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Publicado a: 02/02/2016

#ReBPlaylist: Janeiro 2016

Publicado a: 02/02/2016

[FOTO] Direitos Reservados

 

A primeira playlist do ano oferece uma viagem a Los Angeles. Sem festas com Kanye West, mas Freddie Gibbs apresenta-se como anfitrião. Para os lados de Compton, Anderson .Paak continua a somar seguidores e até o Dr. Dre o recrutou recentemente para a Aftermath.

Se a partida é de Lisboa, há várias escalas rumo ao oeste norte-americano. Paragem em Bristol para escutar a nova dos Massive Attack, seguindo-se visita rápida a Toronto onde Drake anda à procura de vingança. Nova Iorque também está no mapa com Torae e um showreel da Letter Racer.

 


https://www.youtube.com/watch?v=3PI5fn05Pzg

 

[FREDDIE GIBBS] “Cocaine Parties in L.A.”

É nestas cenas que um gajo sente que está a envelhecer. Ainda andava eu às voltas com “No More Parties in L.A.”, a fabulosa faixa que pôs meio mundo a salivar por SWISH WAVES, quando recebo no meu feed este “Cocaine Parties in L.A.”. Como é que o mano se atreve? Na mesma semana em que todas as atenções estavam viradas para o regresso de Kanye, Freddie Gibbs rapta o loop de Madlib e resolve cuspir-lhe em cima i) uma masterclass sobre como cortar a cocaína, ii) um relato de tiroteios na Big Apple, iii) uma tomada de posição sobre as polémicas do #RacialDraft e dos #OscarsSoWhite e ainda iv) umas valentes farpas dirigidas às atrizes afro-americanas Raven Simon e Stacey Dash (belo tour-de-force que lhe permite igualmente elogiar a obra de West, ou não fosse Dash a protagonista do vídeo de “All Falls Down”). Apesar de a coisa ter, muito provavelmente, dado para o torto (Gibbs retirou o tema do SoundScloud poucos dias depois), o mérito da empreitada não se limita a demonstrar que Gibbs os tem no sítio. Da mesma forma que não me custa admitir que West e Lamar têm os melhores versos, é inegável que o flow de Gibbs é, dos três, o que melhor se enrola em torno do loop de Madlib. Coisa que, de resto, apenas espantará os infiéis que jamais ouviram Piñata. Antes que seja tarde, faxavor de descarregarem a faixa aqui.

– João Pedro da Costa


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[DRAKE] “Summer Sixteen”

Looking for revenge” diz Drake, logo a abrir, para que não haja confusões. Beat com assinatura colectiva – Noah “40” Shebib e Boi-1da têm por lá o dedo e o sample é do enorme Brian Bennett, um tema de library incluído num clássico da KPM – que soa dark como uma criação de Carpenter para um slasher qualquer dos anos 80. E depois há o rapper canadiano a mandar recados, a comparar piscinas e a inspirar uma resposta quase imediata de Meek Mill que diz que já conhecia o conteúdo do tema porque o ghostwriter de Drake lhe revelou a letra antes do tema sair. A verdade é provavelmente menos engraçada (um rolo de notas de 100 entregue a um estagiário do estúdio?), mas não há como não ficar preso na ponta da cadeira: estes beefs da idade da internet são melhores do que qualquer novela mexicana e, sobretudo, têm muito melhores bandas sonoras!

Para escutar aqui.

– Rui Miguel Abreu

 


 

[KANYE WEST FEAT. KENDRICK LAMAR] “No More Parties in L.A.”

O triunvirato maravilha a brilhar em WAVES. Kanye West está pronto para soltar mais um álbum e as imagens que têm surgido na blogosfera mostram “No More Parties in L.A.” entre a lista final. Madlib dá-nos um beat que tem um sabor clássico a destilar My Beautiful Dark Twisted Fantasy e até “pica” um sample de Larry Graham, tio de Drake. Kendrick Lamar fecha o trio e continua a demonstrar o porquê de ser actualmente o melhor no jogo: a sua presença, apesar de curta, traz versos que mostram o quão forte tecnicamente está.

– Alexandre Ribeiro

 


 

[MASSIVE ATTACK] “Take It There”
(Ritual Spirit, Virgin)

Um hiato de seis anos que não podia ter sido interrompido da melhor forma. Os Massive Attack, dupla pioneira do trip hop de Bristol, lançaram este mês “Take It There”, single do recente Ritual Spirit EP de 3D e Tricky, com a mais valia que é a participação do experiente Roots Manuva. “Take It There” é recuar à década de 90 e recordar as infusões que projectaram a criatividade do underground britânico para os holofotes de um novo mundo sonoro. O vanguardista Blue Lines nasceu há 25 anos, mas as teclas continuam sincronizadas com a batida, a voz cansada e gasta num processo de hipnotismo e o videoclipe a narrar um delírio em decadência, como sempre nos habituou a dupla Massive.

– Sidónio Teixeira

 


 

[TORAE FEAT. MACK WILDS] “Troubled Times”
(Entitled, Internal Affairs)

Torae anda por aí há alguns anos e várias vezes tem espreitado a oportunidade de ascender à muito disputada (ainda que imaginária) primeira divisão do hip hop. É difícil ditar posições num campeonato tão incerto e complexo, porém o MC de Coney Island, Nova Iorque, já fez certamente o suficiente para alcançar um estatuto superior ao que tem. Algumas das suas faixas foram inclusivamente produzidas por gigantes como Pete Rock ou DJ Premier. O seu mais recente longa-duração, Entitled, não é sequer o mais equilibrado dos discos – muito por causa de algumas faixas redundantes -, mas tudo resulta maravilhosamente no ponto alto que é “Troubled Times”. Com um beat vencedor e uma fortíssima presença soul assegurada pela voz de Mack Wilds, “Troubled Times” fica pouco aquém de ser uma mistura milagrosa que pede para ser escutada com phones. Aqui Torae soa muito próximo de um Common, na fase de perfeito esclarecimento que o levou ao excepcional álbum Be. “Troubled Times” dá uma dentada no feeling nova-iorquino de Nas (e num dos seus mais famosos samples) e outra na totalmente reconhecível “Here Comes the Hotstepper“, de Ini Kamoze, e é assim que se vai transformando numa faixa tão preciosa quanto viciante.

– Miguel Arsénio

 


 

[ANDERSON .PAAK FEAT. THE GAME] “Room In Here”
(Malib, OBE/Steel Wool Records)

“Room in Here” talvez nem seja a melhor canção de Malibu, mas é a mais orelhuda e a que mais rapidamente se me colou ao coração enquanto escutava aquele que é já, em Janeiro, candidato a um dos álbuns do ano, algo que a imprensa em geral obviamente não reconhecerá, forçada que está a acompanhar os sound bites, por mais ocos e desinteressantes que sejam (os pares de Adidas que vendi, os óculos de sol que a minha mulher se dá ao luxo de perder, etc.), de Kanye West, Pusha T e afins (chegam a ser admiráveis as cambalhotas que os críticos fazem para elogiar ou, pelo menos, não depreciar uma canção como “FACTS”, um arrazoado patético sobre estatísticas que só interessam ao umbigo do seu autor – e digo isto com o disclaimer de que Kanye é e será sempre um dos meu rappers preferidos por tudo o que fez até 2010 inclusive e por algumas coisas, poucas, depois disso). Anderson .Paak é uma das melhores coisas que aconteceu ao hip hop nos últimos anos, condensando em si toda a tradição da música negra (do rap aos blues, da neo-soul ao R&B), mas também o rock e uma apurada sensibilidade pop (ecos do Underneath the Pine dos Toro y Moi), artista dono de uma voz tão melodiosa na canção quanto inteligente e ágil no rap, bem assim temperada por uma rouquidão muito, muito sedutora (por vezes a fazer lembrar o próprio Kendrick Lamar). Não satisfeito, .Paak é o letrista de todas as suas canções, e, contra aqueles que minimizam a importância da autoria letrista no hip hop, importa lembrar que o busílis da questão não está na “autenticidade” que essa autoria confere ou não, mas, bem mais importante, numa coisa bastante simples chamada talento e no papel fundamental que a letra (“barras”, na gíria própria do meio) teve desde sempre no hip hop enquanto expressão do indivíduo e sua singularidade (muitíssimo mais que tem noutros géneros, obviamente: a questão nem se põe no fado, por exemplo, onde é absolutamente normal e bem-vista a interpretação de poemas de terceiros). Drake e Dr. Dre (e como eu gosto deles) até poderão continuar a ser excelentes rappers, mas ninguém me consegue vender a ideia de que o facto de não serem eles, afinal, os autores daquilo que dizem e supostamente pensam – e que milhões de fãs reproduzem há uma data de anos (às vezes até como lemas de vida!), associando citações aos seus ídolos e à sua (pretensa) personalidade – não menoriza o seu trabalho. Voltando a “Room in Here”, as partes distintas de .Paak e de The Game operam uma curiosa divisão interna na canção: na primeira, o tom é mais abstracto, poético; na segunda, Game é raw como de costume, como se traduzindo em termos mais simples o que estava latente nos versos de .Paak. Em comum, a vontade de conquistar a mulher amada, de a convencer que há room (e o termo vale, aqui, quer como “espaço”, quer em termos mais literais…) para ela, de que basta ela querer… “Face like Mona Lisa / I’m just tryna be the wall to hang on…

– Francisco Noronha

 


 

 

[LETTER RACER] “Market”

Nova Iorque está cinzenta. A malta pega no skate, queima os rolamentos no asfalto, vence os obstáculos. Wiki cospe umas rimas com a Chinatown em pano de fundo. Dev Hynes, com uma voz em tom decadente, num hook básico sobre complexidades e stresses da vida enquanto rola um dreamy trip hop. E Sporting Life a demonstrar skills no beatmaking em “Aloha” de 55’5s. Todo o vídeo é banhado a granulados e desfocos VHS. É a city life nova iorquina pelo olhar da geração que nela cresceu e que, acima de tudo, luta pela preservação da cultura criativa e urbana da Big Apple em épocas de gentrificação. Mais do que uma faixa, “Market” é um medley do colectivo Letter Racer, que também é editora, onde se incluem os membros dos Ratking e uma série de outros artistas da periferia de Manhattan. Vale pelo todo, porque o audiovisual é de um corte e costura raro nos dias de hoje.

– Ricardo Miguel Vieira

 

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