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Publicado a: 30/01/2017

Mundo Segundo no Musicbox: Palavras e Movimento

Publicado a: 30/01/2017

[TEXTO] Manuel Rodrigues [FOTO] Deck97

 

A história de sexta-feira à noite, pelos olhos da pessoa que está a escrever estas palavras, não começa da melhor forma. Uma confusão com o horário do início do concerto levou a que tivesse perdido uma boa parte do que aconteceu no Musicbox. Ainda assim, à imagem de todas as histórias que têm como principais protagonistas artistas com o calibre de Mundo Segundo, esta tem um final feliz. Por isso, não atirem já a primeira pedra e aceitem as nossas sinceras desculpas.

A entrada no Musicbox dá-se ao som de “Raio de Luz”, canção de Segundo o Ancião. O que ficou para trás não sabemos, mas o que se vive neste preciso momento é digno de um quadro pintado à mão. Ambiente ao rubro, certamente deixado em ebulição pelas primeiras músicas do alinhamento, com a moldura humana – que encheu por completo o espaço, deixando algumas pessoas à porta por entrar – de braço no ar a acompanhar o refrão de NBC, que, infelizmente, não pôde marcar presença. O meio metro quadrado aqui é precioso, há quem lute por ele de modo desenfreado para poder pedir uma cerveja ou fumar um cigarro. Meus caros, nunca a expressão “à pinha” fez tanto sentido.

 


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“Aquele ali é o Mundo, o verdadeiro, o maestro, já fazia instrumentais ainda tu eras um feto”. A rima é de Fuse e pode ser encontrada no clássico “O Começo” – que data dos tempos em que os Dealema davam as suas primeiras passadas – e vai ao encontro da heterogeneidade da plateia, que se divide por várias idades. Aqui há espaço para a velha guarda e para os novos discípulos, o que comprova que a obra de Mundo Segundo não ficou presa numa geração apenas e procurou ter sempre uma palavra de luta e esperança junto do público mais novo.

Aquele ali no palco é Mundo, o ancião, profeta da palavra e notável arquitecto instrumental. A barba farta não é só estilo ou imagem de marca, pode também metaforizar a sua experiência enquanto praticante da cultura. Imaginemos um mundo de fantasia em que a barba crescesse em função da sapiência. Mundo seria o professor; e nós, plateia de cara lisa, os seus alunos. Não sendo assim tão linear, a verdade é que, analisando o que nos rodeia, há quem saiba os ensinamentos de Mundo Segundo na ponta da língua, do mais badalado refrão à rima mais profunda.

 


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No palco, a ladear e a dar apoio ao anfitrião da noite, estão Maze e Macaia. À retaguarda, a garantir a componente instrumental, Guze. Na projecção vídeo é possível vislumbrar uma personagem de espada erguida com as palavras “Sempre Grato”. Este guerreiro, chamemos-lhe assim, não procura derramar sangue, muito menos conquistar o trono de uma das mais mediáticas séries dos tempos que correm. Este guerreiro, que forjou a sua arma nos valores que podemos dissecar no tema de abertura do seu novo EP, tem como principal missão espalhar uma mensagem de paz, união e harmonia. Esse guerreiro é Mundo Segundo, e é por ele que aqui estamos hoje.

Segue-se “Não Há Competição”, a única música do EP que conseguimos presenciar, isto antes de “Bom Dia” e “Escola dos 90” nos levarem por uma viagem pelo repertório mais recente do colectivo dealemático, com Maze a cantar as suas respectivas partes (ele é o “rei do vocabulário”, aquele que te fez “juntar dinheiro para comprar um dicionário”, segundo Fuse em “O Começo). A aceitação é unânime e não há quem não acompanhe a letra. Nos entretantos, Mundo manda uma palavra de agradecimento aos que ficaram lá fora e não conseguiram entrar, dada a lotação da sala. “Se algum deles for vosso amigo ou conhecido, digam-lhe que havemos de voltar”, garante o rapper.

O dom da palavra é um dos maiores atributos de Mundo Segundo, mas há outra mais valia que lhe é inata e que se torna quase hipnotizante, a linguagem gestual. E é em “Era Uma Vez”, canção que teve direito a luzes apagadas e isqueiros no ar, que Mundo Segundo melhor evidencia a ligação que tem entre as palavras e os gestos, tornando-os num elemento essencial da narrativa. Se este concerto se tratasse de um filme mudo, sairíamos do Musicbox com a mensagem toda assimilada, dada a eficácia dos movimentos dos seus braços e mãos. Não o sendo, saímos à mesma com a mensagem e a certeza de que Mundo Segundo é dos melhores comunicadores que já pisou este palco. O adeus derradeiro deu-se ao som de “Tu Não Sabes”, hino do álbum em conjunto com Sam The Kid. Para a próxima está prometida uma revisão exaustiva do horário do concerto.

 


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