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Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 15/11/2020

A primeira vez na pista.

YAKUZA no Núcleo A70: energia no máximo

Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 15/11/2020

Lisboa não é a nova Londres, nem o jazz português é o novo jazz londrino, e, deixe-se claro, os YAKUZA não estão a perpetuar nenhuma destas narrativas (mesmo que do público se tenha gritado, logo ao segundo tema, por um tal de Kamaal…). No entanto, e depois da apresentação de AILERON no Núcleo A70, em Lisboa, na passada sexta-feira, 13 de Novembro, dá vontade de atribuir-lhes a responsabilidade de assumirem-se como porta-vozes nacionais de um novo movimento que traz essa energia particular (que, em condições normais, poderia ser uma aproximação disto).

“Quem é que aqui tinha saudades de concertos?” Pouco depois das 21 horas, e já com a sala a compor-se (os bilhetes esgotaram uns dias antes), e ainda a banda não tinha aparecido, um dos elementos da plateia — que acabou sem t-shirt ao lado do palco — decidiu quebrar o gelo e, qual Betão disfarçado, começou a animar o aglomerado de pessoas que tinham posto a sua melhor máscara, e não falamos em sentido figurado, como podem imaginar, para uma noite com final anunciado para as 23 horas. Apesar da pergunta inusitada ter gerado mais risos do que respostas, o pós-espectáculo trouxe uma em concreto: nem é a falta de concertos — até porque continuam a acontecer –, são os moldes em que têm acontecido. E o som deste trio (que foi quarteto e até quinteto em alturas diferentes da prestação) necessita que se mande as cadeiras para o mais longe possível e que a aproximação do público atinja os níveis Boiler Room.

Com direito a músicas novas e derivações nos temas acabados de editar no seu álbum de estreia, André Santos (no baixo), Alexandre Moniz (na bateria) e Afonso Serro (nas teclas) não se fizeram rogados na hora de mostrar credenciais. E o virtuosismo do teclista — que não parou de carburar entre teclados –, o músculo e o groove do baixista — provas dadas ao vivo e lustro puxado em “TUNING” — e a assertividade do baterista (que também serviu de host) só ganharam, e nem precisavam, à partida, com as entradas do saxofonista Zé Miguel Zambujo e do guitarrista Pedro Ferreira. Os dois músicos acrescentaram importantes camadas aos cenários criados por Serro, tornando o som maior e mais colorido — no primeiro momento em que a guitarra entrou, foi como se tivéssemos acabado de assistir a uma explosão de cores. Um episódio sinestésico forçado pela força da música.

Em termos da decoração, para além da placa onde se lia “YAKUZA” e do gatinho da sorte — ambos derrubados logo no início por culpa das ondas sonoras –, houve ainda o contributo de João Figueiras (aka fig.gif), que acrescentou outra dimensão visual com o controlo do vídeo que esteve a ser projecto atrás da banda. Sem carros, só quando se ouviu “TUNING”, mas com efeitos visuais a puxar o psicadélico, em certas alturas.

Não restavam muitas dúvidas depois de se ouvir o disco, mas agora é garantido: isto é jazz moderno (no som e na indumentária) de pista de dança, alimento de swing contínuo que só ganhará com corpos suados, luzes baixas e proximidade.


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