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Publicado a: 16/11/2016

5 coisas que aprendemos com a entrevista de Frank Ocean ao New York Times

Publicado a: 16/11/2016

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Direitos Reservados

 

Poucos se movem tão misteriosamente na esfera pop como Frank Ocean o faz. Emergiu das sombras durante o lançamento de Endless, Blonde e da revista/objecto de arte Boys Don’t Cry e rapidamente voltou para a sua “cave” de onde não mais saiu. Até hoje. Frank deu uma raríssima entrevista ao New York Times e proporcionou ao mundo a oportunidade de perceber o que se passa na cabeça do fantástico artista que moldou através de Channel Orange – e agora Blonde – a forma como olhamos para a música pop, r&B, soul ou hip hop.

Jon Caramanica foi o enviado para essa viagem à cabeça do cantor/produtor de New Orleans e criou um retrato pós-Blonde para os mais curiosos. O Rimas e Batidas encontrou 5 pontos de destaque nesta rara aparição do ex-Odd Future.

 


 

[SUPER CONTROLADOR E PERFECCIONISTA NO SEU TRABALHO]

Pode parecer uma tarefa impossível – existem sempre fugas de informação mesmo nos artistas mais reservados -, mas Ocean consegue manter um perímetro de segurança durante os seus processos de criação. “Eu prefiro que o avião caia em chamas e as drives venham comigo do que alguém faça um álbum póstumo esquisito”, contou a Caramanica.

Quanto ao perfeccionismo, o músico tentou encontrar para cada canção a sua verdadeira pele: “Quando eu estava a fazer o álbum, existiam 50 versões de “White Ferrari”. Eu tenho um irmão de 15 anos, e ele ouviu uma das versões, e disse-me, ‘Tu vais pôr essa cá fora, essa é a tal.’ E eu fiquei tipo, ‘Não, essa não é a versão’, porque não me tinha dado paz ainda.”

 


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[UM ÁLBUM MAIS PESSOAL QUE CHANNEL ORANGE]

Um bloqueio criativo de um ano obrigou-o a voltar às origens e rever a forma como escrevia canções. Quis torná-las mais pessoais – isso é possível? – do que em Channel Orange – que escreveu em apenas duas semanas – e recorreu a histórias da sua infância para criar Blonde. “Self Control” é um exemplo dessa nova abordagem: “Essa foi escrita sobre alguém com quem eu tive um relacionamento – não era uma situação de amor não-correspondido. Era mútuo, mas não nos conseguíamos realmente identificar. Não estávamos na mesma onda.”

Noutro exemplo, contou a Caramanica que modificou a voz para parecer mais novo e servir “Ivy” de forma mais adequada: “Às vezes sinto que vocês não estão a ouvir as versões de mim que estão dentro de uma canção, porque existe muito pensamento hiper-activo. Mesmo que a velocidade do álbum não seja frenética, o monte de ideias lá presentes é.”

Ocean quer contar histórias sem definir um ponto-de-vista único – existem por vezes mais do que dois – e torna tudo mais complexo do que possa parecer numa primeira leitura mais leve: “Essa foi a minha versão de colagem ou bricolage. A forma como experienciamos memórias não é sempre linear. Nós não estamos a contar a história a nós mesmos, nós sabemos a história. Nós estamos apenas a vê-las em flashes sobrepostos.”

 


[A VISÃO DOS GRAMMYS]

Frank Ocean sente que os músicos negros não são devidamente valorizados nos Grammys, um sentimento muito semelhante aos actores, realizadores e outros profissionais do cinema tiveram em relação à Academia durante a edição de 2016 dos Óscares.

Mesmo tendo dois Grammys ganhos em 2013, Frank falou sobre o que não gosta nos prémios: “A instituição tem importância nostálgica. Só não me parece representar muito bem as pessoas que vêm de onde eu venho e preservar o que eu preservo”, demonstrando mais à frente que não quer mesmo receber o prémio. “Eu prefiro que este seja o meu momento Colin Kaepernick para os Grammys do que sentar-me lá na audiência.”

 


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[O CONTRATO COM A DEF JAM]

“Um jogo de xadrez que durou sete anos” é a maneira que Ocean descreve o relacionamento com a editora ao New York Times. A ligação entre as partes terminou com Endless, álbum visual, e tornou possível lançar Blonde com selo independente, apenas dois dias depois da edição do primeiro. O novo trabalho foi uma vitória em grande: “Com este trabalho em especial, eu quis sentir que tinha ganho antes do álbum sair, e foi o que fiz, e assim tirou muita da pressão sobre mim em relação à forma como o álbum seria recebido depois disso.”

 


[UM DOS MELHORES NO MUNDO NO QUE FAZ]

A música desde Channel Orange tem sido um passeio de fama e talento para Frank Ocean, trazendo-nos dois álbuns brilhantes e uma reclusão social que aguçou o apetite a todos os fãs, críticos e curiosos. Na entrevista ao New York Times, o cantor revela que o caminho deverá ser outro daqui para a frente: “Eu acredito que sou um dos melhores no mundo naquilo que faço e isso é tudo o que eu sempre quis ser. É mais interessante para mim perceber como ser melhor em áreas onde sou ingénuo, onde sou um principiante.”

 


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