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Publicado a: 14/06/2017

The Gaslamp Killer: um dos grandes freaks de Los Angeles

Publicado a: 14/06/2017

[TEXTO] Diogo Santos [FOTO] Direitos Reservados

Aos 13 ou 14 anos, um adolescente começou a coleccionar discos e, aos 16 anos, já tinha as turntables e, mais importante, uma ideia daquilo que queria fazer. Diz o próprio. Criado em San Diego, no distrito de Gaslamp, William Benjamin Bensussen cunhou o nome artístico – The Gaslamp Killer – ao matar pistas de dança. A comunidade detestava-o. O rock’n’roll era cultura dominante. E as festas de hip hop eram invariavelmente interrompidas pela polícia. Nos clubs onde tinha margem para explorar os beats de J Dilla e afins, a audiência queria era Nelly e outros tais.

Inserido num grupo de amigos mais criativos do que ele, William Benjamin começou a ganhar cultura em batalhas de DJ. A explorar as técnicas e, sobretudo, sonoridades. Mas queria fazer diferente. Com outros sons, com outros estilos. Mais pela criatividade. Menos pela rotina. Adolescente energético, b-boy e dançarino que muito naturalmente tratou de levar todas estas características para a cabine… E agora é umas das figuras mais proeminentes do som de Los Angeles, a LA beat scene, como se costuma dizer.

Farta-se de rodar discos: por vezes, três ou quarto ou cinco actuações por dia. Será o mais internacional dos embaixadores do som de Los Angeles. Porque toca em todo o lado. E porque nunca colocou grandes entraves a géneros, estilos ou ritmos. “Tenho tocado sempre aquilo que eu acho altamente”. E já lhe atiraram cervejas, empurrões, insultos. E até pastilhas que hão-de ser difíceis de tirar daquele farto cabelo. Ecléctico e meio psicótico, não admira que a lista de artistas favoritos vá de Massive Attack a Led Zeppelin. Ou de DJ Shadow a Beatles. E que o Acid Dreams seja o seu livro de eleição.

 



Muito raramente falha as quartas-feiras do Low End Theory, um dos vulcões da cena de Los Angeles. Dubstep, jazz, hip hop, funk, rock, house. Não há limites para a bagagem de mão. Divide a casa regularmente com nomes como Daddy Kev, D-Styles ou MC Nocando. O Low End Theory é, pois claro, também muitas vezes ponto de partida para mentes abertas como as de Flying Lotus, de Nosaj Thing, ou dos The Glitch Mob num espectro um pouco mais diferente. E The Gaslamp Killer navega sem grandes dramas nesta vasta ebulição sonora que, nas mãos e nos movimentos de dança de Killer, também se expande para as sonoridades de África e do Médio Oriente.

Surgiu numa compilação em 2006 e editou vários EP e várias mixtapes. Mas para uma carreira que terá começado algures no ano 2000, demorou mais de uma década a fazer a estreia nas longas durações, com Breakthrough (2012), álbum em que The Gaslamp Killer contou com a colaboração de Gonjasufi, Daedelus, Samiyam ou Shigeto. Um registo-espelho e uma espécie de mapa sonoro para tudo aquilo que o trouxe até este momento. Em 2013, a morte passa ao lado da scooter que ele capotou quando regressava de uma festa em LA. No desespero, ainda quis gravar uma mensagem de despedida para os pais: “para eles ouvirem a minha voz uma última vez”. Ficou sem baço, mas safou-se. Já em 2016, não espanta que o disco Instrumentalepathy seja uma viagem um pouco mais espiritual…

… E que sabemos irá passar por Barcelos, no Milhões de Festa. A ponte para as míticas noites do Low End Theory está aqui à nossa beira. De matador de festas a figura proeminente do hip hop experimental e um dos rostos mais emblemáticos da Brainfeeder, The Gaslamp Killer é mesmo um freak. Um dos grandes freaks de Los Angeles.

 


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