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Publicado a: 27/01/2017

Os Injury Reserve faltaram às aulas (mas isso não os impediu de serem os melhores alunos)

Publicado a: 27/01/2017

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

 

Why Aren’t We Paying More Attention to Injury Reserve?” foi o princípio do fim. Bem, o fim do total desconhecimento sobre os Injury Reserve com a ajuda do sempre audacioso DJ Booth. É possivelmente um dos melhores álbuns de 2016 a ter escapado ao radar… Vem tarde? Sim, mas nada como atirarmos isso para trás das costas e metermos mãos ao trabalho.

 



Arizona é o sítio, Arizona é o berço. A cultura rap no estado do sudoeste dos Estados Unidos da América é escassa, mas o trio-maravilha promete abalar as coisas. Passemos às apresentações: Steppa J. Groggs, Ritchie With a T e Parker Corey são os membros dos Injury Reserve. Os dois primeiros tratam das rimas e o último é o responsável pelas produções – e que produções! Há um mês, num Q&A no Reddit, o trio relevava que os seus artistas favoritos na actualidade eram Young Thug, 21 Savage, Danny Brown, Kendrick Lamar e Joey Purp. Mais tarde, citaram Outkast, A Tribe Called Quest, Neptunes, Clipse e The Cool Kids como referências fulcrais na construção do seu som.

Quanto à discografia, Floss é o sucessor de Live from the Dentist Office, o álbum de estreia que recolheu alguns louros – Anthony Fantano, o famoso YouTuber que faz crítica de discos, escolheu-o para a sua lista de melhores trabalhos de 2015. No ano anterior, o grupo tinha-se estreado com o EP Cooler Colors – que foi depois retirado de circulação.

 



É difícil explicar o quão bom é o segundo álbum do grupo, mas comecemos pelas referências – a maneira mais fácil de localizarmos sonicamente: imaginem os Clipse e Waka Flocka Flame com o El-P e o Killer Mike como ghostwriters em beats de Neptunes, Madlib (“S on Ya Chest” tem um final a la Quasimoto). Metam mais Travis Scott (“Back Then”) e encontram-se no meio de mil mundos. Confusos? Esperemos que sim. “Oh Shit”, “All This Money” e “What’s Goodies” (participação incrível de Cakes da Killa) são bangers que, claramente, fazem falta a qualquer festa de hip hop no Cais do Sodré. Vic Mensa também é convidado e acrescenta valor numa faixa reminiscente de “Real Friends” do inevitável Yeezy.

Voltando às referências que enumeramos mais acima, os Neptunes e os Clipse são indissociáveis de Floss. “Bad Boys 3” tem drums com Pharrell Williams tatuado por todo o corpo… O bragadoccio impregnado por todas as faixas é a melhor homenagem a Pusha T. Se o hip hop fosse uma escola, os três artistas seriam alunos geniais e rebeldes que facilmente se aborreceriam com a matéria dada na sala de aula e procurariam o seu caminho noutros sítios. E até são eles que o dizem em “Oh Shit”: “This ain’t jazz rap, this that this that spazz rap / This that raised by the internet, ain’t had no dad rap”.

 


https://www.youtube.com/watch?v=TLpAJPoIviI


Sinceramente, era difícil imaginar que existiria no panorama actual um duo de rappers capaz de ficar cara-a-cara com os Run The Jewels. A veterania dos homens das jóias, as idiossincrasias e a sapiência que carregam nos 40 anos de idade trazem-lhes mais-valias que são difíceis de igualar, mas estamos a falar de jovens que o fazem com destreza elevada e argúcia de quem não tem nada a perder. Escondam a joalharia, El e Mike.

Tantos nomes apontados para explicar o talento de Injury Reserve não é um despropósito: as qualidades deles estão cada vez mais cristalizadas e facilmente irão criar o seu espaço e sonoridade própria de disco para disco. A audição de Floss é obrigatória: exercícios de liricismo formidável em cima de produções de alto quilate. Depois disto é caso para dizer: Porque é que ainda não prestaram atenção ao trio em 2017?

 


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