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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/04/2024

14 temas que evocam as raízes do rapper do Miratejo.

Faixa-a-faixa: Plant’Art, o novo álbum de GriLocks explicado pelo próprio

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/04/2024

Foi a 31 de Março que o rapper GriLocks, natural do Miratejo, lançou o seu mais recente álbum. Intitulado Plant’Art, é um disco que o faz colaborar com uma série de artistas que o inspiraram a querer ser rapper, e no qual evoca as suas raízes, muito graças aos instrumentais de Psycho, embora também haja beats de Gunsu, Krayy e Fizz. Foi tudo gravado no estúdio da Recordie

O sucessor de Nimbus (2019) é também uma forma de celebrar o primeiro projecto lançado por GriLocks, a mixtape Fyah na Babilónia, editada há uma dúzia de anos. No novo disco, o MC colabora com Fuse, Kulpado, Fizz, Sanryse, TNT, Krayy, Subtil, BSkilla, Bdjoy, Swymmers MC’s, António Sousa e Celso Évora. Para assinalar o lançamento, o Rimas e Batidas convidou GriLocks para um faixa-a-faixa no qual o rapper de 34 anos abre o jogo e desvenda o que está por trás de cada tema que compõe o disco.

[O álbum Plant’Art]

Plant’Art é um projecto já com quase dois anos, foi acontecendo ao longo desse tempo de forma orgânica. Tudo nasce a partir do tema “Mira Zoo”, com os Swymmers MCs e o Sanryse, uma música que aconteceu porque estávamos todos em estúdio ao mesmo tempo na Recordie e após essa sessão de gravação, o produtor Psycho, ao qual estou agradecido, envia-me uma pasta com uma dúzia de instrumentais. Desde logo, os ambientes dos beats levaram-me ao meu início, às raízes e referências, e isso levou a que as colaborações, em grande parte, sejam nomes que me inspiraram quando comecei a rimar e de quem era admirador e ainda sou.

Numa altura em que parece existirem mais rappers do que rap, quis homenagear o movimento, assim como a importância e profundidade das palavras, das relações e dos nossos sentimentos. Convidei uma data de artistas dos quais hoje sou amigo e, sem um grande conceito pensado, o nome acaba por ligar alguns pontos, sobre os quais deixo uma breve síntese no interior da capa do álbum no formato físico:

Plant’Art é sobre entender as raízes antes de almejar a copa da árvore, provar do azedo ou amargo assim como cobiçamos o doce fruto. Nutrir as nossas sementes de luz própria, deixar cada uma desenvolver-se no seu ritmo e aceitar o processo. Confiar no tempo, não se colhe os frutos na mesma época em que os semeias e folhas mortas caem sozinhas. Se tudo é semente, nem tudo é flor e talvez procuramos demais enquanto nos encontramos de menos. Confundimos franqueza com fragilidade mas na prática a teoria é outra.”


[“Terra do Ventre”]

Foi sem querer que esta introdução acabou por acontecer. Conheci o António Sousa num antigo trabalho em que estive. Após a partilha de várias conversas e pensamentos, ele dizia-me muito que se revia em mim quando era jovem. Somos de duas gerações completamente diferentes mas partilhamos a mesma dor de termos perdido a nossa mãe quase na mesma altura. Um certo dia, ele presenteou-me com o poema “Rapaz-Lado”, onde as quadras eram sobre mim. Decidi de imediato que seria a intro. O primeiro nome em que pensei para produzir o tema foi o Krayy, eu sabia que ele tinha a sensibilidade e o bom gosto, e acabou por o adornar de forma espectacular, gostei logo na primeira vez em que o ouvi.


[“Lá de Baixo”]

Já tinha este tema fechado com o Krayy quando decidi que tinha que ter uma referência do Norte. Neste caso só retribui um convite honroso que me foi feito há alguns anos, quando o Fuse me convidou para entrar no álbum Caixa de Pandora. É um tema cru e que vai lá abaixo ao fundo das questões, o Krayy e o Fuse foram duas consciências que encaixaram perfeitamente com barras afiadas e inteligentes e tornaram este tema importante para mim. É uma honra.


[“Gri to the Locks”]

Posso assumir talvez que esta é a minha praia, onde a maioria das pessoas que segue o meu trabalho está habituada a ouvir-me. Um boom bap dinâmico que me dá liberdade para me divertir nas minhas próprias palavras. Uma letra de afirmação, do esforço e mérito dos meus 12 anos de trabalho e música. Onde claramente assumo que agradeço todas as felicitações que sempre recebi, mas que enquanto artistas precisamos de muito mais do que isso, de apoio monetário, seja nos concertos ou por outros meios, assim como as partilhas dos temas.


[“Orixás”]

No segundo drumless do projecto, também convidei dois nomes que imaginei desde logo, Kulpado e Sanryse, que não desiludiram neste ritual. Uma curiosidade deste tema é que tinha um quarto elemento que infelizmente acabou por não ficar no resultado final, o Beware Jack. Mas fiz questão de manter um verso que tinha com ele de forma a deixar também uma menção ao artista: “Só lido com gente líder, liga o Jack ao Beware”.


[“Sol em Tempestade”]

Como o nome reflecte, esta música fala de como muitas vezes somos o Sol por entre várias tempestades. Não nos devemos acobardar da chuva de erros e medos, não devemos deixar de tentar brilhar nos dias mais nublados. Por vários momentos, sozinhos mas nunca sós.


https://youtu.be/n0RMWVWquzc

[“Mira Zoo”]

Este tema despertou todo o resto do álbum. Foi o primeiro a ser gravado, estávamos em estúdio todos no mesmo dia e decidimos gravar uma música que reflectisse esse dia e encontro de rappers. Afinal de contas, eram algumas das minhas primeiras referências da zona e tinha acabado de receber a bênção deles como geração mais nova. O grupo Swymmers MCs, onde conto com Psycho, AB e Sandrayme, e o Sanryse. Foi também uma homenagem ao Miratejo e ao Laranjeiro e a todo o rap que se respirava nessa altura no Bronx e nos nossos bairros. O próprio título e refrão são uma referência à faixa “Brooklyn Zoo”, do Ol’ Dirty Bastard. O Celso Évora acabou por abrilhantar a faixa com algumas back vocals.


[“Montanhas”]

Aqui podemos testemunhar como o projecto já tem algum tempo, no verso “com 32 ainda me sinto num preâmbulo”, quando actualmente já tenho 34, feitos a 2 de Janeiro. É sobre aceitarmos mais que a vida são montanhas e não uma constante subida. Não estamos sempre no topo, nem tão pouco na mó de baixo. Aceitar as mudanças constantes da natureza, que não é linear. E quando chego ao topo da minha montanha, foi passo a passo com os meus próprios pés.


[“Metamorfose”]

Esta colaboração tinha de acontecer, foi a última a ser gravada e produzida mas das primeiras a ser pensadas. O Fizz foi quem me inspirou para começar a rimar. Andávamos ambos bastante ocupados mas sempre em contacto e acabou por acontecer, escusado será dizer que esta participação é também uma honra. Falamos de aceitar e reflectir sobre as mudanças que a vida nos trouxe, em como perdemos umas coisas para transformar outras.


[“Tocha”]

Como devemos elevar a nossa tocha, manter o nosso caminho. Com percalços e adversidades, prós ou contras, precisamos de continuar o nosso objectivo, sem vergonha do que representamos e defendemos, ascender ao nosso lugar e manter a chama acesa. Um dos versos que representa bem este tema é: “Sofri sem testemunhas, as alcunhas são só minhas. Subi sem cunhas e sem agulhas cozi linhas”.


[“Açaime”]

Um tema semelhante ao “Gri to the Locks”, onde me sinto completamente em casa. Uma colaboração que já tinha acontecido várias vezes, com o Bdjoy, que veio deixar o seu carisma no refrão. Tirámos o açaime que talvez alguns nos queiram colocar e não deixámos nada por dizer, barras livres de julgamentos como refere o verso “Amor é cego porque nenhum de nós é santo”.


[“Matéria Extinta”]

Sempre se falou da nova escola e velha escola, mas eu sinto que chegou a uma altura em que não me sabia enquadrar porque teria de haver uma “meia escola”, então para mim o que sempre importou foi a matéria ou o conteúdo. O que eras e o que fazias com o rap que pregavas. Chamei o TNT, mais uma influência de Almada, que de forma exímia passou no teste sem erros, e o BSkilla para completar a aula. Além de rapper, é uma grande inspiração enquanto bboy e pessoa, alguém que me tem apoiado muito, assim como o TNT.


[“Trópicos”]

Tinha alguns nomes do Sul com quem queria e ainda hei-de colaborar, mas um nome da minha geração que queria convidar era o Subtil, por representar uma grande resiliência e lealdade à sua essência, sempre muito verdadeiro nas palavras que nos traz. Foi nos trópicos do sul que partilhámos o nosso feeling, porque é muito para morrer connosco só.


[“Rosa no Cimento”]

Acho que é uma retrospectiva de mim para comigo próprio. A questão da rosa no cimento representa muito da minha personalidade, inconformado ou inquieto, assim como vejo a natureza quando perfura o cimento ou o betão. Dos 14 temas, é talvez o mais pessoal e íntimo. O instrumental em si já dizia tanto também que não encaixei nenhum refrão e preferi deixá-lo respirar por si só. O Kra Z Mic adicionou uma co-produção que tornou-o ainda mais interessante.


[“Nativo”]

Algumas quadras que estavam soltas e um instrumental que não queria deixar perdido, teve várias transformações mas acabei por o deixar quase como um interlúdio. É um tributo também a todo o breakdance, porque é para lá que a música no geral me leva. Espero que possa contar com alguns bboys e bgirls para o tocar ao vivo. Tem também a co-produção de Kra Z Mic.


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