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Publicado a: 20/10/2017

Diron Animal: “O director da Soundway Records disse que o meu disco era um dos melhores que tinha ouvido este ano”

Publicado a: 20/10/2017

[TEXTO] Hugo Jorge [FOTOS] Direitos Reservados

Diron Animal ganhou vida autónoma e lançou o seu primeiro álbum a solo. Alone está nas lojas desde o passado dia 13, em CD e vinil, e com selo de aprovação Soundway Records.

O disco é um one man show conduzido por Diron, que assume produção, instrumentais, letras e até o design da capa do álbum. Alone lê-se, assim, de forma literal. “Foi a ambição de produzir algo meu, só meu”, explicou o músico em conversa com o Rimas e Batidas.

E é fácil de encontrar o cunho de Diron num disco que celebra canta o gueto como a metrópole, não fosse ele o resultado das muitas viagens que o vocalista dos Throes + The Shine fez pela Europa fora mas também em África.

Para dia 28 deste mês está marcada a apresentação oficial de Alone em Lisboa, onde todos os caminhos irão dar à Casa Independente. “Quero mostrar o animal que há em mim e partir tudo!”, promessa do próprio Diron.

 


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Antes de mais, estou curioso para perceber como chegaste ao nome Diron Animal, até porque quando o projecto a solo começou eras Diron Shine. Queres explicar?

‘Tava à procura de um nome para complementar o Diron. Fazia todo o sentido ser Diron Shine porque muita gente já me tratava assim. Mas a verdade é que também havia quem me tratasse por animal. No final dos concertos vinham ter comigo e diziam-me “tu és mesmo um animal”.

O que representa esse animal?

Atitude, atitude! Lembro-me de uma tour de duas semanas na França e Holanda onde toda a gente estava a tratar-me por “animal”. Quando voltei a casa percebi que fazia sentido ser esse o nome. Além disso, sou um animal de palco, dizem.

Alone, o teu primeiro álbum, está cá fora. É um projecto só teu, da produção aos instrumentais. Querias provar que conseguias fazer tudo sozinho?

Também foi isso. Foi a ambição de produzir algo meu, só meu. Anteriormente gravei coisas só minhas, mas muitas vezes o instrumental era, por exemplo, uma co-produção. Neste disco pensei em fazer uma coisa em que todo o input fosse meu. No fim, já com o álbum todo produzido, pensei em regravar algumas guitarras e baixos. Para esses ajustes contei com a ajuda de alguns músicos, amigos meus, que são do Porto.

Como é que foi vestir a pele de produtor?

Já o tinha feito antes. Mesmo nos Throes + The Shine, durante a fase de produção, estamos sempre juntos dando inputs. Acaba por ser uma produção a três. Mas em Diron Animal é diferente, claro. A dinâmica é outra. Não fui para a sala de ensaio compor. Fui fazendo as músicas em casa, durante as horas livres, consoante me apetecesse. E elas foram aparecendo, as letras, os refrões, os ritmos. Deu-me bastante prazer produzir este disco.

 



Sendo este projecto só teu, o que é que ele diz sobre ti?

Fala muito do gueto eu sou um gajo completamente do gueto. É como eu digo no disco, “saí do gueto mas o gueto não saiu de mim”. Eu já tentei expulsá-lo, mas ele não quer bazar (risos). Parti desta dica engraçada para lançar uma mensagem: estejas onde estiveres, distante de todo o mundo, nunca esqueças as tuas origens, as tuas raízes.

No teu caso, raízes angolanas.

Exacto. Esse disco vive muito do gueto mas apesar disso fui buscar influências de várias partes do mundo. Especialmente da Europa, onde cresci e viajei por boa parte. E aprendi muito, com as outras pessoas e culturas, tanto a nível pessoal como musical. E tudo isso, de certa forma, enriqueceu a produção do disco, desde a escrita à forma como cantei.

Quando estás sujeito a influências tão diferentes, é difícil encontrar um equilíbrio?

Ritmo! É através do ritmo que encontro o equilíbrio. Normalmente, começo a fazer as músicas a partir de um ritmo. Tento não complicar muito e vou ajustando até encontrar o equilíbrio. Mas encontrar uma ligação num disco não é fácil. Lembrei-me agora de uma coisa que ainda não contei em nenhuma entrevista – a primeira ideia era fazer dois discos. Um completamente de electrónica, bem voltado para Major Lazer, e outro mais orgânico.

Desististe porquê?

Até podia resultar, mas dois discos daria sempre muito trabalho. Então acabei pegando músicas de um e outro e fiz uma ligação. Uma das formas de colar tudo foi com guitarra e baixo, que usei em quase todas as músicas.

Há pouco referiste Major Lazer. É curioso, quando ouvi Alone pela primeira vez pensei logo em Buraka.

Buraka é forte, não é? Eu também sou muito forte em palco. E é sempre uma mais valia quando somos comparados a nomes como Buraka. Fico contente até porque gosto muito deles. Mas este disco viaja muito…

Fala-me disso.

Foi todo masterizado pelo DJ Ademar. Queria alguém que fizesse este disco sair da caixa.  No início pensei no Moulinex para misturar, mas não foi possível por falta de tempo. O Ademar, que é meu amigo, também faz música electrónica e é um DJ que acompanha as evoluções do mercado. Ele fez o disco soar muito melhor!

 



O álbum sai por uma editora internacional, a Soundway Records. Faz todo o sentido já que a tua música não tem propriamente uma geografia.

Eu sou um artista internacional, vejo-me assim. A maior parte dos concertos de Throes + The Shine acontecem lá fora – se calhar 80% dos concertos. Então, as grandes connections que tenho também estão lá fora e assim que o disco estava quase terminado a prioridade foi encontrar uma editora estrangeira. Depois da editora, assinei contrato com um manager francês que gere a minha carreira fora de Portugal e, pouco tempo depois, ele arranjou-me um grande deal com uma das maiores agências de França. Basicamente, acredito que vou tocar em todo o lado – e também quero tocar muito em Portugal.

Sei que tiveste a ajuda do Batida no contacto com a Soundway. Como é que tudo aconteceu?

Quando acabei o meu disco pensei em bué opções para lançá-lo, mas as editoras não têm propriamente os contactos na Internet. Tentei uma primeira editora, mas o processo estava lento e desisti. Então sugeriram-me a Soundway Records, que eu até aí nem conhecia, e o Batida apareceu no momento em que precisei de uma connection para falar com eles. O Pedro é meu amigo, ouviu o disco, curtiu e passou à editora. Um dia e meio depois tinha uma mensagem no telemóvel do director da Soundway Records dizendo que o meu disco era um dos melhores que tinha ouvido este ano e queria falar comigo com urgência. Em um ano assinámos contrato e o álbum acaba de sair, em todo o mundo, em CD e vinil.

Tens apenas uma colaboração no álbum, com o sul-africano Spoek Mathambo. Porque é que não chamaste mais ninguém?

Não queria ter muitas participações. Sobre o Spoek Mathambo, conheci-o no Musicbox, onde abrimos para ele. No final do concerto, veio ter comigo e disse que tinha gostado muito de nós, sobretudo da minha energia. Lembro-me até de ele perguntar o que eu consumia – não foi Red Bull nem outra coisa, só água mesmo. Ficou combinado fazermos uma música juntos o que, por alguma razão, acabou por não acontecer. Agora ao fazer este disco, pensei em convidá-lo. Tinha uma música fixe para a voz dele, mandei-lhe um beat e no dia seguinte estava a receber as pistas.

Em que prateleira das lojas de música esperas encontrar o teu álbum?

Talvez na de pop alternativo ou electrónica, mas para a minha música é preciso criar uma nova catalogação.

Estás a criar algo novo?

No meu CD devia estar escrito “música para as pessoas mesmo ouvirem” (risos). Falando mais a sério, ya, eu sempre gostei de fazer coisas diferentes. Em relação a este disco, fiz um estudo de mercado. Isto é, ao produzir uma música fui buscar um bocado de influência ao que as pessoas estão agora a consumir. Alguns chamam a essas tendências de azeite ou comercial, mas para mim isso não existe. Toda a música tem um lado bom, algo para aproveitar. Claro, depois dou o meu toque e posso carregar uma só música com “n” influências.

Escreves letras, cantas, danças, és produtor, ícone de moda… Sentes que estás a ganhar uma dimensão de referência cultural, alguém que inspira os outros a seguir o mesmo caminho?

Sim, hoje em dia os músicos são uma série de coisas ao mesmo tempo: designers, artistas, autores, tanta coisa. Olho para mim e vejo isso. Produzo a minha música, faço os meus vídeos, adapto as minhas roupas, até a capa do disco foi feita por mim. E fico contente se inspirar outras pessoas a fazer coisas. Espero que não me imitem e se isso acontecer é sinal que preciso de evoluir. Não para ser superior, mas para marcar uma diferença. Só assim me sinto bem.

 


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