e prolongou a batida numa qualquer festa primordial do Bronx: trata-se de rockar a multidão, de traduzir o pulsar da realidade, de oferecer ao MC a melhor paisagem possível para a história que nos quer apresentar. Abaixo encontram 6 dos arquitectos que no presente definem alguns dos mais arrojados edifícios sonoros.

 


01. [KAYTRANADA]

Kaytranada não tem parado de crescer e nada indica que o ritmo não se mantenha: o produtor canadiano de ascendência haitiana acaba de revelar no Instagram que se encontra a trabalhar com Andre 3000 e é, desde há um par de semanas, o novo fiel depositário do prestigiado prémio Polaris que distingue anualmente as melhores produções discográficas canadianas. De facto, Louis Kevin Celestin, de seu verdadeiro nome, tem tido um ano em grande: 99,9% mostra-o em nome próprio a partir do hip hop em direcção ao futuro, sempre atento aos estímulos oferecidos pelo imenso terreno mais clubby da electrónica, sempre em busca de sons sintetizados novos ou do sample mais certeiro, sempre incoformado no plano rítmico, com as lições de Dilla bem estudadas, mas longe de se limitar a ser um replicador de ideias alheias. E além do seu álbum houve outros argumentos de peso espalhados em trabalhos muito diversos de Mick Jenkins, River Tiber, Chance The Rapper, BADBADNOTGOOD ou Craig David. Kaytranada tem sede de futuro e isso é talvez o melhor elogio que se pode fazer a um produtor.

 


02. [METRO BOOMIN]

Metro Boomin completou 23 anos há dias!! Quando muitos ainda se preocupam com os primeiros passos das suas carreiras, Leland Tyler Wayne já deve possuir uma conta bancária muito bem recheada tal a quantidade de trabalho que tem realizado com os mais importantes nomes da indústria. O seu estilo – nervoso, económico, futurista, sempre em busca de texturas surpreendentes – ajudou a definir a paisagem trap e só a lista de encomendas de 2016 chegaria para tirar o fôlego a qualquer detractor que se atrevesse a discutir os seus méritos: múltiplos beats para Future (em Purple Reign e Evol), vários créditos em The Life of Pablo, beats produzidos para French Montana, Young Thug, 2Chainz, Nyck Caution, Ty Dolla $ign, presença em VIEWS de Drake, mais beats para SchoolBoy Q e Dj Khaled, o projecto com 21 Savage… e isto nem sequer é uma lista completa do que assinou este ano, um ano que, sublinhe-se, ainda nem sequer entrou no seu último trimestre. Virá, certamente, aí muito mais. Em Abril passado, depois de lhe perguntarem se iria assinar com Kanye, respondia Metro à Fader: “Never. I’m a boss nigga”. Que ninguém duvide…

 


03. [HERE’S JOHNNY]

 

Em entrevistas separadas com os True Blood de DJ Big e DJ Kwan e ainda com DJ Kronic – e quase se poderiam identificar aí três gerações distintas do DJing nacional – não foi possível deixar de reparar como na hora de nomearem sons do presente que os colocam em sentido todos mencionaram Here’s Johnny. Tendo os três DJs citados estilos bem diferenciados, não deixa de ser notório que todos apontem o nome deste produtor lisboeta ligado à Superbad como estando no topo das suas preferências. Entende-se: a sua arte algo sombria, mas carregada de alma, é profundamente musical. O trabalho que tem assinado sobretudo ao lado de Regula e Holly Hood, mas também para nomes como Blasph, Carlão ou Harold, tem a força de quem desbrava novo terreno, de quem cola sintetizadores e pianos e baterias e baixos e samples e sons atmosféricos como se fosse um realizador de um filme a orquestrar luz e cenários, planos e enquadramentos, preparando tudo para que os actores possam surgir em cena e carregar enfim a história.

 


04. [BOI-1DA]

 

Boi-1da – ou Matthew Jehu Samuels, para os seus pais – é mais um talento a emergir de Toronto, uma das mais férteis cidades da efervescente cena musical norte-americana. A lista de clientes deste produtor de 30 anos lê-se como uma espécie de “quem é quem” da primeira linha do hip hop: Eminem e Clipse, Drake e Jay-Z, Joe Budden, Nas, Talib Kweli, Kendrick Lamar… Compreende-se: quando um produtor revela ter toque de Midas são muitos os clientes que passam a requerer os seus serviços. Com ascendência Jamaicana (nasceu mesmo em Kingston), Matthew seguiu as rotas normais da diáspora da sua cultura e acabou numa cidade de fortes tradições musicais. A carreira iniciou-se cedo e logo ao lado de um rapper que procurava, ele mesmo, crescer: chama-se Drake e o título da sua primeira mixtape, a tal em que Boi-1da dava uma ajuda, Room For Improvement, não podia ser mais profético. Já neste milénio, trabalhou com intensidade, subindo os degraus na escada do sucesso ao mesmo tempo que Drake ia assumindo a sua condição planetária. Depois de trabalhar no sombrio beat de “The Blacker The Berry” de Kendrick Lamar, já este ano Boi-1da pode celebrar por saber que dois dos mais impactantes sons do verão tiveram a sua marca: “Work” de Drake com Rihanna e “Summer Sixteen”, também de Drizzy. Com um estilo económico, carregado de balanço, com uma inteligência espacial particular nas misturas e um sub-texto algo tropical em vários momentos, o som de Boi-1da é um dos que define o presente.

 


05. [HOLLY]

 

Temos procurado estar o mais atentos possível ao percurso de Holly aqui no Rimas e Batidas, mas é difícil mantermo-nos a par de um dos mais irrequietos talentos nacionais, em permanente trabalho, nas cabines de DJ ou no estúdio, sempre a despejar beat tapes cuja consequência tem sido, de facto, colocá-lo nas bocas do mundo. Uma passagem de olhos pelo seu mural Facebook revela momentos de genuína perplexidade quando dá a saber que gente como Martin Garrix ou Baauer toca faixas suas em programas de rádio, outros de justificada euforia quando mais uma faixa sua sai em etiquetas internacionais e em colaboração com artistas de diferentes partes do globo. Entretanto, Holly também vai coleccionando milhas no seu cartão de viajante frequente: este ano fez uma bem sucedida digressão na Austrália, um feito que não pode ser reclamado por muitos DJs da nossa praça. E paralelamente a isso há o trabalho de produção: o volume de beats que Holly assina significa logo que como produtor este jovem das Caldas da Rainha não se detém numa única linguagem, percorrendo a distância que pode ir de toadas mais trap a outras mais clássicas e boom bap, desviando-se no meio por terrenos mais experimentais e demonstrando, sobretudo, um domínio total em qualquer das estéticas que possa adoptar.

 


06. [KNXWLEDGE]

 

Prestes a lançar Yes Lawd, o álbum de estreia do projecto Nxworries que mantém com Anderson .Paak, o produtor Knxwledge é um dos mais entusiasmantes estetas do presente. Nascido Glen Boothe, educado em Filadélfia e Nova Jérsia, mas presentemente integrado na fértil beat scene de Los Angeles, Knxwledge tem bastante trabalho lançado em nome próprio – em obscuras cassetes por vezes – mas foi o maxi Link Up & Suede assinado juntamente com .Paak já este ano que definitivamente o colocou no mapa. De pendor clacissista, todo ele cordas, e luxuosas texturas, Knxwledge tem no entanto um “edge” contemporâneo e inscreve-se na singular escola de descendentes de J Dilla que souberam procurar o seu próprio caminho. Tendo assinado “Momma” em To Pimp a Butterfly e já este ano, entre outras coisas, ter colaborado com Earl Sweatshirt para a série de singles da Adult Swim, “Balance”, Knxwledge sabe que são estes pequenos marcos, entre outros, que lhe garantem lastro para o futuro. E agora vem aí Yes Lawd que poderá muito bem revelar-se a porta escancarada para o sucesso. Vale uma aposta?…

 

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